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Magazine na Lanterna

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Os manuscritos do mar morto

No sentido genérico, denominam-se pergaminhos do Mar Morto os rolos e fragmentos que foram descobertos entre 1947 e 1960 em sete locais ao longo da margem noroeste do Mar Morto, na Palestina. Os mais importantes desses manuscritos são os que foram encontrados em onze cavernas na localidade de Qumran. Os textos das cavernas 1 a 3 e 5 a 10 foram publicados em sua totalidade há muitos anos, assim como a maior parte daqueles achados na caverna 11.

Todavia, grande parte do material da caverna 4 levou muitas décadas para vir a público (a publicação só foi concluída recentemente). Essa caverna, a mais importante de todas, não continha pergaminhos completos, e sim um amontoado de aproximadamente 15.000 fragmentos que têm se constituído em um gigantesco quebra-cabeça para os estudiosos.

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Os textos de Qumran datam desde o final do terceiro século a.C. até o ano 70 d.C. (a maior parte deles foi produzida entre 150 a.C. e 40 d.C.). Eles foram escritos em hebraico e aramaico, à exceção dos fragmentos da caverna 7, todos em grego. O erudito W. F. Albright os caracterizou como “a mais importante descoberta de manuscritos dos tempos modernos”, e outros pesquisadores entendem que se trata da mais notável descoberta arqueológica do século 20. Os manuscritos são importantes porque lançam luz sobre três áreas: o judaísmo palestino antes da era cristã e no início da mesma; a transmissão do texto do Antigo Testamento no mesmo período; e o pano de fundo palestino do Novo Testamento.

Quanto ao conteúdo, os pergaminhos são classificados em várias categorias: (a) escritos bíblicos – textos completos ou parciais de quase todos os livros do Antigo Testamento, os mais antigos encontrados até hoje; (b) documentos da própria da seita de Qumran, como o Manual de Disciplina; (c) comentários de textos bíblicos (pesharim) feitos pela seita; (d) textos apócrifos ou pseudo-epigráficos conhecidos; (e) outros textos previamente desconhecidos.
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A hipótese mais aceita pelos estudiosos é que os manuscritos faziam parte da biblioteca de uma seita judaica, os essênios, uma comunidade ascética caracterizada por rígida disciplina, que questionava certos aspectos do judaísmo oficial e possuía fortes expectativas escatológicas. Eles acreditavam estar vivendo os últimos dias antes da guerra final entre os filhos da luz e os filhos das trevas, e sua comunidade foi destruída pelos romanos pouco antes do ano 70. Os principais documentos do grupo descobertos em Qumran são o Manual de Disciplina ou Regras da Comunidade, os Salmos de Agradecimento, o Rolo da Guerra e o Rolo do Templo.

Dos documentos bíblicos encontrados, o mais magnífico é um pergaminho contendo todo o livro do profeta Isaías, datado de cerca de 100 a.C., que em muito pouco difere do chamado “Texto Massorético”, o texto hebraico preservado em manuscritos medievais que serviu de base para as Bíblias modernas. Embora os escritos de Qumran não façam qualquer referência a Jesus, João Batista ou aos primeiros cristãos, muitas convicções e práticas dos essênios oferecem um novo e interessante contexto para certos aspectos do Novo Testamento e do cristianismo primitivo.
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segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Comenius: por uma educação de qualidade e sem ideologias políticas

Comenius: por uma educação de qualidade e sem ideologias políticas


Frase de Comenius: "Deve-se começar a formação muito cedo, pois não se deve passar a vida a aprender , mas a fazer"Johann Amos Comenius (1592 - 1670) foi educador e bispo protestante checo.
Já naquela época, Comenius pensava em educar crianças menores de seis anos e de diferentes condições sociais.


Foi um dos primeiros a pensar na educação das crianças e a reconhecer o valor da educação para elas.
A primeira educação da criança era introduzida pelo "colo da mãe" sendo desenvolvido dentro dos lares, defendendo então a importância da tarefa dos pais quanto a educação de seus filhos.
Comenius defendia que o cultivo dos sentidos e da imaginação precedia o desenvolvimento racional. 
Para o desenvolvimento da criança eram necessários materiais diversos que seriam internalizados, tornando assim a experiência mais concreta e a possibilidade do brincar e do aprender pelos sentidos.


