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Magazine na Lanterna

quinta-feira, 14 de maio de 2015

A Filosofia Medieval - Filosofia da Religião e o Patrística


“Aquilo que a verdade descobrir não pode contrariar aos livros sagrados, quer do Antigo quer do Novo Testamento.”  (Santo Agostinho) 

A Filosofia Medieval surge com a Patrística, Filosofia dos padres da Igreja, no século II d.C., período em que há o declínio do Império Romano, e, ao mesmo  tempo, a expansão do Cristianismo. Como a religião cristã é uma religião essencialmente missionária, isto é, tem como propósito a cristianização, a pregação  das Sagradas Escrituras, os clérigos criaram a Apologética, a saber, a apologia ao  Cristianismo. Para tanto recorreram à Filosofia platônica e acabaram por produzir uma  síntese entre a Filosofia platônica e a doutrina cristã.  O principal nome da Patrística foi Santo Agostinho. Se utilizando da Filosofia Platônica, Santo Agostinho traça o seguinte paralelo: o mundo das ideias, exprime a perfeição e seria equivalente às ideias divinas, que exprimem a verdade; e  o mundo sensível, cópia imperfeita do mundo inteligível e seria equivalente às ideias  mundanas, que são as opiniões. Se, para Platão, o Sol ilumina a ideia de Bem, para Santo Agostinho, Deus ilumina as verdades eternas. Segundo a teoria de iluminação  de Santo Agostinho, o homem recebe de Deus o conhecimento das verdades eternas: tal como o Sol, Deus ilumina a razão e torna possível o pensar correto. Neste ponto, podemos perguntar se qualquer homem terá a sua razão iluminada por Deus. Certamente não, mas somente aquele que crê, que tem fé. Assim podemos entender a expressão agostiniana: “Credo ut intelligam (Creio para que possa entender).” Desse modo, a razão é considerada auxiliar da fé e a ela subordinada. Em suma, do século II ao século IX, a chamada Alta Idade Média, foi o  período em que predominou a Patrística: os padres da Igreja retomavam a cultura  antiga de modo a adequar o conhecimento até então produzido às verdades teológica. Do século X ao século XIV, a chamada Baixa Idade Média, temos a Escolástica: que é a Filosofia cristã propriamente dita, já que a Filosofia do período patrístico era a Filosofia denominada greco-romana, ou Filosofia da Antiguidade tardia. De modo geral, podemos dizer que, apesar da razão ser considerada “serva da Teologia”, no século XI, com o renascimento urbano, surgem diversas universidades por toda a Europa. Nos debates filosóficos, a razão parece ganhar certa  autonomia. Nesse momento, a Filosofia de Aristóteles, que antes era vista com desconfiança, tida como perigosa para a fé, é retomada por São Tomás de Aquino. Este, por sua vez, procura adaptar tal Filosofia à Escolástica, criando o que passou a ser conhecido como Filosofia Aristotélico-Tomista. São Tomás de Aquino escreveu a Suma teológica, na qual as questões de fé são abordadas pela “luz da razão” e a Filosofia como o  instrumento que auxilia o trabalho da Teologia. Santo Agostinho, pintura de Simone Martini, 1325.

2. Filosofia Cristã: Problemas
Seja na Patrística ou na Escolástica, o problema da Filosofia cristã era o de encontrar um meio para reunir as verdades da razão e as verdades da fé, isto é, reunir o que a Filosofia havia separado em sua constituição primeira: a razão e o mito.  Ora, que “mitos” do Cristianismo precisam ser provados ou, ao menos, explicados racionalmente? Faz-se necessário:

1. Provar a existência de Deus e os atributos de sua essência, isto é, provar racionalmente que Deus existe e possui, por essência, os seguintes atributos: eternidade, infinitude, onisciência, onipotência, bondade, justiça e misericórdia.

2. Provar que o mundo existe e não é eterno, mas que foi criado por Deus do nada e retornará ao nada, no dia do Juízo Final; explicar racionalmente como o mundo foi criado segundo a vontade divina e é determinado pela Providência divina, através das leis da Natureza e dos milagres.

