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Magazine na Lanterna

domingo, 3 de julho de 2016

"O Jesus Recordado" - A Metodologia Historiográfica de James D.G. Dunn

"O Jesus Recordado" - A Metodologia Historiográfica de James D.G. Dunn

Somente os idiotas armazenam na sua memória ferramentas para as quais não têm uso. É o desafio vital que excita o pensamento.
Rubem Alves, "Sobre homens e moluscos"

James D. G Dunn é Professor Emérito de Divindade na Universidade de Durham, ocupando a cadeira de John B. Lightfoot . Ele possui Ph.D. e D.D. na Universidade de Cambridge e M.A. e B.D. na Universidade de Glasgow. Foi presidente do Studiorum Novi Testamenti Societas, liderando o corpo internacional para os estudos do Novo Testamento.

É mais conhecido por ser um dos “campeões” da, assim nomeada ( ele mesmo foi o expoente a utilizar esta nomenclatura, ainda que posteriormente muitos problematizaram que ela abrange um leque de posições de estudiosos bem diversa) “Nova Perspectiva sobre Paulo". No Brasil a Editora Academia Cristã publicou a respeito suas obras monumentais “Nova Perspectiva sobre Paulo”  e a Paulus publicara “A Teologia do Apóstolo Paulo”. Porém ele despontou com trabalhos inovadores, fecundos, polêmico, concisos e abrangentes sobre a pneumatologia nas origens cristãs. Livros como “Baptism in the Holy Spirit”, “The Christ and the Spirit (vl 1): Christology” e “The Christ and the Spirit (vl 2): Pneumatology” possuem lugar garantido em todos os debates com preocupação acadêmica, acerca do tema.

Aqui faremos um recorte em seu trabalho acerca da questão do “Jesus Histórico”, buscando fazer uma breve e simples apresentação de sua perspectiva e proposta metodológica e epistemológica que oferece uma linha de trabalho peculiar; neste momento não aprofundarei em termos mais específicos acerca das descrições que o autor faz sobre o que considera histórico no ministério de Jesus. Devido a questões de tamanho e propriedades inerentes de visualização de blog, me ative a notas e citações que julguei imprescindíveis para ajudar na compreensão.

*Obs: os trechos de citações estão em tradução livre direta, por questões de espaço; caso se solicite, poderei com prazer repassar os originais em inglês. 

Introdução 


O livro em que emergira onde reuniu e organizou dados e tratamentos, as referências e argumentos de diversos trabalhos publicados, é o massivo “Jesus Remembered”.


Ele está dividido em cinco partes. Dunn abre com uma discussão sobre "Fé e Jesus Histórico”. Aqui, ele re-conta a história da ascensão da pesquisa crítica em Jesus e no início do Cristianismo. Parte 2: "A partir dos Evangelhos de Jesus", procura mais uma vez reconstruir o que podemos realmente saber sobre o Jesus dos Evangelhos . Tendo o material peneirado , Dunn, em seguida, aborda as questões de " Missão de Jesus” (parte 3), “auto-compreensão de Jesus” (parte 4), e “morte de Jesus, ressurreição, recordação e entre os seus seguidores” (parte 5).

"Jesus Remembered" é o primeiro volume de sua monumental série acerca dos primeiros 120 anos de cristianismo, “Christianism in Makind” (na qual também faz parte “Beginning from Jerusalem”), uma tentativa de "dar uma descrição integrada e fazer análise, tanto histórica e teológica, quanto social e literária dos 120 primeiros anos ou mais do cristianismo"("J.R.", p. 6). Dunn acredita que "Há três grandes questões para os alunos do início do Cristianismo: (1) O que havia em Jesus que explica tanto o impacto que ele acarretou sobre seus discípulos e por que ele foi crucificado? (p.2) Como e por que aconteceu que o movimento de Jesus que decolou depois de sua morte não permanecera dentro judaísmo do primeiro século e se tornou inaceitável para o judaísmo rabínico emergente? (3) o cristianismo que surgiu no segundo século foi como uma religião predominantemente de gentios, essencialmente o mesmo que sua versão do primeiro século ou significativamente diferente em caráter gentio? " (p 3).

