O que é Estoicismo? Essa vertente filosófica permanece viva até os nossos dias.
“Tudo que suas estações produzem, ó Natureza, é fruto para mim”. Faça sol ou faça chuva, na abundância ou na seca, um verdadeiro sábio estoico não deve se perturbar, deve antes conformar-se e se concentrar em seus poderes. Afinal, o que é Estoicismo? Será realmente a indiferença na vida?
Hoje, a popularidade do Estoicismo deve-se aos ensinamentos éticos voltados para a prática diária, simples de serem entendidos e aplicados.
O que você vai encontrar neste artigo?
- O que é Estoicismo?
- Resumo do Estoicismo
- Qual o significado de Estoicismo?
- História e origem do Estoicismo
- Principais filósofos estoicos
- Principais características do Estoicismo
- Filosofia estoica para a vida
- Diferença entre Epicurismo e Estoicismo
- Livros sobre o Estoicismo
- Estoicismo nos dias de hoje
- Como podemos ser felizes no Estoicismo?
- Estoicismo e cristianismo
O que é Estoicismo?
O Estoicismo é uma corrente filosófica do helenismo, e está entre as mais influentes na Antiguidade. Trata-se de uma filosofia voltada para a prática. Originou-se na Grécia aproximadamente no ano 300 a.C.
O fundador do Estoicismo foi Zenão. Posteriormente, os romanos deram continuidade à filosofia estoica.
O princípio ético que fundamenta a escola estoica envolve a acomodação à natureza. Tendo percebido que a vida sempre frustra os desejos humanos, os estoicos buscaram viver mais conformados à natureza, distanciando-se das coisas superficiais e ilusórias do mundo.
A filosofia, nesse caso, é também uma meditação sobre a morte, porque se medita na finitude da existência.
No entanto, o estoico não representa a figura de um deprimido, ele apenas não quer se enganar com as promessas do mundo.
Resumo do Estoicismo
Antes da explicação detalhada dos principais ensinamentos estoicos, um resumo do Estoicismo pode ajudar na compreensão do todo.
Em poucas palavras, o Estoicismo é uma escola de filosofia prática, cujo centro é ter uma boa vida focando apenas no que é possível controlar e deixando de sofrer por aquilo que não está no controle humano.
Os estoicos possuem:
Boa parte do conteúdo estoico é atemporal por ensinar as pessoas a lidar com a adversidade e com as emoções negativas. Além disso, essa filosofia conduz a um melhor conhecimento de si mesmo.
Por causa de sua atemporalidade e por abordar temas presentes na vida de todo ser humano, o Estoicismo continua a ser estudado.
Ao longo deste artigo, as principais características que ajudam a entender o que é Estoicismo serão melhor detalhadas.
Qual o significado de Estoicismo?
Estoicismo deriva do grego, stoa poikile, que significa alpendre pintado, local onde Zenão, o fundador, reunia-se com seus seguidores para discutir suas ideias. Essa é a razão desses pensadores também serem chamados de filósofos do pórtico.
Antes, porém, o Estoicismo era conhecido como Zenozismo, por causa de Zenão. Provavelmente, os estoicos abandonaram esse nome para evitar um culto à personalidade.
Contemporaneamente, “estoico” tornou-se adjetivo para as pessoas indiferentes à dor, prazer, tristeza ou alegria. Na Enciclopédia de Filosofia de Stanford, sobre o Estoicismo, lê-se:
“O sentido do adjetivo inglês estoico não é totalmente enganoso no que diz respeito às suas origens filosóficas”.
Isso é dito, porque a palavra já foi usada como substantivo e como adjetivo, representando pessoas que reprimem seus sentimentos e são resistentes e pacientes.
Principal ideia do Estoicismo
A principal ideia do Estoicismo pode ser assim resumida:
“A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza”
Para eles, a filosofia deve orientar o modo como se vive e não ser apenas um conhecimento teórico. E o modo de viver deve ser conformado com o destino, ou seja, com a natureza.
Dito de outra forma, mais direta:
“A vida deve seguir a natureza”.
