A Esperança dos Profetas
Caindo e levantando, o povo foi andando, procurando ser o povo de Deus e buscando atingir para si e para os outros os bens da promessa divina. Muitas vezes, porém, esquecia o chamado de Deus e se acomodava. Em vez de servir a Deus, queria que Deus servisse ao projeto que eles mesmos tinham inventado. Invertiam a situação. Era nestas horas que surgiam os profetas para denunciar o erro e para anunciar de novo à vontade de Deus ao povo.
A Bíblia conserva as palavras de quatro profetas chamados Maiores:Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, e de doze Menores. Muitos outros profetas são mencionados na Bíblia. O maior deles foi Elias. Os profetas, cujos nomes, gestos e palavras foram conservados, são como flores. Elas supõem um chão, uma semente e uma planta. O chão, a semente e a planta destes profetas são as comunidades que lhes transmitiram a fé; são os inúmeros profetas locais, cujos nomes foram esquecidos. É como hoje. Os grandes profetas são conhecidos no país inteiro, mas eles só puderam surgir graças ao povo anônimo e fiel das suas comunidades.
Diante das falhas constantes do povo, desviado por seus falsos líderes, os profetas começaram a alimentar no povo uma nova esperança. Diziam: no futuro, o projeto de Deus será realizado através de um enviado especial, um novo líder, fiel e verdadeiro, chamado Messias.
Foi esta esperança maior, alimentada pelos profetas, que sustentou o resto fiel do povo e o ajudou a superar as duras crises da sua caminhada. O resto fiel eram, sobretudo, os pobres que punham sua esperança unicamente em Deus (cf. Sf 3,12). Como a mãe enfrenta as dores do parto, porque tem amor à vida nova que ela carrega dentro de si, assim os pobres enfrentavam as dores da caminhada, porque tinham amor à promessa divina que eles carregavam dentro de si. Eles acreditavam na vida nova que dela haveria de surgir para todos os homens. Esta vida nova chegou, finalmente, em Jesus, o Messias.
A esperança dos pobres se realiza em Jesus e nas comunidades
Para realizar a missão do Messias, Deus não mandou qualquer um. Mandou o seu próprio Filho! Jesus, o Filho de Deus, realizou a promessa do Pai, trouxe a libertação para o povo e anunciou a Boa-Nova do Reino aos pobres.
A pregação de Jesus não agradou a todos. Os doutores da Lei, os fariseus, os saduceus e os sacerdotes imaginavam a vinda do Reino como uma simples inversão da situação, sem mudança real no relacionamento entre os homens e entre os povos. Eles, os judeus, dominados pelos romanos, ficariam por cima e seriam os senhores do mundo, e os que estavam por cima ficariam por baixo.
Mas não era assim que Jesus entendia o Reino do Pai. Ele queria uma mudança radical. Para ele, o povo de Deus tinha de ser um povo irmão e servidor, e não um povo dominador a ser servido pelos outros povos (cf. Mt 20,28).
Jesus iniciou esta mudança: colocou-se do lado dos pobres, marginalizados pelo sistema dos líderes judeus, denunciou este sistema como contrário à vontade do Pai e convocava a todos para mudar de vida. Mas os grandes não quiseram. O que era Boa Notícia para os pobres era má notícia para os grandes, pois Jesus exigia deles que abandonassem os seus privilégios injustos e as suas idéias de grandeza e de poder. Eles preferiram as suas próprias idéias, rejeitaram o apelo de Jesus e o mataram na cruz com o apoio dos romanos.
Foi aí que o Pai mostrou de que lado ele estava. Usando o seu poder que protege a vida, ressuscitou Jesus. Animados por este mesmo poder de Deus que vence a morte, os seguidores de Jesus, os primeiros cristãos, organizaram a sua vida em pequenas comunidades, viviam em comunhão fraterna, tinham tudo em comum e já não havia mais necessitados entre eles (cf. At 2,42-44).
Assim, a vida nova, prometida no Antigo Testamento e trazida por Jesus, apareceu aos olhos de todos na vida dos primeiros cristãos. Eles se tornaram “a carta de Cristo, reconhecida e lida por todos os homens” (cf. 2Cor 3,2-3). Neles apareceu o Novo Testamento! É na vida comunitária dos primeiros cristãos, sustentada pela fé em Jesus, vivo no meio deles, que apareceu uma amostra clara do projeto que o Pai tinha em mente quando chamou Abraão e quando decidiu libertar o seu povo do Egito.
Jesus trouxe a chave para o povo poder entender o sentido verdadeiro da longa caminhada do Antigo Testamento. Os primeiros cristãos, usando esta chave, conseguiram abrir a porta da Bíblia e souberam entender e realizar a vontade do Pai. O Antigo Testamento é o botão, o Novo Testamento é a flor que nasceu do botão. Um se explica pelo outro. Um sem o outro não se entende. Como eles, assim também nós devemos reler a nossa história à luz de Cristo, com a ajuda da Bíblia, e tentar descobrir dentro dela o apelo de Deus, desde o seu começo.
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