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terça-feira, 31 de outubro de 2017

A Mulher mais Importante na História da Reforma Protestante

Conheça a mulher mais importante da história da Reforma Protestante: “Sem ela teria outro rumo”

Resultado de imagem para Catarina de BoraA Reforma Protestante já tinha começado quando Catarina de Bora entrou na vida de Martinho Lutero, o ex-monge que escreveu 95 teses sobre o Evangelho e o Corpo de Cristo. Foragida de um convento onde foi criada após ser abandonada pelo pai, a ex-freira se tornou esposa do pastor que fundou o protestantismo e exerceu um papel indispensável na história.
Os relatos sobre Catarina, 16 anos mais nova que Lutero, são de uma mulher convicta, austera e companheira, alguém que, além de seis filhos, deu suporte ao marido, além de cuidar de sua frágil saúde e frear seus impulsos consumistas.
Sobre o tema, a bispa Lúcia Rodovalho, esposa de Robson Rodovalho e presidente da Igreja Sara Nossa Terra, produziu um artigo sobre a personagem feminina mais relevante para a Reforma Protestante. Citando o pensamento da professora e historiadora cristã Ruth A. Thucker, a bispa Lúcia salienta que, sem Catarina, “talvez a Reforma teria tomado um caminho diferente”.
Confira abaixo o artigo da bispa Lúcia Rodovalho sobre a vida, influência e relevância de Catarina de Bora na jornada do marido e, por consequência, no movimento reformador:
Nesses 500 anos da Reforma Protestante, além de toda a transformação que a sociedade e o universo cristão sofreu, não há como não falar de Martinho Lutero, o fundador do Protestantismo e, por seguinte, falar de alguém de quem pouco se escuta, mas que fez grande diferença. Segundo alguns historiadores, o casamento de Lutero, com exceção das 95 teses que marcaram a separação de Roma e o início do protestantismo em 1517, foi o evento que mais marcou e definiu os rumos da história. Embora Catarina não tenha sido uma típica mulher de pastor, ela foi a segunda pessoa mais importante da história da Reforma. Lutero encontrou em Catarina a capacidade para mantê-lo saudável, mental e fisicamente, além de financeiramente. Sem ela talvez a Reforma teria tomado um caminho diferente, afirma a professora e historiadora cristã, Ruth A. Thucker.

Essa mulher notável, nasceu em 29 de janeiro de 1499, no interior da Alemanha, filha de Hans von Bora e Anna von Haugwitz. Aos cinco anos de idade sua mãe morreu e ela foi deixada pelo pai em um convento beneditino que também servia de internato para meninas, uma prática muito comum no século XVI. Catarina viveu enclausurada neste convento e não há registro do tempo em que viveu ali. Infelizmente Catarina não tinha o hábito comum naquela época, principalmente para uma noviça, de escrever um diário.
Em 1523, acompanhada de outras onze freiras que influenciadas pelos ventos de mudanças que assolavam a Alemanha, fugiram do convento para se unir aos protestantes, que incentivavam a deserção de monges e freiras. E o líder do movimento repetia o tempo todo inclusive para as famílias dos enclausurados que os mosteiros e conventos eram piores do que prostíbulos. Este grupo de freiras fugitivas chegaram a Winttenberg no Domingo de Páscoa de 1525. O que se sabe da vida de Catarina após a sua chegada é que viveu de favor na casa de Lucas Cranach, um pintor famoso na região da Saxônia e que se enamorou de Jerónimo Baumgärtner, um estudante de Nuremberg, cujos pais se opuseram ao casamento do filho com uma ex-freira. E Jerónimo escolheu obedecer seus pais, deixando assim Catarina abandonada e sem respostas de suas cartas. E foi então que Catarina com o coração partido procurou o seu pastor, Lutero, para abrir sua alma atormentada e ferida pelo amor.
Lutero chegou a entrar em contato com o noivo fujão, mas sem sucesso. E foi então que ele tomou para si a responsabilidade de arrumar um marido para Catarina. Chegando a sugerir que ela se casasse com o pastor GasperGlatz. Catarina negou a se casar com o velho pastor e acrescentou que estaria disposta,a se casar com o próprio Lutero. E no dia 13 de junho de 1525, Catarina se casou com Martinho Lutero, que até então sugeria aos ex-monges que procurassem uma esposa, mas ele pessoalmente não pensava em fazê-lo. Lutero e Catarina não estavam apaixonados, mas ele afirmou em cartas que a estimava em alta conta. Alguns diziam que ele decidira casar para agradar o pai que sempre pedia netos, irritar o papa e confirmar seu ensino de que pastores protestantes deviam se casar e constituir família. Lutero encontrou em sua esposa 16 anos mais nova do que ele, o apoio e companheirismo necessários para enfrentar a oposição severa e constante que sofria. Pois além de cuidar de suas necessidades, físicas e emocionais, Catarina proporcionaria muita estabilidade para seu lar. Seu bom humor e hospitalidade faziam maravilhas a ele, assim como aos filhos que Deus lhes presenteara.
As doença físicas de Lutero, e também sua depressão, eram sérias. No final do Outono de 1528, ele se encontrava seriamente debilitado por uma doença que lhe acarretava tonteira e zumbido no ouvido interno. Ele sofria também com úlceras, indigestão, constipação e outras enfermidades. Nos últimos dez anos de sua vida, Lutero teve pedras nos rins, gota, artrites, hemorroidal, problemas no coração. Como se não fosse suficiente ele vivia atormentado com catarros e uma inflamação no nariz e garganta. E Catarina tendo conhecimentos dos efeitos medicinais das plantas, procurava tratá-lo com todo tipo de infusões e chás que sabia para poder ajudar. Catarina cuidava também dos filhos, da limpeza da casa (um antigo mosteiro com 19 quartos), da comida, da horta, dos animais e ainda das finanças da casa. Pois seu marido mostrava um descontrole total nos assuntos relacionados ao dinheiro. Além da família a casa era uma hospedaria para estudantes e também um lugar de abrigo para viajantes e necessitados.
Catarina sofreu muita oposição, às vezes velada e, muitas vezes, diretas de alguns amigos e de críticos de seu marido. Os críticos a consideravam uma mulher orgulhosa, de nariz impugnado, mandona e controladora. Talvez por isso ao contrário de seu marido, Catarina tinha poucos amigos. Acredito que o fato de estar sempre muito ocupada com tantos afazeres não tinha tempo para pensar em seus opositores. Catarina portanto era a descrição da típica mulher pobre com um pequeno campo para trabalhar e tentar ganhar algum extra para família. Sua vida era típica da maioria das mulheres no início da Alemanha moderna. Se o marido fosse velho ou enfermo, a responsabilidade de ganhar o pão de cada dia era delegada à esposa.
Esta situação seria verdadeira para Catarina se Lutero morresse, embora antes dele morrer, ela desfrutava de uma vida confortável e estável financeiramente, graças ao seu dom de administração e sua força de trabalho.O tempo de Catarina no mosteiro fora uma preparação para a vida que lhe aguardava. Desde os cinco anos de idade acostumara acordar ainda de madrugada e trabalhar o dia todo muitas vezes até após o sol se por. Martinho Lutero era conhecido por suas palavras, Catarina pelo seu trabalho. A rotina de trabalho da primeira dama da reforma é difícil de se imaginar sem os equipamentos modernos que as mulheres têm acesso em nossos dias. Apesar das más línguas, Lutero teria argumentado ao longo de seu casamento que sua esposa não dominava o “galinheiro”. Ao defender a superioridade masculina em todas as áreas, Lutero deixou claro sua posição de que com o marido permanece o comando, por ordem divina e a esposa cumpre obedecê-lo.
Só que as ações de Lutero sempre falaram mais alto do que as suas palavras, e na correspondência privada com a esposa, fica claro que o casamento dos dois era baseado na mutualidade. Tratava-se de um casamento de igualdade enorme para a Alemanha do século XVI.