Para os estoicos, o mundo é um grande sistema racional que segue uma ordem necessária, onde tudo concorre para uma harmonia maior. É o Logos.
Em alguns casos, isso é chamado de Deus, ou seja, a totalidade da natureza com suas regras.
Cabe ao filósofo harmonizar-se com esse mundo, com essa natureza. O que é chamado de mau é, na verdade, uma inadequação entre a vida e a natureza.
A alma tem que reproduzir em si mesma a harmonia do cosmos, já que não é possível modificá-la.
“Tudo o que está em acordo contigo está em acordo comigo, ó Cosmos! Nada do que, para ti, se dá oportunamente ocorre para mim muito cedo ou muito tarde. Tudo que suas estações produzem, ó Natureza, é fruto para mim.” (Marco Aurélio)
História e origem do Estoicismo
A história do Estoicismo começou com o naufrágio de Zenão de Cítio (atual Lárnaca, na ilha de Chipre), um mercador da região da Fenícia. Foi ele quem criou o Estoicismo. Tudo começou quando em mais uma viagem ele transportava as águas gregas com mercadorias. Afundou quando navegava da Fenícia até Pirei.
Ele perdeu tudo e dependia disso para viver, por isso o acidente foi uma verdadeira catástrofe.
Em Atenas, frequentou uma livraria onde teve contato com a filosofia de Diógenes de Sinope. Ele não se desesperou por causa da tragédia que tinha vivido, superou e buscou amparo na filosofia.
Diógenes Laércio descreve a reação de Zenão da seguinte forma:
“Agora que eu naufraguei, enfim embarquei em uma boa jornada”.
Zenão se entusiasmou com a filosofia mais do que com a vida de mercador. Em Atenas, fundou sua escola, chamada Stoa Poikile (varanda pintada). Qualquer pessoa que passasse poderia participar, já que estavam em um lugar visível e de fácil acesso ao público.
Por causa da facilidade em ser aprendida por pessoas diferentes, a filosofia estoica foi aprendida por ricos e pobres, nobres e escravos.
Inicialmente, os gregos foram os autores do Estoicismo. As ideias de Zenão foram posteriormente desenvolvidas por Crisipo, que escreveu sozinho mais de 700 livros sobre o tema. Entretanto, nenhum sobreviveu.
Quando o Império Romano absorveu a cultura grega, o Estoicismo chegou em Roma. É comum dizer que Roma venceu a Grécia belicamente, mas perdeu culturalmente. O helenismo foi mais forte.
Felizmente, os estoicos de Roma possuem suas obras ainda conhecidas.
Principais filósofos estoicos
Os três estoicos romanos mais conhecidos são: Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio.
Sêneca
Sêneca (4 a.C. — 65) nasceu em Córdoba, na atual Espanha. Estudou filosofia, retórica e experimentou todas as perturbações de sua época. Chegou a se tornar um dos cidadãos mais ricos de Roma.
Era uma renomada figura pública e foi tutor e conselheiro do próprio Nero, imperador romano. Sêneca foi dramaturgo, cujas tragédias foram inspiração para Shakespeare.
Os escritos de Sêneca, cartas e tratados se direcionavam a pessoas diferentes.
Ele não escreveu um livro destinado a todas as pessoas que querem aprender o que é Estoicismo, escreveu especificamente para Lucílio, Paulino e Hélvia.
Ele partiu de acontecimentos na vida de cada um para que soubessem como agir, de acordo com a filosofia estoica, em situações específicas. Esse é o motivo de ele não ter sido didático, descrevendo as características do Estoicismo.
Fundamentalmente, ele explicou o que pensa com exemplos e conselhos.
Seus pensamentos sobreviveram por meio de cartas e tratados. Tendo se envolvido em uma conspiração, recebeu de Nero a sentença de morte por livre escolha. Sua decisão foi cortar os pulsos.
Epiteto
Epiteto (55 d.C. a 135 d.C.) chegou a Roma na condição de escravo. Quando conseguiu a liberdade, começou a lecionar e abriu sua própria escola na Grécia. Não escreveu livro algum, mas suas aulas foram transcritas pelos alunos. Estes textos sobreviveram ao tempo.