Foi em 1657 que Comênius usou a imagem de "jardim-de-infância" onde as "arvorezinhas plantadas" seriam regadas sendo assim comparada com o lugar da educação das crianças pequenas, revelando a sua mais conhecida obra, a Didactica Magna (1633), onde faz analogia entre a educação de crianças e o cultivo de plantas. 

Comenius organizou a didática em quatro períodos: a infância, a puerícia, a adolescência e a juventude.Comenius foi um importante pensador que introduziu questionamentos acerca da educação de crianças menores de seis anos e o que elas deveriam aprender.

Comenius foi o criador da Didática Moderna e um dos maiores educadores do século XVII; já no século 17, ele concebeu uma teoria humanista e espiritualista da formação do homem que resultou em propostas pedagógicas hoje consagradas ou tidas como muito avançadas. Entre essas idéias estavam : o respeito ao estágio de desenvolvimento da criança no processo de aprendizagem, a construção do conhecimento através da experiência, da observação e da ação e uma educação sem punição mas com diálogo, exemplo e ambiente adequado. 

Comenius pregava ainda a necessidade da interdisciplinaridade, da afetividade do educador e de um ambiente escolar arejado, bonito, com espaço livre e ecológico. 

Estão ainda entre as ações propostas pelo educador checo: coerência de propósitos educacionais entre família e escola, desenvolvimento do raciocínio lógico e do espírito científico e a formação do homem religioso, social, político, racional, afetivo e moral. 

Jan Amos Komenský, nome original de Comenius, nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherský Brod (ou Nivnitz), na Moravia, região da Europa central pertencente ao antigo Reino da Boêmia (atual República Tcheca). 

Com a morte dos pais, vence muitas adversidades e estudou Teologia na Faculdade Calvinista de Herbon (Nassau) onde foi aluno de Alsted e se familiarizou com a obra de Ratke sobre o ensino das Línguas.

Começou nessa época a elaboração de um Glossário Latino-Checo no qual trabalhou cerca de 40 anos e que perdeu quando Leszno, cidade em que então vivia (1656) foi invadida por um exército católico e incendiada.

Com 26 anos de idade, regressa à Morávia. Foi professor na sua antiga escola e tornou-se pastor religioso em Fulnek. Assume então o encargo de dirigir as escolas do Norte da Morávia. Mas a insurreição da Boemia, que praticamente dá início à guerra dos 30 anos, vai marcar em definitivo a sua vida. 

A guerra político-religiosa e que foi também uma guerra civil com brutal perseguição aos não católicos, obrigou Comenius a deixar a sua igreja e a entrar em clandestinidade. As perseguições religiosas acentuam-se e Comenius trabalha para ajudar os seus irmãos na fé.
Expulso da Boemia em 1628efugiou-se em Leszno, na Polonia. A partir daí, e durante 42 anos, percorre a Europa (não católica) trabalhando sem descanso pelo seu país e pelos projetos científicos e educacionais que o movem. 
Alimenta e divulga o seu sonho reformista de, por meio da Pansophia, promover a harmonia entre os indivíduos e as nações.


Desenvolve então suas principais idéias sobre educação e aprofunda um dos grandes problemas epistemológicos do seu tempo – que era o do método.
Escreveu a Janua Linguarum Reserata e a Didactica Magna (1633-38), sempre buscando seus objetivos fundamentais "de uma reforma radical do conhecimento humano e da educação" – unidos e sistematizados numa ciência universal. 


Alguns amigos tentaram fazê-lo sair de Leszno e fizeram chegar o seu trabalho ao conhecimento de Luis de Geer, filantropo sueco de origem alemã. 
Foram esses mesmos amigos que publicaram uma obra sua, com o título Prodomus Pansophiae, livro esse que mereceu a atenção do próprio Descartes. Em 1641, vai para Londres com a missão de estabelecer algum entendimento entre o Rei e o Parlamento, e fundar um círculo de colaboração pansófica.
Aí permaneceu durante um ano. 


