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Magazine na Lanterna

sábado, 2 de dezembro de 2017

LITURGIA, CELEBRAÇÃO DO MISTÉRIO DE CRISTO: UMA INTRODUÇÃO À SUA TEOLOGIA

Muitas vezes o cristão católico fala a palavra liturgia, mas não tem o devido entendimento do que seja.
Resultado de imagem para liturgia catolicaIntrodução
Muitas vezes o cristão católico fala a palavra liturgia, mas não tem o devido entendimento do que seja. A primeira idéia é que a liturgia é o conjunto de rituais no qual a determinada celebração se desenvolve. Imagina-se que os gestos e a simbologia estão ali colocados apenas para embelezar o templo ou o evento que se está celebrando.
Observa-se claramente este fato nas solenidades matrimoniais, onde se dá valor excessivo à música, decoração, traje da noiva e fotografias, deixando minimizados os atos mais relevantes da celebração. Assim, veremos alguns aspectos importantes para realmente entender a liturgia e que são de fundamental importância para quem está em pleno estudo de teologia.
O que é Liturgia?
Buscando o sentido etimológico, liturgia (leit, de léos-láos = povo e érgon, do verbo ergázomai = agir ) é uma ação para o povo, um agir para o povo, ou seja, uma ação pública. As Sagradas Escrituras trazem este termo de forma gradual, mostrando uma evolução até chegar ao ponto alto que é a chamada liturgia cristã. Nesta liturgia, todos são os celebrantes, portanto, os licurgos, os “fazedores”, e o objetivo é atualizar o mistério pascal de Cristo em cada celebração.
Quem celebra ou quem faz a liturgia?
O costume ou tradição de reunir-se para comemorar é próprio do homem, assim, religiosamente isto também acontece. O nome para essa reunião é diferente para cada grupo, cultura ou credo. No Catolicismo, a assembléia reunida para celebrar chamava-se “ekklesia”(grego) que passou para “ecclesia”(latim) e para “igreja” (português).
Dessa maneira, a ação litúrgica é uma celebração pública da Igreja, que está ali reunida e é o “sacramento da unidade”
O povo santo de Deus é que faz a liturgia. A assembléia reunida ora a Deus e celebra cada um de acordo com os seus dons e ofícios diversos. Todos, a seu modo, com suas capacidades e diversidades participam desta liturgia. Este povo, nascido das águas do batismo é um povo sacerdotal, sendo ele o protagonista do mistério celebrativo.
Quem é essa Igreja?
A assembléia litúrgica para se caracterizar como tal, deve apresentar-se da seguinte maneira:
1) crente: ela crê na fé recebida dos apóstolos em Jesus Cristo;
2) aberta: a assembléia deve ser católica, para todos sem discriminação qualquer;
3) reconciliada: dentro da assembléia não pode haver divisão, todos estão reconciliados, todos são irmãos de fé;
4) ativa: há uma participação de todos, por ação do Espírito Santo, cada qual age com seu carisma, ora presidindo, lendo, cantando, orando.
Fica claro que as características apresentadas não são, por vezes, atingidas no nosso dia-a-dia comunitário. A heterogeneidade dificulta o trabalho eclesial, a falta de santidade de todos afasta-nos de Cristo, a hierarquia por vezes não é bem compreendida, os motivos que levaram as pessoas à assembléia são diversos, ou louvor ou tristeza ou súplica, tirando a unicidade de intenções. Há, da mesma forma, uma dificuldade de se entender que é na liturgia que se busca a fonte para o impulso missionário, mas o trabalho de missão visa a liturgia e sua celebração, ou seja, é celebrando que se ganha força para continuar celebrando.
A assembléia apresenta diversidade de dons, pois é inspirada pelo Espírito Santo. Dessa maneira, cada um tem seu dom e seu papel próprio na celebração. O presidente compete ser o dinamizador e age na dimensão funcional e mística. É ele que torna possível vermos o Cristo, pois age “in persona Christi”, mas age também, “in nomine ecclesia”.
Outros mistérios fazem-se presentes. O Diácono que motiva a todos a rezarem e proclama o Evangelho. O leitor proclama as leituras. O Acólito serve ao altar durante a apresentação das oferendas. Todos estes são ordenados, mas há muitos outros ministérios que não exigem ordenação, como: salmistas, cantores, turiferários, crucíferos, comentaristas, MESC e outros.
A importância do tempo e do espaço celebrativo
O espaço celebrativo é o local onde ocorre a reunião de fieis. Não é o local da presença de Deus, mas onde a assembléia reúne-se e Deus se faz presente no meio de seu povo. Portanto, a mística em torno desta visita de Deus pede que este local seja bem planejado, construído e decorado de maneira própria para viver-se melhor este mistério.