Graças a isso, grandes mentes gregas e romanas foram educadas na filosofia estoica. Uma delas foi a de Júnio Rústico, responsável por formar Marco Aurélio.
Marco Aurélio
Marco Aurélio (121 d.C. a 180 d.C.) é considerado o último dos cinco bons imperadores romanos. Em seu tempo, foi o homem mais poderoso da Terra. Nos últimos anos de vida, reservou parte do seu tempo para escrever reflexões em um diário.
O que escreveu foi publicado com o título Meditações e se tornou uma das mais conhecidas e apreciadas obras de Estoicismo.
Por ter escrito um diário, Marco Aurélio considerou que somente ele o leria. Assim como Sêneca, não escreveu para que os outros lessem. Ao lecionar sobre Estoicismo, também não aplicou esforço didático, apenas escreveu o que pensava dia após dia.
Sintetizando a tradição estoica e o núcleo do pensamento desses autores, é possível elencar uma lista resumida de principais características.
Principais características do Estoicismo
As principais características do Estoicismo são:
O que o Estoicismo nos ensina?
No Estoicismo, as ações são mais valorizadas do que as palavras. Os adeptos privilegiam a prática mais do que a teoria. Como visto, a maior parte dos escritos gregos se perderam e o que se tem dos romanos não foi escrito para ensinar aos outros.
Quando uma exposição da filosofia estoica se faz, isso nada mais será do que uma releitura, a reconstrução das ideias dos autores.
Primeira fase do Estoicismo
O conteúdo da filosofia estoica é encontrado por meio de doxografias. Marco Túlio Cícero foi um pensador e filósofo do final do século II a.C., e Lúcio Méstrio Plutarco foi um ensaísta que viveu 100 anos depois. Ambos são fontes para conhecer o Estoicismo, embora tenham sido também críticos.
O que se sabe de suas vidas vem de Diógenes Laércio, em seu Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres.
O que marcou a primeira fase estoica foram as reflexões de Zenão em Atenas. Indicado como o autor de mais de 20 livros, definiu a tese central de sua escola.
Foi sucedido por Cleantes de Assos, que defendeu o materialismo. Para ele, até mesmo a alma é matéria.
Encerrando a primeira fase, há Crisipo de Solos (atual Turquia). Ele foi responsável por sistematizar os pensamentos de Zenão e defendê-los dos ataques feitos pelos platônicos.
Foi reconhecido como um grande lógico por ter se dedicado ao estudo das proposições e ao combate das falácias.
Segunda fase do Estoicismo
Esta fase marca a entrada do Estoicismo na cidade de Roma. Tudo começou em Atenas, mas Diógenes difundiu o que sabia nas terras romanas.
Panécio de Rodes foi outro pensador importante, cuja responsabilidade foi retomar alguns temas platônicos. Ele influenciou a obra Sobre os Deveres, de Cícero.
Já Posidônio de Apaméia (135 a.C. a 51 a.C.) foi um polímata e acreditava que a alma, conforme Platão explicou, tinha uma parte irracional. Cícero frequentou sua escola em Rodes.
Esses pensadores foram criticados por retomar aos temas platônicos.
Terceira fase do Estoicismo
É desta fase que se tem o maior número de textos que explicam o que é Estoicismo, já que muito das obras anteriores se perderam. Lúcio Aneu Séneca é o principal pensador estoico romano dessa época.
Ele enfatizou a falsidade das reações emotivas aos fatos cotidianos. Considerando a mente como uma unidade racional, descreveu as interferências das emoções como falhas no raciocínio.
“O que é belo e digno é apresentar-se como defensor de seus pais, filhos, amigos, concidadãos, conduzido pelo próprio dever, benévolo, ponderado, prudente, não impulsivo e raivoso. De fato, nenhuma paixão é mais desejosa de vingar-se do que a ira, e por isso mesmo ela é inábil para vingar-se. Por ser muito apressada e insana, como em geral toda cupidez, ela própria serve de obstáculo para aquilo a que se apressa. Assim, nem na paz, nem na guerra, ela jamais foi um bem.”