Nas cartas endereçadas a Catarina quando ele estava longe de casa, ele demonstrava sempre respeito e admiração para com ela, e ao mesmo tempo sempre a repreendia por não escrever para ele. Tanto Martinho e Catarina devem receber crédito por desenvolver esse relacionamento tão especial. Ela porque era verdadeira e confiante, segura e equilibrada e tinha provado ser uma mulher completamente igual a Lutero. E ele, por ser seguro o suficiente para aceitá-la como tal. A família era o centro da reforma de Lutero. Outros reformadores vieram, mas nenhum havia levantado a questão da família como ponto focal da criação e das escrituras, um exemplo deixado para as futuras gerações.
Ruth A. Thucker destaca quatro acontecimentos principais na vida de Catarina. O primeiro, sua entrada para o convento, ainda criança. O segundo, sua fuga daquele lugar. O terceiro seu casamento com Lutero e o último a morte dele. Quando Lutero morreu, a família era relativamente rica, graças ao trabalho árduo de Catarina. Em função disto Lutero morreu em paz, jamais imaginando que um curto espaço de tempo sua esposa transformaria em uma mendiga. Pois após a morte dele um benfeitor foi indicado para cuidar da família, e ela que sempre gerira tão bem as posses e o dinheiro da família, perderia essa liberdade, o que acabou junto com outros intempéries destruindo tudo que construíra junto com seu marido. Portanto os seis anos de vida após a morte do marido, foi cercada de dor e abandono.
Além das provações da viuvez e sua iniciativa cerceada pelo benfeitor, ela sofreu uma ingratidão por parte de muitas pessoas de quem ela esperava apoio devido aos méritos públicos do seu marido no serviço da igreja. E aos 53 anos de idade, no ano de 1552, morre Catarina Von Bora a primeira dama da reforma protestante. A nota de falecimento a reconhecia como sendo a esposa do venerável doutor Martinho Lutero, mas também se referiram a sua falta de veneração. Seria o *gênero um fator fundamental dessa discriminação e invisibilidade? Ninguém sabe! Mas o que fica dessa grande mulher é sua decisão de estar ao lado de seu marido, como apoiadora de seus sonhos e suas lutas! Que nesses 500 anos de Reforma possamos lembrar também de Catarina, a Primeira Dama de um novo tempo, é uma nova fé, que frutificou e seus frutos são incontáveis.

*Nota do editor: “Gênero” é usado pela autora para se referir ao sexo feminino de Catarina de Bora. Gênero, em geral, é comumente usado para fazer referência à espécie humana.

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