Em 1642 recebe um convite de Luís de Geer e do governo de Estocolmo para promover a reforma do sistema escolar da Suécia, onde permaneceu por seis anos, porém, sua missão na Suécia não teve o êxito esperado, pois suas idéias, particularmente as religiosas, não foram bem aceites pelos luteranos suecos. 

Em 1648 estabelece-se em Elbing, na Prússia oriental, (então território sueco) e escreve o Novissima Linguarum Methodus, publicado em Leszno.

Começou nova obra com vistas à reforma universal da sociedade, trabalho este que o autor não chegou a concluir e que era o De rerum humanorum emendatione Consultatio catholica ; sendo que segundo muitos autores esta obra inacabada é a que mostra de modo mais claro a grande consistência entre o seu pensamento filosófico, educacional e social. 

Todos os pesquisadores são unânimes em apontar a Didacta Magna ou A Grande Didacta, como sendo sua obra-prima e sua maior contribuição para o pensamento educacional. 

Comenius escreveu ainda O Labirinto do Mundo (1623), 
Didactica checa (1627), 
Guia da Escola Materna (1630), 
Porta Aberta das Línguas (1631),
Didacta Magna (versão latina da Didactica checa) (1631), 
Novíssimo Método das Línguas (1647), 
O Mundo Ilustrado (1651), 
Opera didactica omnia ab anno 1627 ad 1657 (1657), 
Consulta Universal Sobre o Melhoramento dos Négocios Humanos (1657), 
O Anjo da Paz (1667) e A Única Coisa Necessária (1668) entre outros. 


Continuou a ter uma vida bastante atribulada e movimentada, produzindo cerca de 200 títulos, vindo a morrer no dia 15 de novembro de 1670, em Amesterdam.

Comenius: o Pai da Didática Moderna

Comenius, uma voz quase solitária em seu tempo, defendia a escola como o "locus" fundamental da educação do homem, sintetizando seus ideais educativos na máxima: "Ensinar tudo a todos", e que para ele (1997, p.95), significava os fundamentos, os princípios que permitiriam ao homem se colocar no mundo não apenas como espectador, mas, acima de tudo, como ator. 

O objetivo central da educação comeniana era formar o bom cristão, o que deveria ser sábio nos pensamentos, dotado de verdadeira fé em Deus e capaz de praticar ações virtuosas, estendendo-se à todos: os pobres, os portadores de deficiências, os ricos, às mulheres. 

Suas concepções teóricas apresentavam consistência na articulação entre suas diversas facetas: do filosófico ao religioso, passando pela organização e divulgação do saber, pelo processo educativo de todos, e pela reforma da sociedade; mas, nem por isso pode garantir que fossem postas em prática de uma maneira mais ampla ou que obtivessem à sua época um maior reconhecimento de seus pressupostos inovadores; logicamente no contexto histórico da época e também da trajetória de vida do autor.

Não podemos desvincular o que uma pessoa faz, da sua filosofia de vida, seus ideais, sonhos, frustrações e experiências. Sua obra deve ser analisada no contexto em que surgiu: o Renascimento e a Reforma religiosa. 

No que diz respeito à Educação o ideal pansófico evidencia-se no desejo e possibilidades de ensinar tudo e todos. Esta necessidade se forjava e se sustentava na crença de que Deus, em sua infinita bondade, colocara a redenção ao alcance da maioria dos seres humanos, mas para tanto era necessário educá-los convenientemente.

Dizendo em outras palavras, para o autor, negar oportunidades educacionais era antes ofender a Deus do que aos homens.
A Pansophia constitui uma forma de organização do saber, um projeto educativo e um ideal de vida.
Para que se obtenha esse ideal o processo a ser desenvolvido é a Pampaedia , ou educação universal através da qual se conseguirá a reforma global das "coisas humanas" e um mundo perfeito ou Panorthosia. 


Comenius aponta como necessária a constante busca do desenvolvimento do indivíduo e do grupo, pois um melhor conhecimento de si mesmo e uma melhor capacidade de autocrítica levam a uma melhor vida social, assim como deve haver a solidez moral que pode ser conseguida por meio da educação. Para ele, didática é ao mesmo tempo processo e tratado. É tanto o ato de ensinar como a arte de ensinar. 