Os escritos mais relevantes de Sêneca são:
Outro grande nome é o de Epiteto, nascido provavelmente em 55 d.C. Ele era da Frígia (atual Turquia). Diz-se sobre ele um fato não confirmado, porém que reforça o exemplo de domínio sobre si mesmo.
Epiteto havia sido escravo e sua liberdade foi alcançada às custas de ter resistido de forma serena às crueldades de seu senhor, que lhe teria quebrado a perna. O acesso que se tem às suas reflexões são fruto do trabalho de seu discípulo Lúcio Flávio Arriano.
Ele foi quem compilou o famoso Encheiridion de Epiteto, com reflexões para enfrentar as dificuldades diárias.
Também faz parte dessa fase o estoico Marco Aurélio, imperador romano já abordado precedentemente.
Filosofia estoica para a vida
Alguns princípios se destacam no estoicismo e podem ser assim resumidos:
1 — Seja virtuoso
“Um bom caráter é a única garantia de eterna e despreocupada felicidade”. (Sêneca)
Os estoicos ensinaram que só é possível ter uma boa vida quando se é virtuoso. Para isso, guiaram-se seguindo as quatro virtudes cardeais gregas. Elas foram definidas por Platão, mas influenciaram os estoicos, filósofos helenísticos e pensadores cristãos.
Na filosofia estoica, não importa quem é a pessoa ou o que ela faz, mas sim o caráter, valores e integridade das ações.
Na história da humanidade, alguns nomes muito conhecidos viveram princípios estoicos.
Por exemplo, podem ser citados Michel de Montaigne, Frederico II da Prússia, Adam Smith, George Washington, Thomas Jefferson e John Stuart Mill.
Apesar disso, o Estoicismo não foi pensado para pessoas importantes. A vivência das virtudes não é uma exclusividade dos grandes nomes. Inclusive, muitos apenas se tornaram grandes por terem sido virtuosos primeiro.
2 — Concentre-se no que você controla e aceite o que não controla
“O que é, enfim, ser educado adequadamente? É saber separar as coisas que estão sob nosso controle daquelas que não estão”. (Epiteto)
Esse princípio reflete uma das principais características do estoicismo, que é a dicotomia do controle. Fundamentalmente, significa focar no que se consegue controlar e aceitar o que está fora de alcance.
Como não é possível mudar o que já aconteceu, resta apenas lidar com as circunstâncias presentes.
“Faça o melhor com o que estiver em seu poder, e apenas aceite o que vier a acontecer. Algumas coisas estão ao nosso alcance e outras coisas não estão”. (Epiteto)
Faz parte do poder de cada pessoa o que depende de sua vontade e liberdade. O restante depende de dois fatores:
Está sob controle de uma pessoa ler para aprender um conteúdo, bem como aplicá-lo. O que não está é o controle sobre as ações das pessoas ao redor, sua condição física para conseguir agir como deseja, etc.
“As coisas não inquietam os homens, mas as opiniões sobre as coisas. Por exemplo: a morte nada tem de terrível, ou também a Sócrates teria se afigurado assim, mas é a opinião a respeito da morte – de que ela é terrível – que é terrível. Então, quando se nos apresentarem entraves, ou nos inquietarmos, ou nos afligirmos, jamais consideremos outra coisa a causa, senão nós mesmos – isto é: as nossas próprias opiniões.” (Epiteto)
O caminho que aqui vai sendo ensinado é o de não se tentar controlar o incontrolável. Ora, se é incontrolável, qualquer tentativa de controle resultará em fracasso e o resultado será sofrimento.
3 — Seja responsável pelo que você controla
“Os homens são perturbados não pelas coisas que acontecem, mas sim por suas opiniões sobre os acontecimentos”. (Epiteto)
Diversas realidades não são escolhidas pelas pessoas, como os pais, a condição física em sua essência, o ambiente de criação e os primeiros ensinamentos recebidos. São muitos fatores que não dependem da vontade do indivíduo.
