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Magazine na Lanterna

sábado, 4 de fevereiro de 2017

O HOMEM JUDEU DIANTE DE DEUS...

O HOMEM JUDEU DIANTE DE DEUS




Lendo a Bíblia, percebe-se a presença constante e atuante de Deus na história. O homem criado à imagem de Deus reconhece sua pequenez e sua grandeza:” O que é o homem para que dele te lembres, o filho de Adão, para que dele cuides?... Contudo, o criaste quase igual a Deus...”(Sl 8).


O homem judeu sabe que desde a origem, Deus lhe confiou a tarefa pesada e importante de aperfeiçoar sua criação: que Deus lhe confiou com sua liberdade de homem, a responsabilidade de construtor da história, para realizar sobre a terra um reino de justiça e paz.

Todo judeu, de ontem e hoje, sabe também que como filho de Israel ele pode, pelos atos do dia-a-dia de sua existência, tornar-se presente a Deus, tornando Deus presente ao mundo. Tal é o sentido do versículo da Escritura: ”Sede santos porque eu, o Eterno vosso Deus, sou santo” (Lv19.2).

Daí a questão que se encontra em toda a tradição judaica: “O que é que Deus pede de mim? Quais os caminhos que se oferecem ao homem para que sua vida se torne o testemunho da presença de Deus no mundo?”

Dentre esses caminhos, apontaremos aqui apenas quatro, para lhes mostrar toda à importância que a tradição judaica lhes reservou: a Bênção, a Oração o Estudo e o Mandamento.

A BÊNÇÃO
Em hebraico, BERAHÁ, ação de graças.

Pode-se dizer que cada experiência de vida pessoal ou cósmica, feliz ou infeliz, quotidiana ou acidental, leva o judeu a louvar a Deus, a lhe dar graças.

“Bendito sejas tu, Eterno nosso Deus rei do universo...” é sem dúvida a frase que ele ouve ou mais pronuncia mais frequentemente durante a vida. Como se através das gerações, ele fizesse seu antigo louvor dos patriarcas, de Ruth ou de Davi, louvor ao qual os rabinos deram um caráter sagrado e definitivo.

Assim fazendo, o judeu mede a importância desse dom que Deus lhe concedeu: tornar-se depositário da benção. Pois, com efeito, no começo (Gn 12,2-3) é Deus que abençoa; mas quando Abraão recebe a ordem de deixar a Caldéia, sua terra natal, para garantir para ele e sua descendência, sua vocação de testemunha da unidade e justiça, Deus lhe confia seu poder de abençoar: “Sede uma bênção, isto é, doravante as bênção vos são confiadas”, assim explica Rashi, comentarista judeu da Idade Média.

Mas, ao mesmo tempo, o judeu toma consciência de não ser mais do que um hóspede nesta terra de que ele deve, antes de utilizar os produtos e os frutos do solo, louvar seu criador que lhe concede os bens que usufruir. Ele abençoa Deus antes de consumir qualquer alimento e diz, antes de tomar uma refeição: “bendito sejas tu, Eterno nosso Deus, rei do Mundo, que retiras o pão da terra” e antes de beber o vinho: “Bendito sejas tu, Eterno nosso Deus, rei do Mundo, Criador do fruto da vinha”.

Ele vive também, em si e nos outros, as angustiantes interrogações da injustiça entre os homens, do sofrimento ou da morte: e em sua boca a tristeza ou a revolta se transforma em louvor: “Bendito seja o Juiz Justo”. O papel específico do povo judeu no meio das nações, sua pertença à família de Jacó, o incita a louvar o Eterno: “Bendito sejas tu, eterno nosso Deus, rei do Mundo que enches teu povo Israel de graça e de
benevolência”.

Cada um dos ritos particulares que ele deverá cumprir é precedido de uma bênção para lhe permitir concentrar toda a sua atenção sobre o valor do gesto que ele fará para perceber a riqueza dos múltiplos símbolos. Assim, acendendo as velas do Shabat, a mulher judia canta: “Bendito sejas tu, Senhor nosso Deus, Rei do mundo, que nos santificastes pelos teus mandamentos e nos ordenastes acender as velas do Shabat”.

