As catástrofes naturais sempre ocorreram na história da humanidade, desde tempos imemoriais. As mais comuns e devastadoras têm sido terremotos, erupções vulcânicas, tempestades e enchentes. Os observadores apontam que nas últimas décadas tem se verificado um aumento dessas catástrofes, tanto em termos de freqüência quanto de perda de vidas. As crescentes agressões ao meio-ambiente e o crescimento contínuo da população mundial, em particular no mundo subdesenvolvido, são fatores a serem considerados entre as causas e as conseqüências desses eventos.
As catástrofes chocam as pessoas profundamente por causa de sua violência e da tremenda devastação que produzem, principalmente em termos de vidas humanas. Os tsunamis da Ásia causaram enorme perplexidade na opinião pública devido à sua transmissão quase que ao vivo pela televisão, ao número sem precedentes de vítimas, desde turistas a comunidades nativas inteiras, e ao seu caráter incompreensível, quase surrealista, surpreendendo tantas pessoas de modo tão cruel e inesperado.
As ondas gigantes também suscitaram muitas indagações de natureza teológica. Surgiram muitos artigos na imprensa secular e religiosa expondo os mais variados pontos de vista sobre o assunto. Em particular, indagou-se acerca da natureza e do caráter de Deus à luz desses acontecimentos. Os materialistas aproveitaram para dizer que a Divindade não teve nada a ver com isso porque, afinal de contas, ela não existe. Outros observadores emitiram opiniões irônicas e zombeteiras em relação aos religiosos e suas crenças. Por outro lado, muitos cristãos se viram forçados a repensar certas noções e a responder aos questionamentos de tantas mentes perplexas.
A Bíblia fala de grandes flagelos naturais que foram ordenados por Deus com propósitos de juízo, disciplina e advertência. Indivíduos, grupos ou povos que se rebelaram abertamente contra Deus, e cometeram atos condenados por ele, receberam a manifestação da sua ira, da sua indignação. São exemplos clássicos o Dilúvio e as dez pragas do Egito. Em outras ocasiões, Deus usou seres humanos como instrumentos da sua justiça e da sua punição. Um exemplo conhecido foram os violentos ataques dos israelitas contra os cananeus durante a conquista da Palestina. O povo de Israel também foi, muitas vezes, objeto de grandes e dolorosos castigos divinos.
Isso não significa que toda e qualquer catástrofe natural ou provocada tenha essa finalidade. Nem sempre se vê uma clara relação entre pecado e castigo em certos tipos de sofrimento. Muitas vezes os indivíduos ou grupos atingidos pela dor e pela morte não são particularmente pecaminosos aos olhos de Deus. Nas tragédias coletivas é comum morrerem lado a lado cristãos e não-cristãos, pecadores empedernidos e filhos de Deus. Deus não está ausente, mas os seus propósitos são insondáveis. Tentar entender tudo racionalmente não é o melhor caminho. No século 20 e início do século 21, o mundo vem testemunhando horrendas tragédias, não só causadas pelos elementos da natureza, mas por ações humanas. Conflitos bélicos, genocídios, atentados terroristas e outras crueldades do homem contra o homem deixaram um rastro de indescritível sofrimento.
Os cristãos entendem que vivem em um mundo caído, rebelado contra o seu Criador e sujeito a todos os males decorrentes dessa alienação. Todavia, o Deus que se manifesta em justiça e juízo possui outros atributos igualmente importantes como a graça, a misericórdia e o amor. Isto se percebe de maneira especial em Jesus Cristo, a suprema manifestação do Pai. Nas palavras de Isaías 53, entendidas pelos cristãos como uma referência ao Messias, este é descrito como o “homem de dores e que sabe o que é padecer”. Alguns teólogos falam sobre o Deus sofredor, o Deus que sofreu com a humanidade e pela humanidade na pessoa do seu Filho. O Cristo compassivo e misericordioso manifesta o amor de Deus pelas suas criaturas e desafia os seus seguidores a terem a mesma compaixão e solidariedade pelos que sofrem.
Que conclusões podemos tirar de tudo isto a respeito dos tsunamis na Ásia? Deus não foi pego de surpresa e nem ficou impotente diante da tragédia, sem poder impedi-la. O maremoto devastador não estava fora do seu controle ou dos seus propósitos. O que não devemos fazer, diante do caráter incompreensível da calamidade, é tentar sondar os desígnios divinos nesse evento. Foi um prenúncio dos tempos do fim? Não temos como saber de modo conclusivo. A Escritura nos autoriza a crer que, apesar de estar no controle de tudo, Deus ficou pesaroso com o que ocorreu, com a morte de tantas criaturas suas, entre as quais muitas pessoas tementes a ele.
Além disso, nunca podemos esquecer que vivemos em um mundo imperfeito e decaído, no qual as tragédias forçosamente acontecem, com diferentes graus de amplitude. Quase todas as pessoas e famílias, uma vez ou outra na vida, enfrentam os seus próprios tsunamis particulares. Tanto cristãos quanto não-cristãos estão sujeitos a isso, porque partilham do mesmo habitat, estão sujeitos às mesmas limitações. Nesse contexto inevitável, duas realidades são importantes: primeiro, Deus conhece pessoalmente a realidade do sofrimento e se mostra solidário com os sofredores, por meio de Cristo; segundo, os que crêem no Senhor, e têm experimentado o seu consolo nos momentos de aflição, são exortados a se solidarizarem com os que padecem (2 Co 1.3,4), por meio da oração, do auxílio material e da presença pessoal.
Jesus Cristo, meu Senhor e Salvador!
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