Em geral, o que está em poder de cada um é como reagir diante dos acontecimentos não controlados, não escolhidos. A responsabilidade incide sobre a própria ação. As pessoas que não assumem a responsabilidade pelo que fazem tendem a sofrer mais e ser mais vitimistas.
Não é maduro colocar a culpa em fatores sobre os quais não se tem controle, ao menos não de acordo com o Estoicismo. De acordo com a filosofia estoica, deve-se agir de acordo com os próprios valores independentemente do que aconteça.
“O maior obstáculo à vida é a expectativa, que fica na dependência do amanhã e perde o momento presente. Tu dispões o que está nas mãos da Fortuna, deixas de lado o que está nas tuas. Para onde olhas? Para onde te projetas? Tudo o que há de vir repousa na incerteza. Vive de imediato!” (Sêneca)
4 — Aprenda a diferenciar o que é bom, mau ou indiferente
Assim os estoicos separam as coisas: em boas, más ou indiferentes. Para eles, bom é o que está de acordo com a sabedoria, coragem, temperança e justiça.
O que for oposto às virtudes, como vícios, covardia, injustiça e ignorância serão coisas ruins.
Segundo a filosofia estoica, enfim, vida e morte, riqueza ou miséria, saúde ou doença, são todas coisas externas à decisão do sujeito. Ser virtuoso não depende delas.
No Estoicismo, bom ou mau são contribuições apenas do que as pessoas têm controle.
Por causa dessa consideração, outra característica do Estoicismo é não desejar o que é externo, para não haver sofrimento futuro caso esse bem externo seja retirado ou perdido.
Ficar doente não lhes será bom ou mau, mas indiferente. Afinal, não se tem controle sobre a saúde de forma segura. Com certeza a saúde é mais preferível do que a doença, bem como a riqueza à pobreza e a boa reputação à má reputação.
Mas preferir algo em detrimento de outro não pode se tornar um desejo. Quando algo se torna desejo, passa a ser visto como bom. Isso leva a uma diminuição da sabedoria nos moldes do Estoicismo, porque significa que a pessoa não terá diferenciado bem.
5 — Coloque os aprendizados em prática
“Não perca tempo discutindo sobre o que um bom homem deve ser. Seja um.” (Marco Aurélio)
Como foi explicado ao longo do resumo sobre o que é Estoicismo, viu-se que é uma filosofia prática. Pensar sobre como viver é apenas o início, mas não tudo o que deve ser feito.
Eles consideram que não colocar os pensamentos em prática é desperdiçar o pensamento. O que foi entendido deve ser convertido em práticas que conduzem a uma boa vida.
6 — Pense no que pode dar errado
Realidades imprevistas podem mudar o rumo de uma vida. Como são infinitas possibilidades, não é possível preparar-se para todas.
Ainda assim, é aconselhável usar a mente para pensar em cenários ruins, a fim de se preparar caso aconteçam de fato. Essa característica do Estoicismo é a premeditação dos males.
Premeditar os males é antecipar na mente o pior cenário possível. Caso o pior venha a acontecer, é possível reagir com mais calma e racionalidade.
7 — Internalize seus objetivos
“Eu vou fazer isso e mais aquilo, se nada acontecer que possa se tornar um obstáculo para minha decisão. Eu vou cruzar o oceano, se nada me impedir de fazê-lo”. (Sêneca)
Mesmo que muitos deem o seu melhor, isso não significa que alcançarão o que querem. Cada um controla suas ações, mas não o resultado delas. Por outro lado, nada impede alguém de agir da melhor forma que lhe seja possível num dado momento.
Estoicos atrelam seus objetivos apenas a algo interno, nunca a algo externo. O que está fora da liberdade e vontade do indivíduo não pode se tornar objetivo de vida, porque pode ser impedido de ser alcançado por outra coisa.
Entender que nem tudo será como foi planejado é uma forma de evitar frustrações e sofrimentos desnecessários.
8 — Faça com que os obstáculos sejam novas oportunidades
Uma vez que eventos externos são indiferentes, não são vistos pelos estoicos como oportunidades ou obstáculos em si mesmos. Cada pessoa pode transformar o que acontece com ela.