Dentro do templo, pode-se ver Cristo em três locais: no altar (alimento consagrado), na sede (o sacerdote “in persona Chriti”) e no ambão (a Palavra viva, o Cristo na Escritura). Nestes locais deve haver uma simbologia própria dentro de um espírito místico, dando ênfase a cada um deles no seu tempo devido, durante a celebração.
Falamos do espaço, agora o tempo. O tempo é importante para o homem e há o momento de parar para orar a Deus. O momento é o primeiro dia da semana, o “dies dominicus”. Este é o dia semanal de oração do cristão, onde ele pára com o fim de rememorar a paixão, morte e ressurreição de Cristo.
Anualmente, o período de parada é no tríduo pascal. Este coincide com o tempo cósmico, no equinócio da primavera, como que se estivéssemos comemorando o renascimento da vida após o inverno.
Outra festa anual dos cristãos católicos é a festa do nascimento do Senhor, mas esta não obedece ao ciclo lunar, como a Páscoa, e sim ao ciclo solar e tem-se uma data fixa no calendário gregoriano.
A estruturação e leis envolvidas nas celebrações
As celebrações litúrgicas podem acontecer de forma sacramental, não-sacramental e em tempos e lugares diversos. O que vai definir o tipo de celebração é o encadeamento de elementos que a compõe.
A estrutura verbal-simbólica, ou seja, a soma de palavras e símbolos (gestos), faz a celebração acontecer. Assim, na missa temos a liturgia da palavra e a liturgia eucarística.
A estrutura dialógica mostra o diálogo entre Deus e seu povo em cada celebração, pois Ele está presente em cada uma delas.
7. Para levar a efeito obra tão importante Cristo está sempre presente em Sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, “pois aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na Cruz”, quanto, sobretudo, sob as espécies eucarísticas. Presente esta pela Sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza é Cristo mesmo que batiza. Presente está pela Sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles” (Mt 18,20)[...](SC 7)
Pode-se ver esta dinâmica na missa quando Deus fala na primeira leitura, o povo responde no salmo, fala novamente na segunda leitura, o povo responde na aclamação ao Evangelho. Cristo fala no Evangelho e a resposta da comunidade é a profissão de fé e as preces.
Na parte verbal da celebração, encontramos as leituras que são a palavra de Deus dirigidas a nós. Lêem-se os textos dos profetas, 1ª leitura( AT ), o salmo responde a mensagem proclamada. No NT, 2ª leitura, o apóstolo mostra a vivência desta palavra na comunidade e no Evangelho temos contato com a vida de Jesus. Após o Evangelho, há a homilia, onde o sacerdote atualiza a palavra, mostrando a realização da salvação de Jesus Cristo no “hoje”, no aqui e agora.
A homilia pode ser querigmática, catequética, profética ou mistagógica, fazendo um relacionamento entre a liturgia da palavra e eucarística.
Na liturgia, também se ora. A oração litúrgica tem que ser eficaz, por ser feita em nome de Cristo, e tem de ser teológica, pois a oração cristã fala a Deus. Estas orações que estão nos livros litúrgicos são provenientes de uma longa tradição da Igreja. Esta eucologia divide-se em orações presidenciais e não-presidenciais, sendo que as primeiras são feitas pelo presidente da celebração e as outras pela assembléia.
Na oração há a seguinte estrutura geral:
1) anamnética: recorda o que aconteceu:
2) epiclética; invoca a presença do Espírito Santo.
Ao final da oração sempre há a homologação por parte de toda a assembléia com o “amem”.
Os cantos trazem o aspecto festivo e alegre para a celebração litúrgica, mas devem trazer a expressão do mistério celebrado. Dessa forma, têm-se músicas religiosas, mas não litúrgicas, porque não expressam aquele momento adequado em que são cantadas. Assim, um canto de entrada é motivacional para a assembléia, diferentemente de um canto de ofertório que enfoca a apresentação do pão e do vinho.
A celebração e os símbolos
A nossa vida diária é repleta de símbolos que nos remetem a uma sensibilidade maior, de acordo com o que aquele símbolo significa. Da mesma maneira, os símbolos são utilizados nas cerimônias litúrgicas porque transmitem algo mais do que aquilo que são.
