A Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
A Guerra
A chamada Guerra dos Trinta Anos começou em 1618 como conflito religioso entre católicos e protestantes na Boêmia e adquiriu caráter político em torno das contradições entre Estados territoriais e principados. Envolveu a Alemanha, Áustria, Hungria, Espanha, Holanda, Dinamarca, França e Suécia.
Importante para o início da Guerra dos Trinta Anos foi a ascensão de Fernando II ao trono austríaco, em 1619. Na época, Fernando II, imperador do Sacro Império Romano-Germânico era também rei da Boêmia. Os rebeldes negaram-lhe esse título e entronizaram o príncipe eleitor calvinista Frederico do Palatinado. Segundo Perry (1999, p. 266):
A Guerra dos Trinta Anos começou quando os boêmios (...) tentaram colocar no seu trono um rei protestante. Os Habsburgos austríacos e espanhóis reagiram, mandando um exército ao reino da Boêmia; de súbito, todo o império foi forçado a tomar partido dentro de linhas religiosas. A Boêmia sofreu uma devastação quase inimaginável: três quartos de suas cidades foram saqueadas e queimadas e sua aristocracia foi praticamente exterminada.
O resultado foi o envolvimento de outros príncipes protestantes. O mais importante deles na primeira fase da Guerra, que vai até 1632, foi o rei da Suécia, Gustavo Adolfo, morto em batalha naquele ano. A possibilidade de paz entre Fernando II e os príncipes alemães leva à cena um novo Ator, a França, preocupada com a excessiva força que poderia ter a Áustria.
Sob o comando do cardeal Richelieu, a França, apesar de católica como os austríacos, posicionou-se contra estes. Primeiramente, de forma encoberta, depois de maneira ostensiva. Richelieu estava convencido de que a continuidade da França como grande poder internacional dependia da guerra contra os Habsburgos. Assim, a França financiava ou apoiava todos os que se opusessem ao domínio austríaco ou espanhol, ou, quando necessário, guerreavam diretamente contra eles. A França, aliás, derrotou o até então imbatível exército espanhol na batalha de Rocroy, em 1643. Para a Espanha, o custo dessa derrota foi altíssimo, pois significou o fim da invencibilidade de seu poderoso exército e a vida de 15 mil soldados.
A maneira como Richelieu se portou politicamente influenciaria o sistema internacional pelos próximos séculos. Richelieu criou ou ajudou a criar conceitos como o de “razão de estado” e “equilíbrio de poder”. Henry Kissinger (1999, p. 60) analisa que “de início, ele [Richelieu] queria impedir a dominação dos Habsburgos sobre a Europa, mas ao final deixou um legado que por dois séculos provocou seus sucessores a tentarem o primado francês na Europa. Do fracasso dessas tentativas, brotou o equilíbrio de poder, primeiro como um fato da vida, depois como forma de organizar relações internacionais (...). Quando a guerra terminou, em 1648, a Europa Central fora devastada e a Alemanha perdera quase um terço de sua população. No tumulto desse conflito trágico, o cardeal Richelieu enxertou o princípio da raison d´état (razão de estado) na política externa francesa, princípio que os outros estados europeus adotaram nos cem anos seguintes”.
Convém reproduzir mais algumas das conclusões de Kissinger (1999, p. 63): “o objetivo de Richelieu era romper o que ele considerava o cerco da França, exaurir os Habsburgos e impedir a emergência de uma grande potência nas fronteiras da França – especialmente na fronteira alemã. Seu único critério para alianças era que elas atendessem aos interesses da França, aplicado primeiramente aos estados protestantes, mais tarde até ao Império Otomano muçulmano”.
Assim, a conduta da França reflete a maneira racional e pragmática como as grandes Potências atuam no cenário internacional. Apesar de católica, a França não hesitou em aliar-se aos protestantes para se contrapor à hegemonia espanhola. Essa conduta garantiria o fortalecimento da França nos anos seguintes, de modo que, com o fim da guerra e o declínio do poder espanhol, o Estado francês assumiria o papel de nova Potência hegemônica no continente.
A Guerra dos Trinta Anos chegaria a termo por meio da Paz de Westfália (1648), e uma Nova Ordem seria estabelecida no cenário europeu e, consequentemente, nas relações internacionais da Era Moderna.
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