Problematização com Crítica das Formas

Tradicionalmente, a metodologia da Crítica das Formas busca retirar acréscimos secundários para chegar no que é realmente factual em cada passagem, caso haja algum. Ela então concebe como aspecto básico do caráter da composição dos evangelhos, que foram uma composição a partir de um mosaico de pequenas unidades fragmentárias, transmitidas oralmente através de coletivos anônimos, de modo informal e sem controle; moldadas comunitariamente às situações vivenciais do contexto em que foram compiladas reunindo-se os fragmentos independentes e colocadas sob uma moldura no ato de escrita.[1] 

De acordo com o pensamento de um dos seus principais nomes, "O que as fontes nos oferecem é, antes de tudo, a mensagem da comunidade cristã primitiva, que, na maior parte a Igreja livremente atribuíra a Jesus" (Bultmann, Jesus, 12).

Dunn faz uma análise crítica destes postulados. Uma de suas provocações reverbera: "Poucos hoje, se há alguém, assumem que as fontes escritas levam o leitor de volta diretamente para o Jesus que atuou e ensinou na Galileia três ou mais décadas antes" (Jesus Remembered, p.173)

O pesquisador infere aguçadamente que “a ‘configuração padrão’ do ‘paradigma literário’ , ou seja, o ponto de vista que os autores dos evangelhos sinóticos foram literariamente dependentes uns dos outros” (geralmente levando em consideração a forma de Mateus e Lucas , dependendo de exemplares literários de Marcos e “Q” - nota minha) - "é demasiado limitado para explicar as complexidades da tradição de Jesus" (336) [grifo meu]. Ou seja, quem analisar de forma esmiuçada e também topicamente os Sinóticos pode ver os tipos de diferenças entre eles, mas grande número dessas diferenças dificilmente permite a conclusão de que, por exemplo, Lucas copiou Marcos só fazendo mudanças para atender às suas ênfases.

Usando gráficos regulares que apresentam os textos sinóticos em colunas paralelas e sublinhando os paralelos mais próximos, Dunn busca referências no trabalho de Kenneth Bailey, em "Informal Controlled Oral Tradition and the Synoptic Gospels”, sugerindo com rigor que as diferenças entre os paralelos sinóticos refletem uma interação complexa entre edição literária e o uso da tradição oral. Dunn também pesquisa de forma concisa o que ele descompactou em detalhes de numerosos escritos díspares sobre a unidade e a diversidade do judaísmo em que Jesus nasceu. Sugere que o critério orientador é o de fazer uma varredura ampla através da tradição sinótica sobre vários temas, procurando o que é, ao mesmo tempo mais característico e mais distinto, bem como o que é mais provável que seja autêntico.

A base: transmissão “informal e controlada”

Kenneth E. Bailey, Ph.D. em Novo Testamento, viveu por 47 anos no Oriente Médio, tendo sido professor de matérias sobre o Novo Testamento em diversas instituições, dentre elas o Biblical Department of the Near East School of Theology, em Beirut, e no Tantur Ecumenical Institute for Theological Research, em Jerusalém. Estudou diversos exegetas árabes cristãos antigos, como Ibn al’-Assãl, Ibn Al-Salíbí, e Ibn Al-Tayyib.

Neste clássico artigo ele postula que a forma como as sociedades das aldeias do Oriente Médio, marcadas pelo valor da tradição oral em reportar histórias, transmitem-nas, é feito em um ambiente informal, mas controlado. A imagem faz parte de uma reunião de aldeia onde a comunidade está a "preservar seu depósito de tradição" (Bailey, “Informal Controlled” p.6). [2]

Esta prática de "preservar as tradições tem alguns controles importantes que lhe são postos”. Primeiro, "Apenas aqueles dentro da comunidade quecresceram ouvindo as histórias têm o direito de recitá-las em reuniões públicas" ("Informal Controlled", p. 6) [grifo meu].

Em segundo lugar, às histórias que são importantes para a identidade das comunidades foi permitido alguma flexibilidade nos detalhes, mas os "tópicos centrais da história não podem ser mudados" (Bailey, "I.C.",p. 7) [grifo meu]. Bailey dá vários exemplos de como isso funciona na prática. Ele conta as ocasiões em que pediu a várias pessoas diferentes narrarem a mesma história. O que ele descobriu foi que cada vez lhe fora dito, essencialmente, a mesma história, com alguma flexibilidade, mas muitas vezes as linhas principais da história eram literalmente as mesmas, independentemente do contador. (p 10). Ele passa a observar que, analogamente para as comunidades cristãs dispersas, "lembrar as palavras e atos de Jesus de Nazaré foi afirmar sua própria identidade. As histórias tinham de ser contadas e controladas ou tudo o que fez eles serem quem eram estava perdido"(Bailey,"I.C.",p. 10).