A arte de ensinar é sublime pois destina-se a formar o homem, é uma ação do professor no aluno, tornando-o diferente do que era antes. Ensinar pressupõe conteúdo a ser transmitido, e eles são postos pela própria natureza: são a instrução, a moral e a religião. 
O conhecimento que temos da natureza serve de modelo para a exploração e conhecimento de nós próprios.

Mas não é a natureza "natural" o exemplo a ser imitado, mas a natureza "social". 
Sua proposta pedagógica dirige-se sobretudo à razão humana, convocando-a a assumir uma atitude de pesquisa diante do universo e de visão integrada das coisas. Pretendia que o homem deve ser educado com vistas à eternidade, pois, sendo Espírito imortal, sua educação deveria transcender a mera realização terrena.

Salientava a importância da educação formal de crianças pequenas e preconizou a criação de escolas maternais por toda parte, pois deste modo as crianças teriam oportunidades de adquirir desde cedo as noções elementares das ciências que estudariam mais tarde.

Comenius defendia a idéia de que a aprendizagem se iniciava pelos sentidos pois as impressões sensoriais obtidas através da experiência com objetos seriam internalizadas e, mais tarde, interpretadas pela razão.
Seu método didático constituiu-se basicamente de três elementos:compreensão, retenção e práticas. Através delas se pode chegar a três qualidades fundamentais: erudição, virtude e religião, a quais correspondem três faculdades que é preciso adquirir: intelecto, vontade e memória. 


O método deve seguir os seguintes momentos: tudo o que se deve saber deve ser ensinado; qualquer coisa que se ensine deverá ser ensinada em sua aplicação prática, no seu uso definido; deve ensinar-se de maneira direta e clara; ensinar a verdadeira natureza das coisas, partindo de suas causas; explicar primeiro os princípios gerais; ensinar as coisas em seu devido tempo; não abandonar nenhum assunto até sua perfeita compreensão;
dar a devida importância às diferenças que existem entre as coisas.


A obra de Comenius constitui-se num paradigma do saber sobre a educação da infância e da juventude, através de uma "nova tecnologia social": a escola. 

A Didática Magna apresenta as características fundamentais da instituição escolar moderna.

Entre elas podemos apontar: a construção da infância moderna já como forma da uma pedagogização dessa infância por meio da escolaridade formal; uma aliança entre a família e a escola por meio da qual a criança vai se soltando a influência da órbita familiar para a órbita escolar; uma forma de organização da transmissão dos saberes baseada no método de instrução simultânea, agrupando-se os alunos e, não menos importante, a construção de um lugar de educador, de mestre, reservado para o adulto portador de um saber legítimo. 

Tal plano se desenvolve tendo em vista a evolução do homem ___ da infância à juventude já ____ antecipando ROUSSEAU. 

O método único e seus fundamentos naturais
"não se consegue de uma só semente produzir a mesma árvore? De um só método farei alunos capazes!" 


Eis as razões pelas quais para o autoro de um só método se justifica: o fim é o mesmo: sabedoria, moral e perfeição; todos são dotados da mesma natureza humana, apesar de terem inteligências diversas; a diversidade das inteligências é tão somente um excesso ou deficiência da harmonia natural; o melhor momento para remediar excessos e deficiências acontece quando as inteligências são novas.

Referências Bibliográficas: http://janaina-pedagogia.blogspot.com.br/2009/03/por-uma-educacao-de-qualidade-e-sem.html

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Resumo sobre os Contratualistas (Locke, Hobbes, Rousseau)

