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segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A homossexualidade no ocidente

A homossexualidade no ocidente: uma perspectiva histórica

A homossexualidade é um fenômeno muito antigo, havendo evidências da mesma tanto na arte pré-histórica quanto na pictografia e nos hieróglifos de culturas da antiguidade. A antropologia tem demonstrado a ocorrência desse fenômeno entre muitos povos e culturas passados e presentes. No entanto, a atitude das diferentes sociedades quanto ao comportamento homossexual não tem sido uniforme, indo desde a tolerância e aceitação até a penalização e a tentativa de supressão.

Os antigos hebreus, egípcios e assírios tinham leis contra as práticas homossexuais. A partir do sexto século antes de Cristo, aumentam as referências à homossexualidade na arte e na literatura da Grécia – na poesia de Safo e Anacreon, na prosa de Platão e nas peças de Ésquilo. Isso não significa que os gregos antigos aceitavam pacificamente tal conduta. Aristóteles, Heródoto, Aristófanes e muitos filósofos cínicos e estóicos posteriores expressaram a sua desaprovação moral de tais práticas. A existência da homossexualidade na antiga sociedade romana é atestada nos escritos de Suetônio, nas sátiras de Juvenal e na poesia de Catulo e Marcial. Como na Grécia antiga, a visibilidade desse comportamento não significava que o mesmo era amplamente aceito pela sociedade.

1. Atitudes da Bíblia e dos primeiros cristãos
As referências bíblicas às práticas homossexuais são pouco numerosas, mas bastante enfáticas. O Antigo Testamento condena a sodomia como algo típico da mentalidade pagã e prescreve punições severas (Lv 18.22; 20.13). No Novo Testamento, os escritos paulinos denunciam o comportamento homossexual masculino e feminino como um estilo de vida conflitante com os valores da fé cristã (Rm 1.26-27; ver também 1 Co 6.9-10; 1 Tm 1.9-10). Todavia, só tardiamente surgiu a noção de que as cidades de Sodoma e Gomorra foram destruídas por causa de práticas homossexuais (Gênesis 19). Seu pecado é descrito de outro modo em Ezequiel 16.49-50. A nova interpretação surgiu nos pseudepígrafos, em Filo e em Josefo, e se refletiu no Novo Testamento (Judas 6-7). Teria contribuído para isso a forte hostilidade contra a cultura grega por parte dos judeus ortodoxos daquela época.

As atitudes dos cristãos em relação a esse assunto foram influenciadas tanto pelas afirmações bíblicas quanto pela lei romana. No Império Romano, o homossexualismo aparentemente era punível sob a obscura lex Scantinia (c. 226 AC), mas o interesse jurídico pela matéria data do terceiro século da era cristã. Nos séculos seguintes surgiram novas leis voltadas para essa questão. Um edito de Teodósio, Arcádio e Valentiniano (ano 390) prescrevia a morte na fogueira para os sodomitas. O imperador Justiniano publicou duas novelas contra o homossexualismo em 538 e 544. Elas são importantes porque pela primeira vez se invoca o episódio de Sodoma e Gomorra e porque o seu objetivo não era tanto punir como levar os ofensores ao arrependimento. As penalidades legais eram reservadas somente para os mais obstinados.

2. Da Idade Média à modernidade
Alusões esparsas na literatura e nos cânones cristãos mostram que a igreja antiga considerava o homossexualismo masculino altamente pecaminoso, mas não como algo merecedor de castigo exemplar. As penalidades variavam de uma penitência de nove anos à excomunhão perpétua. Considerações políticas podem explicar algumas das prescrições mais severas da Espanha visigótica do século sétimo. Os escritos penitenciais apresentam um tratamento abrangente do pecado homossexual. Eles reconhecem as práticas femininas, distinguem entre diferentes atos e tentam adaptar as penitências à suposta gravidade da ofensa. Em geral, a Idade Média considerava a homossexualidade merecedora da atenção da igreja, que impunha penalidades espirituais, mas raramente entregava os ofensores às autoridades civis. Existe pouca reflexão sobre a moralidade do homossexualismo até a discussão dos “pecados contra a natureza” feita por Tomás de Aquino na Suma Teológica (1265-1273).

Entre os anos 1000 e 1500, à medida que se intensificou a urbanização da Europa, aumentaram as evidências de atividade homossexual. Mais ou menos a partir da segunda metade do século 12 surgiu uma hostilidade mais intensa contra esse tipo de conduta, tanto na literatura popular quanto em escritos teológicos e jurídicos.