A necessidade de uma abordagem que supere a crítica das formas clássica 

Ao formular a metodologia de seu programa de estudo, Dunn insiste que maior atenção deve ser dada ao fato de que os materiais evangélicos foram derivados, não aleatoriamente, de tradição oral. Ele não põe de lado a “hipótese das duas fontes”, admite que existem paralelos entre os Evangelhos que dificilmente podem ser explicados por outro que não dependência literária (144 n . 15). Mas, ao mesmo tempo, ele insiste que a maneira usual de se utilizar a “hipótese das duas fontes” uma ferramenta de pesquisa simplesmente errada (248).

Enquanto ele aceita a evidência de Fonte de Ditos, ele é cético em relação a tentativas de detectar camadas literárias em Q ( “J.R.”, p. 467, nota 70 ) e rejeita a afirmação de que “Q” era o Evangelho apenas voltado para alguma comunidade , rejeitando assim o noção de uma comunidade Q”.[3] 

Os Evangelhos não devem ser considerados como uma série de edições escritas dos documentos anteriores, a serem estudados de tal maneira a remover a camadas mais precoces para chegar à forma mais antiga da tradição. Em vez disso, a maioria dos paralelos entre o Evangelhos sinóticos, de fato exibem mais de características de “re-contagens” orais do mesmo evento: “variações dentro do mesmo” (“J.R.”, p.212)[grifo meu] , tal como seria de esperar para encontrar como o produto de um processo como o que os relatos contemporâneos de Kenneth Bailey na vida das aldeias no Oriente Médio. Ele ilustra este por um certo número de exemplos extraídos do Evangelho paralelos , todos os quais mostram que o paradigma literário simplesmente não serve ("J.R.", p.234).

  • Alguns exemplos; observe-se o que se tem de plena semelhança, dentre todo o conjunto:
 Mateus 7,13-14 - Entre pela porta estreita (...) muitos são os que entram e Lucas 13,24 - Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão.

Mateus 10,34-38 - Não penseis que vim trazer paz à terra; eu não vim trazer paz, mas uma espada. Pois eu vim jogar um homem contra seu pai, uma filha contra sua mãe e a nora contra sua sogra. Aquele que ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim; e aquele que amar filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. Aquele que não tomar sua cruz e não seguir após a mim não é digno de mim.

Lucas 12,51-53 - Pensais que vim trazer paz sobre a terra? Não, eu vos digo, mas sim a divisão. Pois de agora em diante uma casa com cinco pessoas ficará dividida; ficarão divididos três contra dois e dois contra três, mãe contra pai e pai contra mãe, mãe contra filha e filha contra mãe, sogra contra nora e nora contra sogra.

Lucas 14,26-27 - Quem quiser vir após mim e não odiar seu pai e sua mãe, mulher e filhos, irmãos e irmãs, sim, e até sua própria vida, não pode ser meu discípulo. Quem não carrega sua própria cruz e vem após mim não pode ser meu discípulo. 

Ninguém que lê estes relatos duvidaria que eles são a mesma história. No entanto, são diferentes o suficiente para sugerir que eles podem não ter a mesma fonte textual. Se assumirmos que estes estão mais para serem como diferentes recontagens orais da história dentro de uma comunidade, transmitindo suas histórias pela tradição controlada informal, então faz sentido. A história básica é a mesma: 1) Jesus está com os seus discípulos em um barco, 2) uma grande tempestade surge enquanto Jesus está dormindo, 3) os discípulos acordam Jesus, 4) Ele repreende o vento e o mar e traz calmaria, 5 ) Jesus questiona a falta de fé dos discípulos. Várias linhas são lembradas literalmente (“J.R.”, p.. 217).

Implicações

Sua aceitação da hipótese das duas fontes é criticamente qualificada, não apenas pelo reconhecimento do uso de tradições independentes por Mateus e Lucas, mas também por sua hipótese de a transmissão oral da tradição. Advêm diferenças decorrentes da vida dos que estão envolvidos na tradição oral, em que a partir das variedades destas tradições paralelas se diz a redação literária. Disso ele tira duas implicações.