3. Provar que a ação divina pode ter efeitos materiais e finitos, como a criação do homem e do mundo, apesar da natureza de Deus ser imaterial e infinita.Tal inferência de que uma causa imaterial é infinita pode ter como efeito algo material e finito parece ser um tanto absurdo para os filósofos gregos, pois, segundo os princípios da identidade e da não contradição, uma causa deve ser, necessariamente, da mesma  natureza que seu efeito. Ora, a natureza divina não é a mesma que a natureza humana ou mundana, portanto, a criação do mundo por Deus parece ser uma contradição. Se não for possível provar racionalmente a criação do mundo devemos, visto que a razão humana é limitada segundo alguns metafísicos cristãos, considerá-la como um mistério da fé.

4. Provar que não há contradição entre a liberdade humana e a onisciência-onipresença de Deus. Se Deus fez cada um dos homens e, desde sempre, determinou o que cada um deles escolherá, então o homem não é livre, mas suas escolhas já foram pré-determinadas pela vontade divina. Poderia se perguntar para quê tantas provas? Tais provas não servem senão para mostrar que fé e razão, revelação e conhecimento intelectivo não são  incompatíveis e, quando o forem, a fé ou a revelação deve ser considerada superior à  razão e ao intelecto, que devem se submeter a ela. Como escreveu Tomás de Aquino: “sempre que Agostinho, imbuído das doutrinas dos platonistas encontrava nos seus escritos algo consistente com a fé, adotava-o; e aquilo que era contrário à fé, corrigia-o.  (Suma teológica I, 84, 5)”.
Você sabia? São Tomás de Aquino nasceu em 1225 e – segundo a maior parte dos biógrafos – morreu em 1274. 
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Santo Tomás de Aquino por Fra Bartolommeo (1395 - 1455)

Podemos concluir que, como vimos, a problemática cristã constitui-se essencialmente na relação entre fé e razão. Conhecemos verdadeiramente  pela fé e pela razão juntas? Apenas pela fé? Apenas pela razão? Predominantemente  pela fé ou pela razão? Segundo Verweyen, em sua obra Historia de la Filosofia Medieval,  temos na Escolástica três soluções: 

1. A racionalizante: a verdade é apreendida pela razão conforme a  revelação divina e não a contradiz, além disso, há a inclinação em elevar  ao máximo as pretensões da razão.  

2. A semirracionalista: a verdade é revelada e a razão tem o papel  explicativo ou até persuasivo, ou seja, trata-se de manter em posição  equidistante os extremos à fé e ao saber. 

3. A antirracionalista: a verdade é revelada e necessariamente crida, sem fundamentos racionais, portanto, se espera muito pouco da razão visto que a salvação do conhecimento depende da fé. No decorrer do mundo medieval, algumas correntes tentaram conciliar fé e Filosofia.  No geral, temos três grandes correntes:

1. Racionalista 

Erígena, teólogo cristão, dizia que o princípio da verdadeira autoridade é a verdade  encontrada pela razão. A verdadeira religião e a  verdadeira Filosofia coincidiam: a Filosofia não é outra  coisa “senão expor as regras da religião verdadeira,  com a qual se investiga humildemente,  respeitosamente e razoavelmente, a causa suprema e  principal de todas as coisas, ou seja, Deus (De praed. I, 1).” Para o teólogo, a tarefa da razão é descobrir o  sentido das doutrinas bíblicas. Temos da revelação uma interpretação alegórica das imagens, mas seu conteúdo profundamente espiritual só pode ser apreendido por filósofos. O viés racionalizante fica evidente ao defender que a verdade é encontrada pela razão e toda  aquela que não for confirmada pela razão é insegura, nas palavras do mesmo: “Toda  autoridade que não é aprovada pela razão verdadeira, parece se débil, pois me parece  que a verdadeira autoridade não é outra coisa que a verdade encontrada em virtude da razão (De Divinat I, 71).”. Abelardo, que também parece se  aproximar de um viés racionalizante, afirma que a  razão deve examinar a autenticidade do conteúdo da suposta revelação e, ao mesmo tempo, defendê-la contra as objeções filosóficas. Deve-se acreditar na revelação não porque Deus disse, mas porque se convence de que é assim. Abelardo não acata propriamente um racionalismo teológico extremo. Ora diz que querer conceber todos os mistérios da revelação é arrogância, ora sustenta que as revelações inconcebíveis carecem de sentido e que  admitir um dogma implica, antes de tudo, estar convencido do mesmo. Para crer em  uma doutrina é preciso entendê-la primeiro, pois seria motivo de riso se alguém pretendesse instruir outra pessoa sobre coisas que nem ele mesmo entende. Raimundo Lullo, ilustre racionalista, diz ser a fé uma fonte de conhecimento elevada acima das faculdades naturais do entendimento, mas ela é como um instrumento do qual se serve o entendimento para encontrar o caminho que o conduz às verdades supremas. Desse modo, Lullo efetua a seguinte inversão: enquanto para os semirracionalistas, como Santo Agostinho e Tomás de Aquino, a razão é instrumento  da fé para se conhecer a verdade, para Lullo, a fé seria um  instrumento da razão. Segundo o mesmo, o fim do intelecto  não é a fé, mas a intelecção das verdades da fé. A verdade, por um lado, é adquirida pela revelação, mas, por outro, o homem a apreende pela razão.  
Berengar de Tours foi além em sua ousadia ao  negar a transformação do pão e do vinho na carne e no sangue de Cristo, pois não é possível uma alteração da substância sem uma alteração simultânea dos acidentes, o que mostra seu extremo racionalismo. Para ele, a decisão última sobre a verdade não está nem nos padres, nem na Bíblia, mas na dialética, na razão. Podemos concluir que, tais teólogos mostram uma tendência racionalizante à medida que, sem pôr em dúvida a revelação como fonte do  conhecimento, desejam captar e fundamentar, dentro do possível, todos os conteúdos da revelação por meio do entendimento. Não advertem, como fazem os partidários da diretriz semirracionalista, o sentimento de humildade diante das verdades misteriosas da fé, que são, por excelência, inconcebíveis e indemonstráveis.