O gesto mais simples é percebido como uma participação à grande sinfonia do universo criado por Deus. Assim, ao lavar as mãos, ele diz: “Bendito sejas tu, Eterno nosso Deus, Rei do mundo, que nos santificaste por teus mandamentos e nos ordenaste lavar as mãos”.

A natureza é contemplada como uma maravilhosa criação sempre renovada. Quando os primeiros rebentos aparecem nas árvores, ele pode dizer: “Bendito sejas tu, Eterno nosso Deus, Rei do mundo, que criaste o universo ao qual nada falta e produziste boas criaturas e boas árvores que dão alegria aos filhos dos homens”.

Notemos a densidade de conteúdo teológico dessas curtas frases.

Elas mencionam o nome de Deus – que os judeus traduzem por Eterno – a Aliança particular entre Deus e Israel (“Nosso” Deus) e o reino universal de Deus sobre o universo (Rei do mundo). Ao mesmo tempo, elas insistem, pela fórmula introdutória “bendito sejas tu”, sobre a proximidade de Deus e do homem, sobre a possibilidade dada a cada um de se dirigir diretamente a Deus como ao Amigo predileto.

A tradição rabínica contou assim um conjunto de cem bênçãos que escalam a vida cotidiana de um judeu. Mesmo se hoje o judeu não praticante não pronuncia mais todas essas formulas, ele pelo menos conservou algumas, nos momentos solenes de seu dia e de sua vida. Ele sobretudo não esquece o espírito que as anima e que permanece um fundamento do conceito judaico da existência: a unidade entre o sagrado e o profano, a cooperação necessária entre Deus e o homem para apressar a redenção do universo.

A ORAÇÃO
Em hebraico: TELIFÁ

A Bíblia é o livro fundamental do judaísmo. Ora, em todas as suas partes a Bíblia contém “orações”, isto é, palavras expressas por homens e mulheres que viveram uma experiencia de uma relação imediata e misteriosa entre Deus e o homem. Um movimento espontâneo leva o homem, “criado à imagem de Deus”, a se voltar para o seu Criador, como está escrito: “como a corça bramindo por águas correntes, assim minha alma está bramindo por ti, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo”. (Sl 42).

Assim, ao longo de toda a Bíblia encontramos a oração na profunda intensidade de seu fervor, em seus objetivos os mais diversos e suas formas as mais variadas: longas ou breves, gloriosas ou patéticas, insistente intercessão de Abraão pelos outros (Gn 18), dúvidas de Jacó antes de se encontrar com Esaú (Gn 32), canto de gratidão de Moisés e de Israel junto ao Mar Vermelho (Ex 15), grito de Moisés em favor de sua irmã Miriam: “Ó Senhor, curai-a!” (Nm 12.13) arrependimento de Davi ( 2 Sm 23.10) oração de Salomão ao inaugurar o Templo (1 Re 8.28) ou de Elias no Carmelo (1Re 18). Enfim, é todo o Saltério – 150 Salmos – que seria preciso citar como modelo insuperável da faculdade do homem de exprimir diante de Deus sua tristeza e sua alegria, seus temores e suas esperanças, suas dúvidas e sua fé.

O que nós percebemos através dos textos de oração bíblica é que, mesmo quando expressam um pedido, não é apenas para preencher as falhas humanas mas também para traduzir o que faz que o mundo não seja conforme o projeto do Criador. Orando ou agindo, ou orando para poder agir, os homens da Bíblia cooperam com a ação divina, acelerando a vinda do reino de Deus sobre a Terra.

Assim pois, além de sua expressão de irresistível transporte, a oração bíblica se revela em toda a sua dimensão primordial que assumirá no judaísmo, isto é, a de TELIFÁ, quer dizer, de julgamento, de debate. Orar é pois, “entrar dentro de si”, “julgar-se estabelecer a ligação” num confronto com Deus, com a verdade ética que nos interpela. Orar é colocar o princípio de uma possível mudança de seu ser, num encontro autêntico com o Outro. Orar é reconhecer que além de si mesmo, há uma vontade cuja realização depende de nós.

Mas desde a época bíblica, a oração não era o único meio pessoal de união do homem com Deus. As assembleias de oração existiam na época do Templo. Lemos no livro de Jó: “Deus não rejeita a oração pública” e os Rabinos do Talmud explicavam: “ A oração comum é sempre atendida”.

