A VIDA NA PRÉ-HISTÓRIA: ESQUEÇA O QUE VOCÊ SABE SOBRE OS HOMENS DAS CAVERNAS
Há 30 mil anos, os exploradores da Europa e da Ásia sobreviveram com a ajuda de uma inovação: os microlitos, peças cortantes feitas de pedra, de 1 ou 2 centímetros, que eram fixadas na ponta de estacas. Dotados de saliências e reentrâncias, os microlitos aumentaram o poder de penetração de lanças e arpões e a caça ficou mais produtiva. Já os nômades que chegaram à Sibéria descobriram uma fonte tentadora de comida: os mamutes. Usaram ossos e o couro dos paquidermes para fazer roupas e abrigos portáteis em meio ao frio de 40 graus negativos. Para isso, contaram com outra inovação, a agulha de costura.
Ilustração: Hominídeos e Hienas, Alto Paleolítico Getty Images
"A ideia de que nossos ancestrais andavam semidesnudos, com pele de animal colocada de qualquer jeito sobre o ombro, é tão falsa como a noção de que viviam nas cavernas", afirma Clottes. "Na última glaciação [80 mil a 12 mil atrás] fazia mais frio do que agora. Eles costuravam roupas com pelos e tendões de animais. Também usavam gorros e calçados de couro." Há 30 mil anos, era moda pintar as roupas com ocre, um mineral que evitava a putrefação. Também se usavam adereços feitos com dentes de renas, bisões e outros animais. Com tantos badulaques, claro que todos queriam ver e ser vistos. O point da França de 15 mil anos atrás era Le Mas-d"Azil, uma gruta gigante atravessada por um rio. Ali, os caçadores celebravam encontros e os jovens flertavam nas festas da tribo. Dançavam e cantavam ao som de tambores e flautas.
Artistas esculpiam pedras com figuras femininas, as "vênus". Para muitos antropólogos, elas aludiam ao culto da fertilidade. Mas o arqueólogo Timothy Taylor tem outro palpite: seriam versões primitivas de símbolos sexuais. Em The Prehistory of Sex ("A Pré-História do sexo"), ele sugere que práticas como sadomasoquismo e contracepção já eram comuns na época.
Até a invenção da agricultura, nossos antepassados combinaram a caça com a coleta de vegetais. Pesquisadores sustentam que aquela sociedade era mais igualitária que a atual. "Em geral, os homens caçavam usando arco e flecha e lanças. Isso não quer dizer que mulheres e crianças não participassem. Os frutos coletados por elas chegavam a 70% da alimentação", diz Clottes. "De certa forma, a função delas era mais importante que a dos homens: muitas vezes eles voltavam da caça de mãos vazias." Há indícios de que o trabalho tinha função lúdica, evitava a agressão e a dominação entre os membros do grupo. "Mesmo quem optasse por não caçar certo dia podia jantar a presa depois. Essa autonomia pode parecer radical hoje, mas os ajudou a sobreviver de forma relativamente pacífica durante milênios", diz Peter Gray, professor de Psicologia Evolutiva. Titular do Boston College, ele acredita que a violência entre tribos era muito menor que a do estado moderno.
AGRICULTURA: AVANÇO?
Encerrada a última era glacial, em cerca de 10000 a.C., nossos antepassados deixaram a caça e a coleta para se dedicar ao cultivo de trigo, cevada e outros cereais. O sedentarismo permitiu a construção de povoados maiores, com casas de barro, onde mais tarde foram domesticados os animais (inicialmente cachorros, ovelhas, cabras e porcos) e lançadas as bases do comércio. Por volta de 4000 a.C., surgiram as primeiras civilizações às margens dos rios Tigre, Eufrates, Nilo, Indo e Amarelo. O domínio da metalurgia impulsionou outras mudanças, assim como a invenção da escrita, que encerra a Pré-História. Para a maioria dos pesquisadores, a agricultura trouxe o progresso. No entanto, há quem a defina como trágica. "Foi o pior erro da espécie humana", afirma Jared Diamond. Segundo ele, os novos cultivos trouxeram males como superpopulação, desmatamento, guerras e as diferenças sociais. E a África, onde surgimos, sofre com a fome. "Será que a atual crise da África vai afetar a todos nós?", diz Diamond. Falando assim, dá até saudades da Pré-História.
Saiba Mais
A Pré-História: Uma Abordagem Ecológica, Antonio Roberto Guglielmo, Brasiliense, São Paulo, 2008
Bom principalmente para aqueles que querem fazer uma visita mais rápida ao período.
The Third Chimpanzee ("O terceiro chimpanzé" , sem edição brasileira), Jared Diamond, Harper, Nova York, 2002
O autor compara nosso comportamento com o dos outros primatas e nos ajuda a entender o que significa ser humano.
Fonte de referência, estudos e pesquisa:
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