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segunda-feira, 15 de abril de 2019

A VIDA NA PRÉ-HISTÓRIA: ESQUEÇA O QUE VOCÊ SABE SOBRE OS HOMENS DAS CAVERNAS - Parte 2/3

A VIDA NA PRÉ-HISTÓRIA: ESQUEÇA O QUE VOCÊ SABE SOBRE OS HOMENS DAS CAVERNAS


PRIMEIROS PASSOS

Lucy exibia um corpinho escultural para quem viveu há 3,2 milhões de anos: 1 metro de altura e ancas largas. Tinha braços longos, pernas curtas e barrigão, como um chimpanzé. Mas o joelho e a pelve indicam que ela andava sobre os dois pés. "Tornar-se bípede foi talvez a primeira característica distintiva dos humanos", afirma o antropólogo Donald Johanson. Por isso, quando encontrou os restos de Lucy na Etiópia, em 1974, ele teve certeza: era um ancestral hominídeo. Lucy mostra como as adaptações na biologia repercutiram em nossa cultura desde cedo. Quando ela veio ao mundo, as florestas da Etiópia estavam encolhendo devido a mudanças climáticas. Os hominídeos, então, desceram das árvores atrás de alimento. E desenvolveram um novo jeito de andar, deixando as mãos livres. Não tinham garras nem dentes afiados. Sua vantagem era outra e essencial: o cérebro.
Para obter pistas sobre os hábitos de Lucy e de seus pares, os cientistas estudam primatas não-humanos. "Orangotangos são solitários, gibões são monogâmicos, gorilas machos geralmente dominam haréns femininos e os chimpanzés vivem em comunidades promíscuas de machos e fêmeas", diz o biólogo Jared Diamond, da Universidade da Califórnia. Como os chimpanzés são nossos primos mais próximos, é possível que a sociedade de Lucy fosse, digamos, bem "liberal".

Há 2,5 milhões de anos, nossos ancestrais já talhavam a pedra sílex (flintstone, em inglês) para obter ferramentas toscas usadas para quebrar ossos e nozes. Também saberiam usar plantas medicinais, já que os chimpanzés comem certas folhas para combater parasitas do intestino. Mas, diferentemente dos Flintstones, eles não comiam bifes de dinossauros (extintos muito antes), e sim ovos, frutas, carcaças abandonadas e até insetos.
Reprodução do fóssil Lucy, exposta no Museu da História Natural de Chicago Getty Images

O Homo erectus teria sido o primeiro a controlar o fogo, entre 1 milhão e 500 mil anos atrás. Conseguia acender chamas batendo o sílex contra um cristal de pirita e usava as fogueiras para se aquecer, afugentar animais, endurecer a ponta de lanças. Foi o início da conquista da natureza. Desde os tempos de Lucy, a seleção natural prevaleceu e muitas espécies desapareceram. Há 200 mil anos, porém, os homens se tornaram anatomicamente parecidos conosco: Homo sapiens. Ficaram mais inteligentes e solidários. "Com o crescimento do cérebro, as fêmeas sapiens precisaram comer mais proteínas para alimentar o feto. Já os machos podiam ter uma dieta mais simples. Essa complementação teria feito surgir a noção de solidariedade própria da família", afirma o arqueólogo Jean Clottes, autor de La Prehistoria Explicada a los Jovenes. Os casais se tornaram mais estáveis e passaram a cuidar juntos dos filhos - que deixariam de ser meras "crias".
"A partir de 100 mil anos atrás, a adaptação se deu mais em função de modelos culturais, já que nossa biologia permaneceu praticamente inalterada", diz Antonio Guglielmo no livro A Pré-História: Uma Abordagem Ecológica. Naquela época, o homem realizou os primeiros enterros na caverna de Qafzeh, Israel, revelando ter autoconsciência. Além disso, objetos colocados ao lado dos corpos indicam a crença na vida após a morte.
Eles provavelmente viviam em grupos que compartilhavam costumes e laços familiares, reunidos em tribos. "Cada grupo seria formado por 20 ou 30 pessoas. Se fossem maiores, teriam problemas de abastecimento, e os muito pequenos dificilmente conseguiriam caçar e enfrentar ataques de animais", diz Clottes. "Não viviam muito. A maioria não passava dos 25 anos, mas alguns chegavam aos 60."
Havia intercâmbio entre as tribos: objetos similares foram encontrados em lugares distantes. Essa troca teria sido feita por aventureiros solitários ou grupos, até porque eles sempre se moviam em busca de recursos naturais. Viajavam a pé, pois os animais só seriam domesticados depois. E, diferentemente do que muitos pensam, os homens pré-históricos não costumavam viver em cavernas - identificadas com o sobrenatural. Eles moravam em cabanas feitas de peles, ossos e pedras. Algumas cavernas, sim, eram habitadas, principalmente na Europa, mas sempre mais perto da superfície que do subterrâneo. A comida era assada em fogueiras ou cozida no que seria a primeira panela: um caldeirão feito de pele animal. Os homens aqueciam pedras na chama e as jogavam no caldeirão. Eles comiam com as mãos e, possivelmente, eram canibais. Evidências indicam que essa prática ocorreu em várias épocas, fosse por fome, fosse para tentar adquirir o espírito do adversário. Na hora de se limpar, cutucavam os dentes com tocos de madeira e se banhavam nos rios. E para fazer as necessidades? Sem problema: eles eram poucos e a natureza... acolhedora.

GRANDE  SALTO  ADIANTE

Esse é o nome que os cientistas dão a uma enorme transformação ocorrida entre 60 mil e 50 mil anos atrás. "Viramos máquinas de inovação", afirma o cientista Spencer Wells. Passamos a fabricar ferramentas mais precisas, caçamos de maneira mais eficiente, enfim, produzimos tecnologia a partir das ideias.
Para Spencer, professor na Universidade Cornell, essa mudança só foi possível graças ao desenvolvimento da linguagem. Os humanos construíram estruturas mais complexas de palavras e sintaxe e puderam transferir pensamentos de uma mente para outra de modo mais eficaz. Uma vantagem e tanto, que ajudou a moldar o comportamento moderno e motivou a humanidade a sair da África e se espalhar pelo mundo.
Há 30 mil anos, os exploradores da Europa e da Ásia sobreviveram com a ajuda de uma inovação: os microlitos, peças cortantes feitas de pedra, de 1 ou 2 centímetros, que eram fixadas na ponta de estacas. Dotados de saliências e reentrâncias, os microlitos aumentaram o poder de penetração de lanças e arpões e a caça ficou mais produtiva. Já os nômades que chegaram à Sibéria descobriram uma fonte tentadora de comida: os mamutes. Usaram ossos e o couro dos paquidermes para fazer roupas e abrigos portáteis em meio ao frio de 40 graus negativos. Para isso, contaram com outra inovação, a agulha de costura. Continua...


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