Através dos séculos, desde que os homens da Grande Assembleia – 5º século antes de Cristo – lançaram as bases do que se tornou o “ritual das orações de Israel” ou SIDUR, a oração comunitária tornou-se, para o indivíduo, um meio de união com seu povo.

Muitos judeus conservam, como um dos bens mais preciosos, seu livro de orações que é transmitido de pai para filho. Se a Bíblia é, de certo modo um dom de Deus a Israel, o Sidur é comparado a um presente dado por Israel a seu Deus.

O livro de orações é, como o Talmud, um livro que é preciso praticar, conhecer e meditar para compreender a alma do povo judeu, para perceber, talvez aqui mais explicitamente do que em outro lugar, seus conceitos sobre Deus, o mundo e o homem, para ouvir como, através de sua história, ele sentiu os sofrimentos e as alegrias de sua vocação de “povo eterno” a serviço do Deus vivo.

Citemos, entre outras:
O SHEMÁ ISRAEL, assim designado pelas primeiras palavras do texto do Deuteronômio (6, 4-8): “Ouve, o Israel, o Eterno nosso Deus, o Eterno é um. Bendito seja para sempre o nome de seu reino glorioso. Amarás o Eterno teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força...”

Este texto tornou-se a “profissão de fé judaica”, quer dizer que recitando-o desde a mais tenra idade – 3 ou 4 anos – manhã e noite, todos os dias de sua vida, o judeu aceita o “jugo do reino de Deus.”

Ele afirma a unidade absoluta de Deus, do mundo e do homem, o laço da aliança que une Deus a Israel e ele sabe que essa aliança se perpétua, pela transmissão viva desse ensino, de geração em geração (“Tu os ensinarás a teus filhos”) e também pela realização em todos domínios da existência, dos preceitos da Lei divina. Ele sabe também que em todos os tempos, rabinos como Rabi Akiba (2º séc.) ou simples judeus, preferiram morrer mártires cantando este SHEMÁ ISRAEL, do que renegar seu Deus e seu povo.

A AMIDÁ ou “Oração por excelência” que constitui o momento culminante de intensidade religiosa no meio do ofício, de todos os ofícios. É dita de pé, silenciosamente e com um especial recolhimento. Compõe-se, conforme o dia (sábado, festas ou dias da semana), de sete ou dezenove bênçãos, tomando a forma inicial que mencionamos nas bênçãos quotidianas:

“Bendito sejas tu, Eterno nosso Deus”.

A Amidá se inicia com um versículo do salmo:

“Senhor, abre meus lábios e minha boca cantará o teu louvor”.
Louvores, súplicas, ações de graças exprimem em notável progressão as aspirações do homem para possuir a inteligência, alcançar o arrependimento e merecer a salvação, a cura , a paz...
“Louvado sejas tu, Eterno nosso Deus e Deus de nossos pais,
Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacó, Deus grande,
poderoso e imponente,Deus majestoso cujos atos manifestam
o amor e a graça. Tu és o Senhor de tudo e te recordas do amor
praticado pelos antepassados redimindo com amor os filhos de
seus filhos, pela glória do teu nome..............”

O KADDISH ou “santificação do Nome” é recitado inúmeras vezes durante o ofício. O Kaddish exprime a submissão à vontade divina, o amor de Deus e a esperança na vinda do reino de Deus sobre a terra. Ele está na origem do “pai nosso”.

“Grande e santo é Deus, no mundo que Ele criou conforme seus
desígnios. Que todos saibamos cumprir sua vontade, cada dia
mais, para assim – ainda em nossos dias – fazer deste mundo em
vivemos, um mundo melhor...............”

O ESTUDO
A sinagoga é ao mesmo tempo, casa de oração e casa de estudo. Lemos que, na profissão de fé do Shemá Israel, se diz: “tu as ensinarás a teus filhos e delas falarás – das palavras da Torá – sentado em tua casa, no caminho, ao te deitares e ao levantares”. O estudo é o imperativo maior do judaísmo, e o mandamento, MITZVÁ por excelência.