Primeiro, as fontes escritas foram moldadas pela transmissão oral das tradições que elas incorporam. Em segundo lugar, a transmissão oral da tradição continuou ao lado da escrita, remetendo para múltiplas performances de Jesus e as performances de várias testemunhas de Jesus, variações de desempenho na transmissão posterior da tradição, ou o desempenho dos escritores dos Evangelhos. Para Dunn, o modelo de variação de desempenhos orais prepondera sobre redação sobre a fonte (“J.R.” pgs 336 e 441 nota 42). [4]


O resultado é um Jesus que nunca está livre de interpretação, mas reconhece-se que essa interpretação começou com Jesus e com os seus seguidores antes do evento pascoal. Assim, o Jesus que emerge da investigação histórica como tal é sempre "oJesus Recordado", que é o acessível para estudarmo-lo. Isso nos lembra que Jesus não é diretamente acessível mas só é conhecido através do impacto que ele fez sobre aqueles que viram-no e ouviram -no e na transmissão de suas memórias sobre ele. Estas memórias são interpretadas e não transmitidas de fatos nus; são múltiplas, envolvendo uma diversidade de interpretações.



Destaca-se daí que, para Dunn, as tradições sobre Jesus originam-se na memória da comunidade dos primeiros cristãos.  Pode-se supor com propriedade que o processo de tradição começou com a palavra inicial e/ou ato de Jesus (“A New Perspective on Jesus: What the Quest for the Historical Jesus Missed”, p. 239). Estas palavras e/ou atos foram então, memorizados na comunidade. A fé de seus discípulos foi, pelo menos indiretamente na sua forma básica, uma parte da personalidade de Jesus, assim temos acesso a Jesus Nazaré como é recordado e esta forma de percepção de sua herança derivou de uma parte de sua personalidade. Era um processo de recordação compartilhada e não devemos esquecer o papel contínuo das testemunhas transmissoras (“New Perspect on Jesus”,p. 242) [grifo meu].

A proposta 


O caráter das fontes como a memória da comunidade também significa que o melhor método é procurar características e temáticas das tradições de Jesus ao invés de tomar episódios individuais isolados hermeticamente. Como por exemplo, os registros dos ensinamentos de Jesus no Evangelho estão saturados com referências ao Reino de Deus, e Dunn considera que é quase impossível explicar tais dados que não seja na suposição de que Jesus foi recordado como a falar muitas vezes sobre o assunto (“J.R.” p.384).


Assim, ele não procura basear a sua reconstrução no estabelecimento da autenticidade de ditos individuais ou em incidentes sem correlações contextuais mais amplas, mas pela coerência geral das fontes no pressuposto de que a tradição foi formada pelo impacto de Jesus durante seu ministério (pgs 332, 335). Ele descreve sua abordagem em termos do Realismo Crítico proposto por Bernard Lonergan e adotado por Ben F. Meyer e N. T. Wright ( “J.R.”, p. 110 nota 11 ).   [5] 

Emerge daí uma figura de Jesus com forte preocupação escatológica, com acentos apocalípticos para sua principal pregação, o “Reino de Deus”, em que na verdade chegara a passar por uma frustração por chegar a prever que sua vinda estava em iminência, mas que perseverara até o fim na coerência com sua missão para este Reino.

O futuro reino que Jesus anuncia estar próximo será uma das inversões escatológicas ( “J.R.” p.412, nota 17 ): haverá uma inversão de status, e os mais pobres herdarão o reino; o discipulado envolve força de vontade entre as dificuldades e um compromisso total; haverá um julgamento, sendo que é o juízo final que está explicitamente em vista ( “J.R.”, p.425).

As lembranças mais antigas nas quais Dunn se baseia com mais ênfase remetem a um círculo mais amplo de discípulos do que os Doze (pg. 239, nota 43). Ele considera que houve professores cristãos que serviram como o repositório de tradições congregadas por via oral (“J.R.” p. 176) [grifo meu], mas estes parecem terem sido referenciados como tais depois do ministério de Jesus. Dunn tem extrema cautela quanto a traçar os ensinamentos de volta para o grupo interno dos Doze e , em seguida, ao próprio Jesus, como se tivesse sido cuidadosamente controlada por meio de ensino memorização não parece explicar a divergências na tradição como tem chegado até nós.