2. Semirracionalista 

Anselmo, bem como Santo Agostinho, afirma que tanto é preciso crer para entender (Credo ut intelligam), como também entender para crer (Intellige ut credas). A razão, desse modo, tem a tarefa de conhecer os feitos da revelação para alcançar, mediante este saber, a fé ao conteúdo da revelação. De outro modo, para o teólogo, a verdade está assegurada por Deus mesmo, mas, uma vez que a razão está convencida do conteúdo do feito da revelação, ela não pretenderá se impor à verdade de tal conteúdo. A verdade do conteúdo da revelação (milagres e profecias) está assegurada desde o princípio por Deus e independe da razão apreendê-la ou não.  Bernardo de Clairvaux concorda com Anselmo e diz que, diante de um conflito, subordinava a  razão à fé. Em suas palavras: “nenhum cristão católico  deve por em questão o que a Igreja Católica crê de  coração e declara oralmente, mas deve se ater, sem  dúvida, a esta fé, e amá-la e viver segundo ela, buscar  com humildade e, até onde seja possível, os fundamentos  de sua crença. Caso possa penetrar até a intelecção dos mesmos, que agradeça a Deus; se não pode, que não se  ponha contra eles: que incline a cabeça e reze (De  Trinitate).”. Como vemos, a razão pode ser útil, mas é  limitada e não se impõe à fé. Alberto Magno afirmava que a Teologia e a Filosofia são domínios separados. Para ele, a Teologia surge da revelação e a Filosofia da razão e da experiência. A Teologia  deve se esforçar para obter fundamentos racionais aos  princípios da fé e se utilizar do poder da convicção contra os  incrédulos. Porém, nem todas as doutrinas da fé podem ser  fundamentadas pela razão. O grau de verdade da Teologia é maior que o da Filosofia, pois a primeira se assenta na inspiração divina e a segunda na lei natural e na razão humana, passiva de erro. Atentamo-nos para o seguinte quadro comparativo: Teologia: Filosofia: - revelação sobrenatural; - revelação natural: - luz supramundana; - luz contemplada no mundo; - elevada aos homens; - comum aos homens; Berengar de Tours, desenho de Hendrik Hondius the Elder, 1602. Visto que ambas, a Teologia e a Filosofia, fluem da mesma fonte divina, não é possível haver contradição entre a fé e o saber, a verdade divina e a verdade. Como diz o teólogo, “dois são os modos da revelação. Um é pelo modo comum a  todos nós. E este modo foi revelado aos filósofos: pois esta luz não pode derivar senão  da primeira luz de Deus [...]. A outra luz há de ser contemplada no supramundo e está  elevada acima de nós. E por meio desta luz foi revelada esta ciência [a Teologia] (S. Theo I, 39. 15).”. Santo Tomás de Aquino acreditava que a fé é um ato do intelecto que está determinado pela vontade, e que produz uma certeza  firme sem dúvida. É pela vontade que o homem é capaz de reconhecer  interiormente as verdades reveladas, mesmo que o intelecto não as  possa conceber integralmente. Enquanto o intelecto depende da fé, à  medida que, pela fé, ele assente a algo, isto é, inclina-se, por escolha  voluntária, a conhecê-lo, a fé se produz mediante o livre arbítrio movido por Deus  através da Graça. Segundo o filósofo, a vontade daquele que tem fé é movida por  Deus para direcionar o intelecto de modo a conhecer as verdades divinas. Desse  modo, a má vontade leva ao erro, e “o erro é filho do pecado (Antigo Testamento).”