Pensando em objetivos internos, virtuosos, é possível tentar ser mais sábio, corajoso, temperante e justo a partir de todo tipo de situação.
O melhor a se pensar é em como ser uma pessoa melhor em cada acontecimento, diariamente.
9 — Ame seu destino, porque não há outro
“Não queira que tudo aconteça como deseja. Deseje que tudo aconteça como deve acontecer, e terá serenidade”. (Epiteto)
Basicamente, esse ensino quer dizer que é melhor mudar o julgamento sobre um acontecimento, já que não é possível mudar a realidade de que o fato aconteceu, agradável ou não.
Ocorridos no passado estão fora do alcance de qualquer pessoa. O que não está, é a reação a ele. A reação das pessoas é um fenômeno do presente.
Se se pensar como Zenão, considerar-se-á que a cada naufrágio haverá uma nova oportunidade de se atracar em novas terras.
10 — Esteja sempre autoconsciente
Ser autoconsciente é estar atento observando e analisando as próprias ações, pensamentos e julgamentos, enfim, todos os movimentos interiores.
A via é de mão dupla. Ter autoconsciência facilita a prática do Estoicismo ao mesmo tempo em que a filosofia estoica facilita os caminhos para se ser mais autoconsciente.
O princípio envolve separar o que é razão e o que é emoção. Um estoico opta por não permitir ser controlado por suas paixões.
Esses 10 pensamentos são um agrupamento inicial para entender o Estoicismo e diferenciá-lo de outra corrente filosófica, em partes, muito oposta.
Diferença entre Epicurismo e Estoicismo
O Epicurismo é chamado de “hedonismo em filosofia”, fruto da filosofia de Epicuro. Esse filósofo era atomista. Acredita que a vida é finita e a alma mortal, não havendo vida após a morte.
Já que não via sentido na vida perante deuses, ele se voltou para a realidade humana imediata. O sentido da vida para ele é o prazer, no sentido de que é melhor viver com poucos desejos, conseguindo uma vida simples. Os desejos frustram.
Melhor viver sem a intenção de ter muitos bens materiais e muito poder. O prazer epicurista está associado a bens imediatos e não prazeres mediados por projetos distantes. Para ele, não deve haver uma grande distância entre o desejo e sua realização.
Apesar de tudo isso, o epicurismo é semelhante ao Estoicismo por defender uma ética que busca não se enganar com o mundo e suas ilusões.
Abaixo, serão elencados alguns livros onde muitos dos princípios acima podem ser encontrados.
Livros sobre o Estoicismo
Como este foi apenas um resumo para explicar o que é Estoicismo, é possível se aprofundar com as obras dos filósofos estoicos.
Os principais livros sobre Estoicismo são:
Estoicismo nos dias de hoje
Atualmente, o Estoicismo está muito em voga, tendo se tornado um estilo de vida almejável. Ainda há pensadores que mantêm essa tradição viva, como Ryan Holiday, William Irvine, John Sellars e Lawrence Becker.
A filosofia estoica tem sido usada para reduzir a ansiedade, estresse, insegurança e pensamentos negativos semelhantes. Em geral, mantém-se a mente sempre calma e racional independentemente do que esteja acontecendo.
Pessoas que nunca ouviram falar nada sobre o que é Estoicismo possivelmente já estão tendo contato com a filosofia estoica.
O Estoicismo foi muito popular em Atenas e em Roma, duas cidades que são referência para a cultura ocidental.
Como o mundo hoje vive muito do que foi produzido nessas cidades, recebeu várias características estoicas por meio da linguagem, política, religião e arquitetura.
Muitas ideias estoicas se difundiram mais do que a própria filosofia estoica de Sêneca ou Epiteto. Isso cria uma sensação de familiaridade com as características do Estoicismo, a ponto de ser visível no presente.
Essa filosofia de vida permanece conhecida mesmo após 2300 anos. Muitas escolas filosóficas posteriores não sobreviveram e se tornaram tão conhecidas como o Estoicismo conseguiu.
Parte do motivo está no direcionamento prático, voltado para a ação e não apenas para um aprendizado conceitual que não se traduz na vida de cada um.