Não só o núcleo estável, mas também a diversidade de performances pode voltar para múltiplas performances de Jesus ou das várias testemunhas no início (“J.R.” pg. 532, nota 34 , nota 42 , 660). O processo da tradição “precisa ser distinto da memória individual, ainda que pudesse ser descrita como uma memória corporativa que proporciona identidade ao grupo que assim recorda”. (“J.R.” p. 173). “Ao concentrar atenção particular sobre o caráter comunal do processo de transmissão primitivo, não deveríamos descartar a ênfase mais tradicional sobre a figura da autoridade individual, respeitada pela própria associação dele ou dela com Jesus durante os dias de sua missão”. (“J.R.”, p 243). “Onde mais os evangelistas encontraram a tradição? Armazenada, ociosa, em uma velha caixa, no fundo da casa de algum mestre? Armazenada, não recitada, na memória falha de um velho apóstolo?! Dificilmente.” (“J.R.” pg 250) [6] 


Assim, James D.G. Dunn acredita que "os primeiros transmissores dentro das igrejas cristãs [eram] preservadores mais inovadores... procurando transmitir, recontar, explicar, interpretar, elaborar, mas não criar de novo... Com o corpo principal da tradição sinóptica, creio eu, temos na maioria dos casos o acesso direto ao ensino e ministério de Jesus como foi lembrado [grifo meu] desde o início do processo de transmissão (que muitas vezes antecede a Páscoa) e de acesso de modo bastante direto ao ministério e ensino de Jesus através dos olhos e ouvidos daqueles que andavam com ele" (em "Messianic Ideas and Their Influence on the Jesus of History", in The Messiah, ed. James H. Charlesworth. pp. 371-372, citado em “J.R.” pg 653)


A transmissão da memória sobre Jesus fora marcada pelo dilema dos primeiros cristãos, sendo que à medida que ia se ficando mais amplamente nítido que se constituíam um grupo religioso à parte, “quase certamente teriam exigido uma história (ou histórias) fundacionais para explicar, a si mesmos tanto quanto a outros, porque haviam formado grupos sociais distintos” (“J.R.” p. 175). Isto reflete para ele, principalmente, nas passagens sobre atritos com os grupos judaicos. Ele aprofunda mais a respeito desta questão em "Jews and Christians: The Parting of the Ways, A. D. 70 to 135".

Dale C. Allison Jr. - " Este não é apenas um livro mais sobre Jesus, mas sim uma ampla apresentação, por parte de um estudioso renomado, das conclusões a que chegou durante a vida de reflexão e crítica bem informada. É cheio de bom senso e de muito aprendizado. Como sempre, o trabalho de James Dunn é caracterizado não só por uma familiaridade com o mundo judaico real de Jesus do primeiro século, mas também por um conhecimento sem igual da vasta literatura secundária. Especialmente sugestivo é o apelo consistente em continuar a tradição oral, o qual frequentemente parece justificado."

John P. Meier - " Durante décadas, James D.G. Dunn tem sido um líder no estudo sério e equilibrado de ambos: cristologia e história da pesquisa sobre Jesus. Tenho aproveitado muito de seus muitos livros e artigos e tenho o prazer de ler esta destilação maciça de seus muitos anos de reflexão e publicação sobre o Jesus histórico. Eu recomendo altamente “Jesus Remembered” para todos aqueles interessados ​​em uma abordagem séria e metodologicamente sofisticada para as grandes questões que atormentam e estimulam a pesquisa do Jesus histórico hoje."

Jonathan L. Reed - " 'Jesus Remembered' fornece um olhar fresco e completo das origens cristãs que é provocante e ao mesmo tempo criterioso em suas avaliações. James Dunn está igualmente em casa na história da pesquisa, nos detalhes dos Evangelhos, na matriz de fontes não bíblicas e na arqueologia do mundo de Jesus; e ele tece-os em um relato coerente e credível das tradições de Jesus."

NOTAS:

[ 1] para aprofundar mais, de forma acessível a iniciantes, indico “Literary Forms in the New Testament”, de James L Bailey e Lyle D. Vandeer Broek. 

[2] Por Bailey: As narrativas históricas importantes para a vida do indivíduo da aldeia também se enquadram neste segundo nível de flexibilidade que prevê a continuidade e liberdade para a interpretação individual da tradição. Mais uma vez um exemplo ajudará a esclarecer esse aspecto do nosso tema. Há vinte e cinco anos atrás Makhiel Pai da aldeia de Dayr Abu Hennis contou-me sobre fundação da sua aldeia. Os romanos chegaram no século II e construiram a cidade de Antinopolis. 

Mais tarde, monges cristãos construíram um mosteiro na periferia da cidade para o fim específico de testemunhar sua fé na cidade pagã. Para sustentar-se eles fizeram cestas de folhas de palmeira para trabalhadores, mas ao invés de conferir às cestas as funcionais duas alças , os monges colocaram uma terceira alça ao lado. Como eles vendiam as cestas no mercado da cidade , os clientes foram atraídos pela qualidade e preço, mas ficavam surpresos com as três alças. 

