A carta bem datada mais antiga é a Primeira aos Tessalonicenses, escrita
entre 50 e 51, uns vinte anos após a morte de Jesus.
Paulo, contudo, não parece ter conhecido pessoalmente Jesus e pouco nos
fala sobre a vida do nazareno. Por fim, o livro do Apocalipse consiste em uma
visão profética do futuro etampouco se volta para o Jesus da Galileia.
Portanto, as fontes principais sobre a vida de Jesus são os Evangelhos.
Os Evangelhos:
Jesus falava o aramaico, uma língua semita,
aparentada ao hebraico.
Assim: “E, tendo chegado à casa do
principal da sinagoga, viu o alvoroço, e os que choravam muito e pranteavam. E,
entrando, disse-lhes: por que vos alvoroçais e chorais? Amenina não está morta,
mas dorme. E riram-se dele; porém ele, tendo-os feito sair, tomou consigo o pai
e a mãe da menina, e os que com ele estavam, e entrou onde a menina estava deitada.
E, tomando a mão da menina, disse-lhe: Talita cumi – que,
traduzido, é: menina, a ti te digo, levanta-te. E logo a menina se levantou, e
andava, pois já tinha doze anos; e assombraram-se com grande espanto” (Marcos
5, 38-42).
Esta é uma das poucas passagens que
reproduzem palavras originais de Jesus em sua língua. Talita significa
“fresca”, pois era uma menina ainda, não era uma mulher adulta.
No entanto, já aqui
se põe um problema, pois o termo grego usado no
trecho para traduzir, "paidion",
significa criança de ambos os gêneros.
Neste caso, temos a frase original, mas
em todos os outros contamos apenas com o grego, língua que, ao que se sabe,
Jesus nunca falou.
Como as palavras de Jesus, em aramaico,
acabaram, décadas depois, sendo registradas nos Evangelhos? Antes de tudo,
convém lembrar como as pessoas se relacionavam com a memória na Antiguidade.
A alfabetização não era expandida e a maioria
das pessoas era analfabeta e mesmo as que dominavam a escrita nela não se
fiavam para se lembrar do que liam.
Os livros já existiam, mas eram rolos
que eram desenrolados para que pudessem ser lidos.
Era, portanto, impossível fazer uma consulta a passagens de
obras, como se pode fazer com livros impressos e, mais ainda, com documentos
digitais.
Hoje, e há já alguns séculos, estamos acostumados
a consultar escritos, quando queremos nos informar ou mesmo rememorar algo que
já lemos. Nada disso ocorria naquela época.
As pessoas decoravam, tendo lido ou
ouvido um texto, e podiam reproduzir longas passagens, para não dizer
obras inteiras e imensas. Em Lucas (4, 16-18), diz-se que: “E, chegando a
Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na
sinagoga, e levantou-se para ler. E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando
abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito: o Espírito do Senhor é
sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os
quebrantados do coração”.
Muitos estudiosos modernos ponderam que
o que se chama de sinagoga, palavra grega, representa, no caso de uma aldeia de
300 pessoas, como Nazaré, apenas uma casa usada para a reunião da comunidade.
Este, aliás, o nome da sinagoga em
hebraico: "beitknesset",
casa de reunião. Não se sabe se haveria rolos com a Bíblia hebraica,
mas, mesmo que houvesse, quem saberia ler? A passagem, contudo, sugere que
Jesus tenha citado de cabeça Isaias 61.
Isaias era um dos profetas populares
que defendiam os pobres, em versos que mais se assemelham a nossas canções
rimadas populares.
Quem escreveu o Evangelho de Lucas, décadas depois, não conhecia de
primeira mão as comunidades galiléias e, assim como em outras passagens,
introduz detalhes, na narrativa, que refletiam a realidade das cidades gregas
na qual se difundia o cristianismo.
Um segundo aspecto da memória antiga deve ser recordado,
para além da capacidade de decorar frases: seu caráter subjetivo e religioso. A
memória é sempre subjetiva e estamos sempre sujeitos a recordar determinados
momentos da vida, manter certas frases e situações e a esquecer e suprimir
outras.
Estes mesmos mecanismos fizeram com que os seguidores de
Jesus recordassem episódios e ditos de Jesus, assim como suprimissem outros.
Isto garantiria a preservação, ainda que alterada pela
experiência posterior, de muitas experiências com o nazareno.
Dentre os mecanismos de preservação e supressão, sobressaiam as crenças e convicções dos antigos,
que não estavam sujeitas aos critérios da ciência moderna, que, claro, não
existia naquela época. Muitos milagres são mencionados nos Evangelhos, como a
cura da menina que acabamos de reportar.
Tais episódios constituem experiências fortes e,
portanto, inesquecíveis.
Fonte de referência, estudos e pesquisa:
https://www.academia.edu/14777618/Jesus_Hist%C3%B3rico_alguns_trechos
http://www.profjuliomartins.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário desempenha um papel fundamental na melhoria contínua e na manutenção deste blog. Que Deus abençoe abundantemente você!