Outra característica do Estoicismo que colaborou para sua popularidade foi a simplicidade do que é ensinado. Os princípios são intuitivos e facilmente assimilados no dia a dia.
Não é em vão que o Estoicismo é chamado de filosofia do bem viver.
Estoicismo e psicoterapia
O Estoicismo possui uma forte influência na psicoterapia tal como é praticada por muitos profissionais atualmente. O filósofo estoico Epiteto influenciou diretamente a Terapia Racional Emotiva Comportamental de Albert Ellis e Aaron T. Beck.
Essa sua terapia é precursora da Cognitiva Comportamental, uma das abordagens psicoterapêuticas mais usadas hoje.
Tanto Albert Ellis quanto Aaron T. Beck consideraram o Estoicismo uma filosofia com características precursoras das psicoterapias modernas.
Os coachs e o Estoicismo
A influência do Estoicismo também alcançou a prática do coaching. Muitas pessoas reagem mal ao ouvirem certas características do Estoicismo por pensarem que se trata de um discurso semelhante ao usado pelos coaches.
Eles usam as ideias do Estoicismo e as direcionam para a vida profissional das pessoas. É uma forma de atingir a vida prática de quem os ouve, com conselhos para uma vida feliz.
Como podemos ser felizes no Estoicismo?
O tema da felicidade é recorrente na história da filosofia. Os estoicos também falaram sobre ela, inclusive, contrapondo-se aos céticos, epicureus e platônicos.
Opondo-se aos epicuristas, os estoicos recusaram as paixões e prazeres como fonte de felicidade. Pelo contrário, viram nisso a fonte da perturbação da alma.
A filosofia estoica não considera que se pode ser feliz desejando o que é externo. O melhor caminho para ser feliz, segundo esses filósofos, é aceitar o desígnio (destino), sejam quais forem os acontecimentos na vida.
Trata-se da determinação harmoniosa dos acontecimentos.
O foco está em conseguir ter autocontrole para se manter firme e escolher o que é moralmente bom.
Sêneca e Epiteto enfatizaram que o sábio é imune ao infortúnio. Daí a expressão “calma estoica”, que descreve uma pessoa que não se desestabiliza mesmo que o pior aconteça. O sábio será aquele que se tornou verdadeiramente livre de suas paixões e corrupções morais.
Isso lembra algo?
Estoicismo e cristianismo
Algumas características estoicas são percebidas no cristianismo, ainda que ressignificadas pelo contexto religioso.
Sêneca, por exemplo, defendeu a fraternidade universal, renúncia dos bens materiais, domínio das paixões, indiferença diante das imposições do destino, a dignidade da natureza humana e a obrigação de respeitar os humildes.
Outro ponto que ele enfatizou foi que existe no homem a presença da divindade que sempre o quer conduzir à razão perfeita.
Enfatizou que a filosofia pode ser usada para vencer a angústia e a preocupação com a morte.
Os filósofos estoicos já estavam presentes no imaginário do povo de Roma enquanto os cristãos ainda eram perseguidos. Quando a fé católica se tornou oficial no Império, o Estoicismo não deixou de existir e suas características não morreram.
O próprio apóstolo São Paulo é apontado como alguém que teve contato com o Estoicismo, principalmente com os escritos de Arato, um filósofo estoico seguidor de Zenão de Cítio.
Em sua obra Fenômenos, alguns trechos de Arato são comparados com trechos das cartas de Paulo. Entretanto, a sobrevivência das obras dos estoicos é uma raridade.
Sem outras obras, não é possível verificar o quanto São Paulo teve influência de outros estoicos, além de Arato. Isso torna a influência do Estoicismo no cristianismo mais difícil de ser percebida.
Mas há diferenças na concepção de destino, natureza e motivação para o bem. No cristianismo há uma providência que cuida de cada um individualmente com amor e misericórdia.
Mas o que mais diferencia o cristianismo do Estoicismo é a noção da Graça, segundo a qual os homens recebem ajuda de Deus para serem realmente sábios, conformando a vontade não à natureza, mas sim a Deus mesmo.
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