O pai e a mãe são considerados como os mestres naturais dos filhos: criar no lar uma atmosfera de fé e de amor do judaísmo, vivendo-o, estudando-o, era, até bem pouco tempo, a regra de ouro das famílias judaicas. A vida quotidiana, assim como o Shabat e as Festas, tinha sobretudo por finalidade fazer passar os ensinamentos dos pais para os filhos, para deles fazerem o penhor da transmissão da Aliança.

Paralelamente a este ensino familiar, a criança recebia no quadro da sinagoga ou da escola, um ensino completo, graduado que lhe permitia adiantar-se no conhecimento do SIDUR, do TANAH e do TALMUD. Tal estudo lhe fazia compreender que, quando chegasse por sua vez à idade adulta, ele deveria, quaisquer que fossem suas atividades profissionais, reservar, todos os dias, um tempo fixo para prolongar e aprofundar seu conhecimento da tradição.

Hoje, apesar de um evidente enfraquecimento das práticas familiares, grande número de judeus está consciente da absoluta necessidade do estudo e do conhecimento do hebraico e do judaísmo.

É por isso que, na França, foi criada uma rede de instituições educacionais: TALMUD TORÁ (cursos de instrução judaica hebdomadária e bi-hebdomadária), escolas judaicas de tempo integral, liceus, cursos de hebraico, movimentos de juventude, etc. Assim como curso de Bíblia, de hebraico, de pensamento judaico e conferências diversas para adultos.

Para um judeu, do século XXI, o estudo, longe de ser um vestígio do passado, permanece uma exigência imperativa do presente, a fonte de descoberta de tesouros preciosos, um meio para guiar seus pensamentos e seus atos no sentido de uma vida enraizada na tradição e voltada para o futuro.

O MANDAMENTO
Em hebraico: MITZVÁ

O termo significa mandamento – preceito, dever religioso. Deriva de uma raiz hebraica que significa mandar, ordenar. Designa, ao mesmo tempo, um mandamento e uma boa ação.

Há outros termos que designam as leis, as ordens e os estatutos contidos na Torá e na Tradição, mas o termo MITZVÁ é o único que pode ser utilizado para o conjunto dos mandamentos. As MITZVOT (plural de Mitzvá) incluem todas as categorias de mandamentos: a tradição talmúdica contou 613, regendo todos os domínios da vida do homem: nas suas relações com Deus e com seus semelhantes, no comportamento para com os animais e a natureza. Nada escapa à legislação da Torá, no sentido amplo da tradição escrita e oral: celebração do Shabat e das Festas, ofícios religiosos, legislação familiar, direito civil e penal, transações comerciais, etc.

O judeu deve compreender que, obedecendo às mitzvot, “ele escolhe a vida”, aceita realizar etapa por etapa, a imagem de Deus que está no homem, aceita conformar-se com o projeto de Deus, construindo na terra uma cidade de justiça, implantando – segundo uma fórmula litúrgica - “a vida eterna” na vida quotidiana.

Para o cumprimento da mitzvá, o judeu toma consciência da unidade fundamental da vida, do laço entre corpo e alma, entre o indivíduo e a coletividade, entre Deus e os homens. A mitzvá é o ato pelo qual o judeu coopera com Deus para o aperfeiçoamento do mundo. É o chamado que que o judeu deve ouvir, compreender , decifrar e ao qual é convidado a responder por um ato moral e ritual.

Por isso é que o judaísmo pode ser considerado como uma “religião da ação” e foi ridicularizado como uma “prática legalista”. Entre essas mitzvot que iluminam a vida do judeu, podemos aqui citar alguns exemplos, escolhidos nos diversos campos da existência.

1- Mandamentos em relação aos outros:
  • Amor ao próximo, ao estrangeiro, ao órfão , a viúva.
  • Honra devida aos pais e aos mestres.
  • Obrigação de fundar uma família.
  • Obrigação de dar aos filhos uma sólida instrução religiosa e moral.
  • Respeito absoluto pela vida.
  • Proibição de derramar sangue.
  • Honestidade absoluta nos negócios.
  • Proibição do roubo.
  • Não guardar rancor.
  • Precaver-se da calúnia, da maledicência, do falso testemunho.
  • Praticar a hospitalidade,
  • Visitar os doentes.
  • Alimentar os que têm fome, vestir os nus, etc.