Um bom exemplo de simbolismo é o bolo de aniversário, que por si só não passa de um bolo, entretanto, quando oferecido em um aniversário, traz o simbolismo da natividade. Comer um bolo qualquer simplesmente me alimenta, mas comer um bolo de aniversário é mais do que alimento, é comungar com todos a celebração da vida.
Maldonado(1990) diz ser o símbolo uma realidade sensível que remete a algo além daquilo que está ali na nossa frente. Como no caso do bolo, os celebrantes vêem além da massa doce e confeitos que o enfeitam, mas sentem algo mais, algo que poderia se dizer de “misterioso”.
Assim, nas celebrações litúrgicas ocorre um simbolismo, mostrando-nos algo além, algo de mistério.
O fazer simbólico
Quando um determinado gesto carregar algo de especial, misterioso, que está além do próprio gesto, torna-se um rito. O rito é praticado várias vezes, pois é um gesto simbólico, como o apertar as mãos aqui na cultura ocidental, ou seja, temos um gesto que exprime mais do que simplesmente tocar a outra pessoa, é sim um símbolo de amizade e civilidade entre elas.
Tem-se, assim, o rito litúrgico que é um conjunto de gestos próprios carregados de simbologia que remete a todos os celebrantes a um dos mistérios de Cristo, de acordo com o sacramento que se está celebrando.
No caso do rito litúrgico, há algumas características particulares:
1) imita e torna presente o mistério celebrado;
2) embora sempre repetido, é sempre novo;
3) expressa criatividade por trazer sempre em si a novidade;
4) é uma linguagem, tendo uma seqüência com um gesto encadeando outro;
5) toca a sensibilidade e os sentidos todos, visão(velas e roupas), audição(música), olfato(incenso), paladar(vinho) e tato(cumprimento).
6) envolve todo o ser humano, ficando em pé, de joelhos, sentado, ocorre uma participação total no mistério celebrado.
O mistério na liturgia
A liturgia, ao longo da história, só tornou-se importante quando atribuíram-na uma visão teológica, que, sem ela, tornava toda a liturgia amarrada dentro de uma uniformidade e com um rigorismo jurídico que a transformava em gestos materialistas.
Com um olhar teológico, pode-se ver a liturgia como a reunião de todos os atos de culto da Igreja e que lhe são próprios. Assim, surge uma visão “mistérica”, sacramental, onde o sujeito único e principal que exerce o culto é o Cristo ressuscitado.
7. [...] Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, “pois aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na Cruz”, quanto, sobretudo, sob as espécies eucarísticas. Presente esta pela Sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza é Cristo mesmo que batiza. Presente está pela Sua palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, Ele que prometeu: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles” (Mt 18,20).
Realmente, em tão grandiosa obra, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a Si a Igreja, Sua Esposa diletíssima, que invoca seu Senhor e por Ele presta culto ao eterno Pai.
Com razão, pois, a Liturgia é tida como o exercício do múnus sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros.
Disto se segue que toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de Seu Corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja. (SC 7)
Considerações finais
Assim, conclui-se que a Igreja celebra a liturgia para atualizar vários aspectos da vida de Jesus entre nós. É a participação do próprio Cristo, o Emanuel, no nosso dia-a-dia, mostrando-nos que não estamos sozinhos na nossa caminhada terrena.
Da mesma forma, na liturgia participamos, antecipadamente, da liturgia celeste, como podemos ler na “Sacrosanctum Concilium”:
Referências
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Edições Paulinas, 1973.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
VATICANO II. Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a sagrada liturgia. São Paulo: Edições Paulinas, 1998.
SANTOS, Vitor P. C. dos. Caderno de Referência de Conteúdo de Iniciação à Liturgia do curso de Graduação de Teologia. Batatais: Centro Universitário Claretiano, 2010.
Publicado por: Robson Stigar

O texto publicado foi encaminhado por um usuário do Brasil Escola, através do canal colaborativo Meu Artigo. Para acessar os textos produzidos pelo site, acesse: http://www.brasilescola.com.


Fonte de referência, estudo e pesquisa: http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/religiao/liturgia-celebracao-misterio-cristo-uma-introducao-teologia.htm

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