" Por que você colocou três alças nestas cestas ? eles perguntavam . 

"Vejam bem", os monges respondiam” isso tem a ver com o que cremos". 

“Que interessante. Em que é que você crê?” vinham os questionamentos. 

 "Bem, nós sabemos que Deus é três em um , assim como esta cesta é uma cesta e ainda tem três alças", os monges poderiam responder. ("Informal Controlled” p. 8) 

Para Bailey, após a Queda de Jerusalém, houvera um colapso em estruturas de reprodução social de diversos povoados na Palestina, de forma se sentira necessidade de impetrar um maior controle formal sobre a tradição.

[3] tradição acadêmica fundamentada nos clássicos trabalhos de John Kloppenborg 

[4] Ver também Samuel Byrsokog “Jesus the Only Teacher”. Stockholm: Almqvist anda Wiksell, 1994.

[5] A reflexão de Lonergan quanto ao realismo crítico se dá no âmbito de um inquérito filosófico-teológico; ele afirma que o Realismo Crítico reconhece a distinção entre o mundo da experiência sensorial imediata e do mundo como mediado pelo significado (que é o mundo real), procurando conhecer o mundo sabendo que este conhecimento é mediado pelo significado.

Lonergan observa que "a mesma operação não só intenta um objeto, mas também revela um pretendido assunto", em que atentando para com o conhecimento, o conhecedor pode, de acordo com a própria estrutura do atentar, decidir "operar de acordo com as normas imanentes no relacionamento espontâneo do que foi vivido, compreendido, afirmado experimentar , compreender, julgar e decidir " ( Method in Theology, p. 15).

"É admitido que, uma vez que a verdade seja alcançada, é intencionalmente independente do sujeito que a alcançou: que é a auto-transcendente e meta da investigação. Mas o lar ontológico da verdade é o assunto. O objetivo não é alcançado à parte de um processo exigente, como a busca da verdade revela-se no indagar, transforma-se de indagação em indagação e de questionamento em resposta-questionamento, solicita reflexão sobre as respostas, e chega ao clímax no ato de julgar-se ser com certeza ou provavelmente verdadeira ou falsa. Todas estas são atividades do sujeito e não há objetividade sem todas elas. Verdade, decerto, amadurece na árvore do assunto, e a objetividade é o fruto da subjetividade na sua forma mais intensa e persistente" - Ben F. Meyer, ( Critical realism and the New Testament , pgs.139-140)

Esta [ i.e., o Realismo Crítico] é uma maneira de descrever o processo de "saber" que reconhece a realidade da coisa conhecida, como algo diferente do que é o conhecedor (daí o ‘realismo’), enquanto também reconhecendo plenamente que o único acesso que temos a esta realidade encontra-se ao longo do trajeto em espiral de diálogo adequado ou uma conversa entre o conhecedor e a coisa conhecida (daí o 'crítico’). Este caminho leva à reflexão crítica sobre os produtos do nosso inquérito sobre a ‘realidade’, para que nossas afirmações sobre ela reconheçam a sua própria provisoriedade. O conhecimento, em outras palavras, embora em princípio concebe a realidade independente da mediação do conhecedor, nunca é em si mesmo independente do conhecedor. - N.T.Wright, (The New Testament and the People of God, p. 35)

[6] O famoso erudito neotestamentário Charles H. Dodd realizou uma consistente arguição de que Atos 10, 34-43 constitui um quadro geral da pitoresca tradição narrativa oral de Pedro, em “Apostolic Preachings and it’s Developmens” (1944), abrindo um campo fecundo de pesquisa que ainda perdura entre os estudiosos, ainda que com variações de conclusões. Dentre este labor de identificar fontes de narrativas, quadros e tradições entre discípulos de Jesus, possuímos exemplos prolíficos e amplos, variando desde fontes entre mulheres, como Carla Ricci em “Mary Magdalene and Many Others: Women Who Followed Jesus”, 1994, em que, dentre outros postulados instigantes, vemos Joana (Lucas 8,3) como provável fonte, no material lucano (Atos e “L” em Lucas – além das complementações em materiais marcanos e em “Q” ou “Mateus” dependendo da teoria de fontes), no que se refere à corte e membros da corte herodiana; outros materiais derivariam de Tiago, como postulado por Bruce Chilton e Jacob Neusner em “The Brother of Jesus: James the Just and His Mission”, 2001.  

Fonte de referência, estudos e pesquisa:
 http://adcummulus.blogspot.com.br/

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