As misérias de Marx
Biografia
disseca a vida do pensador, que viu 4 de seus 7 filhos morrerem ainda bebês,
duas filhas se suicidarem, e que dependeu financeiramente da mulher durante os
16 anos que se dedicou a escrever "O Capital" - ainda assim, ele a
traiu sexualmente.
Por: Eliane Lobato - 28/03/13 - 21h00 - Atualizado em 21/01/16 - 12h23
O filósofo e biógrafo grego Plutarco
(46-120) dizia que “a chave para entender um grande homem não está nas
conquistas em campos de batalhas ou em triunfos públicos, mas em suas vidas
pessoais.” Ao dissecar a vida ordinária de Karl Marx (1818-1883), o
revolucionário que mudou a consciência do mundo, o livro “Amor & Capital”
(Zahar), quase mil páginas escritas pela americana Mary Gabriel, humaniza o mito
e tira da sombra a mulher dele, Jenny von Westphalen. Ela segurou as piores
barras para que ele pudesse lutar pelo mundo ideal, sem divisão de classes e
sem propriedades. Filha da aristocracia, quatro anos mais velha que o marido,
Jenny é descrita como alta, bonita, distinta e inteligente. Marx não tinha
atributos físicos memoráveis, mas era um brilhante intelectual. Por esse amor,
ela aceitou a morte de quatro dos sete filhos devido à vida insalubre e
miserável que levavam. Faleceu antes que duas das três sobreviventes cometessem
o suicídio.
Detalhes dessa saga trágica foram
encontrados em uma pesquisa milimétrica que inclui documentos e cartas
inéditas. Uma das passagens mais tristes do livro conta a morte prematura de
Franzisca, de bronquite, logo após o primeiro aniversário. Sem dinheiro nem
para o caixão, Jenny “guardou” o corpinho gelado da menina no quarto dos fundos
e juntou as camas do casal e das três outras filhas no outro quarto, para que
chorassem juntos até que alguém pudesse emprestar a ninharia necessária para
acabar com aquela situação.
Os trabalhos de Marx, que teve apenas
um emprego fixo, como correspondente do jornal “New York Herald”, não
resultavam em quantias suficientes para manter a família e ele, embora fosse um
estudioso de economia, era cronicamente irresponsável nas finanças pessoais. Em
1852, quando moravam em Londres, sem ter mais para onde correr, Marx tentou
penhorar alguns talheres de prata com o brasão da família de Jenny quando o
dono da loja, desconfiado daquela criatura de cabelos desgrenhados e mal
vestida, chamou a polícia. Em carta ao amigo Friederich Engels, ele desabafa:
“A única luz no horizonte é a doença de um tio reacionário de Jenny. Se o
patife morre, eu saio desse aperto.” O patife não morreu.
O que a família Marx tinha de maior
valor eram suas ideias, que, entretanto, rendiam pouco dinheiro. Sempre
despejado das casas que alugava, pagava um empréstimo com outro e passaria mais
tempo ocupado em juntar migalhas do que em derrubar tronos, como sonhava. Jenny
suportava tudo com inabalável admiração pelo marido e só pedia uma
contrapartida: fidelidade. E Marx falhou. De um relacionamento sexual com a
empregada – misto de babá, governanta e amiga íntima de Jenny – resultou um
filho, Freddy. Desesperado, ele pediu a Engels, solteiro e rico, que
assumisse a criança e pensou ter dado o assunto por encerrado. Manchou sua
biografia e causou uma amargura que fez Jenny adoecer gravemente.
Mas a aliança entre eles se mostrou definitiva e sólida, mesmo após a traição. Uma certeza mantinha a família Marx firme: a de que o patriarca estava escrevendo o livro que abalaria o mundo, “O Capital”, e tudo seria melhor depois de seu lançamento. Em nome da obra na qual ele descreve a origem, o funcionamento e a derrubada definitiva do sistema capitalista, tudo era sacrificado de bom grado. Mas, ao ser lançado 16 anos depois de iniciado, o livro foi praticamente ignorado pela “imprensa burguesa”, como Marx a definia.
Foi considerado difícil de entender e não provocou nem marola.
Aos 64 anos, Marx parecia um velho
senil, segundo a autora. Morreu com essa idade, intelectualmente debilitado,
com um abscesso no pulmão. Onze pessoas compareceram ao enterro no cemitério
londrino Highgate, no dia 17 de março de 1883, ao lado de Jenny, que morrera
alguns anos antes, de câncer. Coube a Engels fazer o elogio fúnebre. O amigo
falou do seu lugar na história mundial e garantiu que, embora o homem tivesse
morrido, as ideias não morreriam com ele.
Fotos: AKG-Images/Newscom/Glow Images; Divulgação
Fonte de referência, estudos e pesquisa:
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