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Durante o período entre os séculos XVI ao XVIII surgiram correntes teóricas que visava refletir e tentar explicar como provavelmente se deu a criação do Estado, como a sociedade se comportava antes deste e quando os indivíduos sentiram a necessidade de sua criação. Os pensadores desta corrente filosófica tinham como base que o Estado havia sido criado por meio de um suposto contrato social. Entre os contratualistas mais famosos estão Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Apesar de que todos os três acreditavam que o Estado havia se formado a partir de um contrato social, existem algumas divergências no pensamento de cada um em relação ao caminho tomado para a consolidação do pacto.
Thomas Hobbes (1588 – 1679) em sua obra “Leviatã” discorre sobre o estado de natureza, o contrato social que os indivíduos tiveram necessidade de firmar e o governo soberano. Para Hobbes, os homens no estado de natureza são todos iguais, até mesmo o mais forte não possui a garantia de poder sobre os demais. Possuem, ademais, a mesma inteligência, entretanto devido à vaidade humana (requisito comum a todos) cada indivíduo se sente e se considera mais inteligente que o seu semelhante. Para Hobbes, quando dois homens desejam a mesma coisa e esta não pode satisfazer a ambos, e como estes se sentem possuidores de inteligência e capacidade de possuíla, tornar-se-ão inimigos e irão intentar de todas as formas, cada um a sua maneira, se sobressair em relação ao outro. No entanto, apesar do confronto entre iguais, um indivíduo nunca sabe o que seu semelhante está pensando ou planejando, o que gera insegurança e receio em relação a uma eventual tentativa de ataque. Logo, na visão de Hobbes, os seres humanos no estado de natureza estão sempre supondo o que o outro pode estar planejando fazer contra o seu semelhante. A insegurança em relação à possibilidade de uma atitude hostil leva ao ataque seja para vencer o outro ou como meio para se defender de uma possível agressão. Está declarada a guerra de todos contra todos.
Hobbes não acredita em uma natureza boa do homem, pelo contrário, ele é egoísta e egocêntrico não sentindo nenhum prazer na convivência com os seus demais. Hobbes afirma, aliás, que existem três causas que provocam discórdia entre os homens: competição, desconfiança e glória. A liberdade do homem enquanto no estado de natureza gera guerras, conflitos e instabilidades ao passo que este se vê livre para fazer o que deseja visando a realização dos seus interesses particulares. Os indivíduos sentem então a necessidade de um pacto social e para que este pacto se formule é necessário que todos abram mão de sua liberdade e dos direitos que possuíam no estado de natureza. O pacto social é formado para garantir paz e segurança aos indivíduos em troca da sua liberdade e direitos. É um pacto de submissão ao passo que todos transportam ao Estado todo o poder visando garantir a segurança.
Outro aspecto do contrato é a escolha de um suserano, este deverá possuir poderes ilimitados tornando-se assim o Estado do povo. Cabe ao suserano garantir a paz e a segurança dos indivíduos e para que isto seja cumprido satisfatoriamente é necessário que seu poder seja total e ilimitado. Pois se fosse limitado haveria alguém para julgar se o suserano estava sendo justo ou injusto se tornando, este que julga, o possuidor do poder pleno. Hobbes não vê outra escolha, o poder deve ser absoluto e o suserano deve manter temerosos os súditos para que obedeçam ao seu poder máximo. Entretanto, quando o escolhido para governar deixa de cumprir o dever de proteger um determinado indivíduo este prejudicado não precisa mais lhe dever sujeição, contudo aos outros não é permitida a escolha de se rebelar, pois o suserano ainda os protege. Na verdade a não necessidade do cumprimento de sujeição é escolha do suserano, que não mais confia no súdito, destituindo dele a obrigação de sujeição. Para Hobbes o pior que se pode acontecer é um eventual retorno ao estado de natureza.
John Locke (1632 – 1704) difere consideravelmente da teoria de Hobbes. Locke em “Segundo tratado sobre o governo civil” acredita que os homens no estado de natureza viviam em relativa harmonia e paz. Nesse momento, os homens eram dotados de razão e tinham sua propriedade. Propriedade para o autor, em uma primeira acepção, significava: vida, liberdade e bens. A segunda acepção de propriedade faz relação aos bens móveis adquiridos pelos indivíduos. Para o pensador a terra é um direito comum a todos, já que, foi dada por Deus e a partir do trabalho o homem a torna sua propriedade privada. Sendo esta terra sua, ele atribui um direito próprio excluindo todos os outros de possuí-la. O estado de guerra para Locke se dá a partir do momento em que há uma violação da propriedade privada fazendo-se necessário a criação de um contrato social. A finalidade principal do contrato era proteger a propriedade privada e preservar os direitos que cada um possuía no estado de natureza. Este acordo, para Locke, levou os homens a unirem e estabelecerem livremente o que ele vai chamar de “contrato de consentimento” diferentemente do “contrato de submissão” denominado por Hobbes.