Alguns estudiosos têm interpretado esse fato no contexto de manifestações mais amplas de intolerância contra certos grupos, como foi o caso das Cruzadas, do anti-semitismo e da Inquisição. Com o advento do Renascimento e mais tarde do Iluminismo, caracterizados pelo seu espírito de contestação dos valores tradicionais e de defesa da liberdade individual, a homossexualidade masculina adquiriu nova visibilidade e relativa aceitação. No entanto, as situações podiam variar grandemente de um país para outro. No século 19, enquanto na França havia tolerância sob o Código de Napoleão, o oposto ocorria na Inglaterra, onde as leis nessa área eram extremamente rigorosas.

3. Desdobramentos contemporâneos
O século 20 constituiu um dramático ponto de transição nessa história turbulenta. Nunca anteriormente tantos homossexuais haviam alcançado tamanho destaque na literatura, nas artes, na política e em outras esferas. Ao mesmo tempo, regimes ditatoriais através da Europa perseguiram duramente os membros desse grupo, como aconteceu na Alemanha nazista e nos países comunistas do Leste Europeu. Esses e outros fatores chamaram a atenção da opinião pública para os integrantes desse segmento social e despertaram crescente simpatia em relação aos mesmos. Por fim, o surgimento de um movimento homossexual organizado e militante nos anos 70 forçou a sociedade e as igrejas a se posicionarem de uma vez por todas quanto a essa questão, o que tem acontecido de modo intensamente conflitivo nas últimas décadas.

A homossexualidade é um tema que interessa vivamente aos cristãos e à igreja por várias razões: é uma situação que afeta profundamente a vida de indivíduos e famílias; é um fenômeno que adquire crescente aceitação e legitimidade na vida moderna, nos aspectos cultural, ético e jurídico; mas principalmente é uma questão explosiva para as próprias igrejas em três áreas – recepção de homossexuais como membros, ordenação de homossexuais ao ministério e união de homossexuais.

A questão também apresenta uma vertente teológica. Pensadores e igrejas de linha liberal tendem a encarar com maior simpatia a causa homossexual e suas reivindicações. Grupos conservadores, tanto católicos quanto protestantes, insistem na incompatibilidade entre a prática do homossexualismo e a ética cristã. Existe até mesmo, em alguns países, o chamado “movimento gay cristão”. Muitos cristãos entendem que a homossexualidade é injustificável, pecaminosa e muitas vezes resultante de uma opção deliberada, consciente. Outros acreditam que é uma doença ou um comportamento geneticamente condicionado. Em ambos os casos deveria ser buscada a cura e a restauração. O grande dilema para muitos cristãos é como, ao mesmo tempo, questionar a homossexualidade como um estilo de vida alternativo e natural, sem rejeitar e desrespeitar as pessoas envolvidas com tal situação.

Perguntas para reflexão:
1. As condenações do homossexualismo contidas na Bíblia são relativamente poucas, mas muito contundentes. O que se pode concluir disto?

2. A homossexualidade é um comportamento natural, mera opção e questão de preferência na área sexual, ou um comportamento condenável como a fé cristã tem entendido historicamente? Por quê?

3. Existe uma diferença entre ter impulsos homossexuais, isto é, sentir atração pelo mesmo sexo, e praticar o homossexualismo?

4. Do ponto de vista da ética cristã, o que se deve esperar de alguém que tenha inclinações homossexuais, mas quer seguir a Cristo?

5. Existe a possibilidade de defender a dignidade da pessoa homossexual sem ao mesmo tempo apoiar ou aprovar a prática do sexo entre iguais? Por quê?

Sugestões bibliográficas:
DALLAS, Joe. A operação do erro: o movimento “gay cristão”. São Paulo: Cultura Cristã, 1998.
DAVIES, Bob; RENTZEL, Lori. Deixando o homossexualismo: uma nova liberdade para homens e mulheres. São Paulo: Mundo Cristão, 1997.

JONES, Peter. A ameaça pagã: velhas heresias para uma nova era. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

LUTZER, Erwin. Aprenda a viver bem com Deus e com seus impulsos sexuais: como se apropriar da graça e do poder de Deus para vencer as tentações de natureza sexual. Venda Nova, MG: Betânia, 1984.

SANTOS, Valdeci da Silva. Uma perspectiva cristã sobre a homossexualidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.

STOTT, John. Grandes questões sobre sexo. Niterói, RJ: Vinde, 1993.

WHITE, R.E.O. Homossexualismo. Em ELWELL, Walter A. (Ed.). Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Vida Nova, 1988-1990. Vol. II, p. 270-273.

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