2- Mandamentos em relação ao tempo:
  • O Shabat
3- Mandamentos relativos à oração:
O TALIT
Entrando numa sinagoga na hora de qualquer ofício da manhã – semana, Shabat ou festas – nota-se que todos os homens estão revestidos de uma espécie de grande chale branco, com listras pretas ou azuis, ornado de franjas,. Esse chale chamado TALIT permite de certa maneira aos homens de se isolarem do mundo exterior para se colocarem ”de pé diante de Deus”. Nos quatro cantos do Talit estão penduradas longas franjas de lã chamadas TSITSIT,. A própria Torá dá aos tsitsit um valor simbólico: olhando para eles os judeus se lembrarão dos mandamentos de Deus e serão levados a se desviarem das tentações para agirem de acordo com a Torá. É por isso que até hoje certos judeus praticantes usam os tsitsit, não só durante a oração, mas o dia todo, debaixo de suas vestes habituais, sobre uma peça de fazenda retangular chamada “pequeno talit”. O uso do talit na sinagoga continua sendo uma mitzvá muito observada.



OS TEFILIN
Também no ofício da manhã – exceto nos sábados e dias de festa – vêen-se igualmente homens usando na fronte e no braço esquerdo, pequenos cubos de couro preto, preso por tiras de couro, contendo escritos sobre pergaminho, quatro parágrafos da Torá ( Êx 13.1-10, 13.11-16 ; Dt 6.4-9, 11.13-21): são os “Tefilin”, sinais da Aliança que liga Deus a Israel e têm por fim lembrar que qualquer ação do homem deve estar a serviço de Deus – tefilin do braço - e que todos os seus pensamentos devem estar orientados pelos princípios da justiça e do amor contidos na Torá – tefilin da fronte.

A mitzvá dos tefilin é hoje em dia, menos praticada do que a do talit. Mas o seu símbolo permanece profundamente enraizado na alma judaica.



4- Mandamentos em relação à moradia:

A MEZUZÁ
Nas portas das casa judaicas, dos apartamentos, dos locais de habitação, vê-se presa no batente direito da porta, um pequeno estojo de metal, de marfim ou de madeira: é a “Mezuzá”. 

Ela contém um pergaminho sobre o qual se encontra, entre outros o primeiro paragrafo do Shemá que prescreve justamente essa mitzavá: “Tu as escreverás – as palavras de Deus - sobre os batentes de tua casa e sobre tuas portas”.

A mezuzá tem por finalidade lembrar que a casa, o lar, é um lugar privilegiado para santificar a vida, praticando os preceitos da lei divina.

A KASHRUT – leis alimentares

Como já dissemos, o judaísmo toma o homem na sua totalidade. Não separa o “espiritual” do “temporal”. Não é pois de admirar que um certo número de regras regulamentem as refeiçoes e leve à observância de certas normas alimentares.

As refeições são precedidas e seguidas de bênçãos.

Os alimentos para serem comidos devem ser “kasher”, isto é, conforme as diversas prescrições bíblicas e talmúdias referentes à distinção entre animais “puros” e “impuros”, e à maneira de consumi-los.

Citamos como exemplos mais significativos: proibição de certos animais como porco, coelho, cavalho, moluscos, crustáceos, proibição de consumir sangue, misturas de alimentos de carne e leite, etc

Muitas vezes o judaísmo foi ligado a certas regras alimentares, em detrimento do lugar e do sentido que elas tomaram no conjunto da tradição. Para o indivíduo, elas podem constituir uma ascese pessoal ajudando-o a adquirir e aceitar uma disciplina do corpo e da alma. Mas sobretudo elas se tornaram, para muitos, o símbolo da recusa de se assimilar às outras nações e um dos meios de expressão de sua pertença ao povo judeu.

Quem as observa integralmente marca a sua fidelidade a Deus, sua adesão ao judaísmo; a coragem de se impor leis particulares, as de um “povo de sacerdotes, de uma nação santa” que momentaneamente podem separá-los dos outros para conservar em toda a sua força, a lei de Deus.

Aquele que as abandona não deixa por isso de pertencer ao povo judeu. Para um outro, elas permanecem uma das componentes da “existência judaica”.


Referência Bibliográfica:

Curso de Cultura Judaica – Raízes Bíblicas do Cristianismo -
Irmã Maria Cecília Tostes Malta.
Colégio Sion do Cosme Velho

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