. Para compreendermos a relação entre fé e razão, de acordo com Tomás de Aquino, é preciso compreendermos antes o que ele entende por duplex veritas (dupla verdade), conceito introduzido no Ocidente por Averroes. Segundo o filósofo, a  verdade é única, mas pode chegar ao sujeito que a conhece de duas maneiras: por  revelação sobrenatural ou pelo conhecimento natural da razão. Deus é una et simplex  veritas (uma e simples verdade), mas nosso conhecimento pode se realizar de duas  maneiras. Como os dois modos distintos de conhecermos procederem de uma única e  mesma fonte: a verdade divina; é impossível que a fé e o saber se contradigam, as  verdades da fé retamente entendidas não podem contradizer as verdades reais da  razão. A importância da razão aparece quando Tomás de Aquino enfatiza o fato do conhecimento natural de que Deus falou à humanidade através de seus profetas,  assegurar à fé uma base racional, ou seja, porque a verdade divina foi formulada numa  linguagem humana e terrestre é que ela pode ser desvendada para o homem: “A fé  pressupõe o conhecimento natural, como a graça pressupõe a natureza, e a perfeição o perfectível (S.T, I,2).”. Sendo assim, inferimos que a natureza da razão humana é, por  princípio, capaz de conhecer as verdades divinas. Em outros termos, a linguagem  humana e terrestre serve para transmitir as verdades sobrenaturais contidas nas  revelações divinas, portanto, as verdades sobrenaturais devem conservar certa  inteligibilidade para a razão humana, senão a linguagem da fé seria um enigma  indecifrável. A fé não pode ser uma operação cega e irracional, o que significa dizer que a palavra de Deus tem algum sentido para a razão. Não existe fé para um ser privado de razão, assim como não há conhecimento sobrenatural sem a possibilidade de um conhecimento natural. A fé pressupõe a razão à medida que é preciso dar  sentido à palavra de Deus e também porque Deus é objeto da razão e da fé. Deus é  um só, mas difere para a fé e para a razão. Afirmar Deus pela fé difere de afirmar Deus pela razão. Se, para a fé, Deus é objeto adequado, para a razão, Deus transcende ao próprio objeto da razão. Isso porque, o objeto da fé é aquilo que se  acredita e não é visto, somente pela revelação sobrenatural se pode ver, já o objeto da  razão é aquilo que se sabe e é visto pela luz natural da razão. Enquanto para a fé, Deus é “essa verdade primeira cuja visão dá origem aos bem aventurados (S.T, II,q.5,  a1)”, para a razão, Deus é a causa primeira do universo.  Dito isto, conclui-se que a fé exige o assentimento do intelecto, isto é, “a fé implica a adesão da inteligência àquilo em que se acredita (S.T, III, q.1, a 4)”,  portanto, o conhecimento sobrenatural da fé tem como fundamento de sua  possibilidade o conhecimento natural da razão. Mesmo que o crente tenha fé sem captar a prova racional, ao menos deve entender o sentido da verdade sobrenatural. Enfim, os fundamentos da fé, bem como os conteúdos da revelação são, ao menos, parcialmente acessíveis à razão à medida que são expressos em linguagem. Segundo Tomás de Aquino, há verdades que são por si mesmas acessíveis à razão, as  verdades racionais, outras estão elevadas por sobre a razão, portanto, não podem ser fundamentadas racionalmente, mas tais verdades suprarracionais (que não são irracionais, mas transcendem à razão) devem ser expressas em linguagem. Para a diretriz semirracionalista, são três os papéis da razão com  relação às verdades divinas: (i) mostrar a falta de contradição; (ii) fornecer condição  de possibilidade para algumas e não para todas; e (iii) defender contra as objeções dos adversários. Segundo Tomás de Aquino, “o papel da razão humana no ensino sagrado não é provar as verdades da fé, pois a fé perderia seu mérito nessa altura, mas explicar o conteúdo desse ensino” (BOLETIM DE TRINITATE). Em suma, segundo tal diretriz a fé aperfeiçoa a razão. A fé não está subordinada à razão, nem a razão anexada à fé. Há promoção mútua entre ambas. Há um acordo inabalável entre a verdade terrestre evidenciada pela razão e a verdade da fé recebida pela revelação. 

