O movimento batista estava aberto a
estrangeiros e permitia o perdão dos pecados, sem o acordo e mesmo em oposição ao
perdão centralizado no Templo de Jerusalém e oficializado pelo ritual do Yom
Kipur (dia do perdão), celebrado no dia 10 de mês tishri (setembro/outubro no nosso calendário).
Tudo indica que houve um abandono, após
algum tempo, da prática do batismo,por parte de Jesus e seus seguidores. Jesus será, como pregador, muito diferente de João
Batista: não se vestirá como o profeta Elias (Marcos 1, 6), sairá do Rio Jordão
para pregar ao povo em suas aldeias, não se apresentará como um
homem consagrado a Deus (nazir), que deveria abster-se de vinho e fermentados.
Ao contrário, beberá e comerá carne. O
próprio Jesus teria dito: “Com efeito, veio João, que não come nem bebe, e
dizem: ‘um demônio está nele’.Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizem:
‘eis aí um glutão e beberrão, amigo de publicanos e pecadores’” (Mateus
11, 18-19).
Talvez se possa localizar a ruptura com
o movimento batista nessa contraposição,em um movimento de afastamento do
ascetismo, em direção ao engajamento com os impuros: “não são os que têm saúde
que precisam de médicos, mas os doentes. Eu não vim chamar justos, mas
pecadores” (Marcos 2, 17).
Jesus, porta-voz de Deus Jesus era
conhecido, em vida, como emissário divino: “E, entrando em Jerusalém, a cidade
inteira agitou-se e dizia: ‘quem é este?’ A isso as multidões respondiam: ‘Este
é o profeta Jesus, o de Nazaré da Galileia’” (Mateus 21, 10-11). Era chamado de Nabi, traduzido para o grego (e
depois para o português) como profeta.
A palavra significa, literalmente, borbulho, aquele que fala como se borbulhasse,como
se a fonte das suas palavras fosse Deus, que borbulhava as palavras na boca
daquele que era um emissário, um transmissor.
Havia longa tradição de profetas em
Israel.
Eram homens que, desde o período dos
reis, falavam para o povo, criticavam as autoridades,
tanto políticas como religiosas, por se afastarem da justiça e da igualdade, comum a todos os
filhos de Deus.
Sua mensagem inseria-se na linha dos
antigos profetas de Israel, como
um profeta itinerante, que se poderia caracterizar como carismático, para usar o termo
difundido pelo sociólogo alemão Max Weber, com a seguinte definição:
“O carisma é uma qualidade de uma personalidade individual, por isso
separado das pessoas comuns, pessoa tratada como se dotada de poder e qualidades
super-humanas, além da natureza, ou ao menos excepcionais.
Estas não são acessíveis às pessoas
comuns, massão consideradas de origem divina ou como modelos e, por isso, o
indivíduo é considerado
um líder” (Economia e Sociedade, 3, parágrafo 10). O próprio termo
carisma deriva do termo grego kharis,
“graça, favor”, um termo muito usado no Novo Testamento. No entanto, a
expressão usada para se referir ao carisma de Jesus era outra, exousía, traduzido como “autoridade”: “Os ouvintes ficavam admirados
com a sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade, e não como os
escribas” (Marcos 1, 22).
“Ele manda com autoridade até aos espíritos imundos, e obedecem-lhe” (Marcos
1, 27).
A palavra grega exousía designa
um tipo de poder, mas não sabemos como essa sua potência mágica
era chamada em aramaico. De qualquer modo, esse carisma
exercia-se por meio das falas de Jesus, perdidas em sua forma original, em
aramaico, mas cujo substrato oral se encontra preservado em muitas frases que
parecem diretamente traduzidas da língua semita para o grego. Talvez a mais
famosa seja: “o sábado foi feito para o homem, e não o homem para o sábado” (Marcos
2, 27).
Mas muitas outras, curtas e diretas, ressoam o original aramaico que se
perdeu, como: “Convertam-se, porque o Reino do Céu está próximo” (Mateus 4,
17).
“Se alguém quer ser o primeiro, será o
último de todos e o servo de todos” (Marcos 9,34).
“Se uma casa se dividir contra si
mesma, tal casa não pode subsistir” (Marcos 3, 25).
Fonte de referência, estudos e pesquisa:
https://www.academia.edu/14777618/Jesus_Hist%C3%B3rico_alguns_trechos
http://www.profjuliomartins.com