Formado o estado civil através do contrato é necessária a escolha da forma de governo. A forma de governo é instituída por voto majoritário visando àquela que melhor se adéque às condições necessitadas pelos indivíduos. Escolhida a forma de governo, é necessário ter conhecimento sobre qual será o poder legislativo e o poder executivo e federativo, que serão subordinados ao primeiro. Entretanto, se o executivo e o legislativo violam a lei estabelecida e coloca a proteção da propriedade privada em risco, torna-se um governo tirânico. E a conseqüência desse poder tirânico é o retorno para o estado de guerra. O estado de guerra atribui aos cidadãos o direito de resistência, ou seja, o direito dos indivíduos se rebelarem por meio da força contra este estado civil.
Jean- Jacques Rousseau (1712 – 1778) em suas duas obras “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” e “O contrato social” discorre na primeira sobre a criação do pacto social, que para ele foi um pacto injusto, e na segunda propõe como poderia ser feito o contrato na medida em que todos fossem beneficiados. No “Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens” Rousseau diz que os homens no estado de natureza são amorais, não tem conhecimento do que é bom ou mau, entretanto não conseguem ver seu semelhante sofrer. Não fala como se deu o processo do estado da natureza para a sociedade civil, entretanto, afirma que o pacto social foi injusto, já que, iludidos pelo discurso de homens ambiciosos, homens grosseiros e inocentes perderam sua liberdade natural para a servidão. Ou seja, os indivíduos abriram mão da sua liberdade em troca do trabalho, da servidão e da miséria.
No Contrato Social, Rousseau propõe condições de possibilidade de um pacto legítimo, ao mesmo tempo em que, os homens, ao abrirem mão da sua liberdade natural, não se submetam à servidão, pelo contrário, que ganhem em troca a liberdade civil. O corpo soberano surgido após o pacto possui condições de elaborar as leis, já que, é um agente ativo e passivo das mesmas. Há na concepção de Rousseau uma relação de liberdade e obediência e, ademais, uma prevalência da vontade geral sobre a particular. O corpo administrativo do Estado, seja qual for, deve ser um órgão limitado pelo povo soberano, deve ser submisso à população. Rousseau defende que este corpo administrativo tem que ser limitado, pois a vontade particular é um perigo para a população, visto que a vontade particular visa seus próprios interesses, logo a vontade geral tem de vigiar e combater esta. A representação política não deve estar no nível de uma soberania. Na verdade Rousseau deseja no lugar de uma democracia representativa, uma democracia direta aos moldes das antigas Roma e Grécia. Haveria apenas um representante que colocasse em prática as leis criadas pelo povo soberano. Rousseau não crê em um retorno ao estado de natureza, pois o ser humano já perdeu a sua bondade e a pureza, infiltrado cada vez mais dentro da sociedade moderna.
São notáveis as várias diferenças nas teorias dos três contratualistas. Ao passo que Hobbes acredita em um ser humano egoísta e competitivo por natureza, Locke crê que este só se torna cruel no momento em que há a violação dos seus bens. Já Rousseau pensa que o indivíduo é amoral, não suporta ver seu semelhante sofrer, entretanto perde sua inocência ao passo que se integra cada vez mais na sociedade. O contrato social também possui visões díspares, em Hobbes os homens entram em acordo para firmar o pacto visando garantir segurança e paz, abrindo mão de todos os seus direitos e liberdade. Locke acredita que o contrato é firmado para preservar os direitos naturais e a propriedade privada e Rousseau não vê o pacto social como uma saída eficaz, pois faz o homem perder sua liberdade e se tornar servo. Logo, este último propõe outro tipo de contrato que seria o ideal, também divergente do contrato de Hobbes e de Locke. Enquanto Rousseau não acredita em um retorno ao estado de natureza, Locke propõe que este se dá através do surgimento de um estado tirânico que coloca a preservação da propriedade privada em risco. Hobbes acredita ser inconcebível um retorno ao estado de natureza, já que, o súdito não tem o direito a se rebelar contra o suserano, contudo não descarta a possibilidade de isto acontecer.
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Referências bibliográficas:

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