3. A antirracionalista 

O objetivo da diretriz antirracionalista é mostrar que não há qualquer conexão entre o conhecimento natural e a fé sobrenatural. Ao contrário, há uma  supremacia da fé sobre a razão, a qual não faz senão prejudicar a própria crença nas  verdades divinas.  Tertuliano, por exemplo, afirmava que os filósofos e os cristãos eram inimigos inconciliáveis, que os filósofos eram patriarcas dos hereges, defendendo o  seguinte moto: credo quia absurdum (creio no absurdo, no inconcebível). Ora, porque  procurar saber o que não é possível. Damiani insistia no fato de que a prudência humana não deve se permitir governar as questões da fé, pois todo conhecimento  natural, a ciência mundana, carece totalmente de valor. Lactâncio procurava provar que  qualquer sabedoria humana, frente à divina, é uma necessidade vã e que a Filosofia,  bem como todo conhecimento da natureza são inúteis. Somente a revelação conduz  ao verdadeiro conhecimento. Manegold de Lantenbach dizia que a Filosofia é supérflua e um reduto de lutas entre filósofos com influências diabólicas. Ele considerava que  dogmas como o nascimento da Virgem e o da Ressurreição são instâncias opostas às da razão filosófica. Walter de San Victor afirmava que todas as heresias provinham da  Filosofia e da dialética. Absalón condenava a Dialética e considerava Platão e  Aristóteles inimigos de Cristo. Segundo Juan de Jandum, o nascimento e a imortalidade da alma não são evidentemente demonstráveis nem pela razão, nem pela  experiência, portanto, a autoridade da Bíblia e a tradição eclesiástica devem se  sobrepor às argumentações defeituosas da razão. O mérito consiste precisamente em crer no inconcebível. Essa direção antirracionalista foi posta de lado no século XIII pela direção semirracionalista, porém, ela reapareceu no século XIV e encontrou partidários entre os místicos. Gerson, por exemplo, valoriza muito pouco a especulação em comparação com o que chama de Teologia Mística. Mais importante do que os conflitos filosóficos e dialéticos, mais importante do que toda falsa curiosidade própria, segundo ele, dos escolásticos, parece ser uma reflexão baseada no arrependimento. Tal reflexão conduz ao conhecimento verdadeiro que  consiste na apreensão das verdades do Evangelho. A mais alta valoração não recai  sobre o intelecto, mas sobre a mística identificação da alma com Deus e com o divino  em um ato de fé e intuição.
   
Material Complementar


Referências
PLATÃO. Teeteto. Tradução e comentário de Adriana Manuela Nogueira e Marcelo Boeri. Lisboa: Fundação Calouste, 1995.
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DEMPF, Alois, La concepción del mundo en la edad media, Madrid, Editorial Gredos, 1958.
GILSON, Etienne. El espíritu de la filosofía medieval. [Tradução de Ricardo Anaya, Buenos Aires, Emecé Editores, 1952.
___________. Filosofia de la edad media: desde los origines patristicos hasta el fin del siglo xii, Madrid, Biblioteca Hispanica de Filosofia, 1958.
GRABMANN, Martin. Filosofía medieval. Tradução de Salvador Minguijón, Barcelona, Editorial Labor, 1928.
HIRSCHBERGER, Johannes. Historia da Filosofia na idade media, São Paulo, Herder, 1959.
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PRICE, B. B. Introdução ao pensamento medieval. Ed. Asa, 1996.
RASSAN, J. Tomás de Aquino. Ed. 70, 1969.

VERWEYEN, M. História de la Filosofia Medieval. Editorial Nova, Buenos

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