"Jeremias 9:1-3"
“Tornou-lhe Pedro: Por que entrastes em acordo para tentar o Espírito do Senhor? Eis aí à porta os pés dos que sepultaram o teu marido, e eles também te levarão.” Atos 5:9
O episódio narrado em Atos 5 é um hiato chocante na vida de uma comunidade feliz. A igreja de Jerusalém vivia um profundo mover de generosidade produzido pelo Espírito Santo. Movidas por amor, sem nenhuma pressão legalista, as pessoas ofertavam seus bens em meio a milagres e muitas conversões. De repente, a festa é interrompida pelo juízo de Deus sobre um casal.
A cena, mais parecida com as histórias do Antigo Testamento, é para marcar a memória da igreja. Deus poderia tratar Ananias e Safira mais “discretamente”, ou até mesmo “deixar passar” sua atitude, mas não o fez porque queria gritar, não apenas no meio daquela congregação, mas para toda a igreja: “Eu não tolero crentes de mentira!”.
A reprovação radical à atitude de Ananias e Safira deve ser entendida por nós como uma rejeição radical a todo suposto cristão que não viva uma vida autêntica na presença do Senhor e do seu povo.
Crentes de mentira investem em aparentar o que não são. O grande pecado desse casal não foi não dar tudo o que tinha em mãos como oferta, mas aparentar que estavam dando. Eles queriam parecer mais espirituais do que estavam realmente dispostos a ser, queriam apenas construir uma imagem diante da igreja.
Ou pagamos o preço para ser ou teremos que pagar o preço por simplesmente aparentar. Saul é um exemplo de alguém que tornou-se crente de mentira preocupado apenas com a sua imagem. Rei de Israel levantado por Deus, ele perdeu o trono porque, a partir de certo momento, estabeleceu seu próprio padrão de viver, à revelia da Palavra, mas quis apresentar-se diante do profeta Samuel e do povo como um servo fiel, coisa que ele já havia deixado de lado.
O chamado cristão é para a autenticidade. Deus não quer que a igreja seja um grande teatro de pessoas que encenam bem. Paulo, escrevendo I Coríntios 5:8, diz: “Por isso, celebremos a festa não com o velho fermento, nem com o fermento da maldade e da malícia, e sim com os asmos da sinceridade e da verdade”.
Outra característica comum nos crentes de mentira é que eles entregam ofertas parciais, mantém com Deus um relacionamento cheio de reservas, com o freio de mão puxado. Eles nunca pulam de cabeça, nunca aceitam tudo, nunca entregam tudo. Não há inteireza em suas vidas espirituais.
Diz a Bíblia que Ananias “em acordo com sua mulher, reteve parte do preço e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos” (vs. 2). Sua mentalidade é semelhante a de Caim, que quis conquistar espaço diante de Deus sem dar o melhor, sem consagrar tudo. Enquanto Abel trazia primícias, ele trazia restos e esperava ser aceito da mesma forma.
Aprendemos com o episódio de Ananias e Safira que crentes de mentira permitem que Satanás lhes encha o coração. Como eles não têm um pacto radical com a Verdade (que é Cristo), mantém uma conexão aberta com o pai da mentira, Satanás, e se abrem para uma constante ministração maligna. Foi esta a sentença que Pedro deu, ao dizer: “Ananias, por que encheu Satanás teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo?” (vs. 3).
Toda vez que admitimos a falsidade, em qualquer nível, abrimos brechas para a ação demoníaca em nossas vidas. Jesus em Mateus 5:3, disse: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno”. Claramente Ele está apontando a fonte geradora e fomentadora de toda falsidade e engano: o reino das trevas. Não tenho dúvida em afirmar que muitos crentes permanecem com áreas de suas vidas sob regência demoníaca por não andarem na luz e manterem o engano em seu comportamento.
Crentes de mentira comumente não reconhecem o manto de Deus na vida de seus pastores. Ao tentarem enganar seus líderes espirituais, Ananias e Safira mentiram ao Espírito Santo. Foi isso que Pedro disse, ao sentenciar: “Não mentiste aos homens, mas a Deus.” (vs. 4). Sabemos que a rigor eles estavam tentando enganar os apóstolos, mas quando tomamos esta atitude diante de autoridades levantadas por Deus, é como se o fizéssemos ao Senhor. Nossa relação com nossos líderes espirituais é um reflexo de nossa relação com Deus. Se os honramos, honramos a Deus. Se tentamos enganá-los, escarnecemos do Espírito Santo que os levantou.
O mais terrível é que chega uma hora em que os crentes de mentira não se quebrantam diante do tratamento de Deus. Ao ser confrontado, Ananias deveria lançar-se ao arrependimento. Deus é um Deus de perdão. Mas ele estava tão refém do espírito de falsidade que não esboçou nenhuma confissão. Por isso morreu.
A confissão é a única maneira de quebrar o poder da falsidade. Em Tiago 5:16,19-20, lemos: “Confessai, pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes curados... Meus irmãos, se algum entre vós se desviar da verdade, e alguém o converter, sabei que aquele que converte o pecador do seu caminho errado salvará da morte a alma dele e cobrirá multidão de pecados.”
Crentes de mentira também fazem pactos de falsidade. Ananias buscou e encontrou uma parceira para sua farsa. Safira, sua mulher, entregou-se ao mesmo espírito. E os dois fizeram um acordo de morte! É isso que vemos nos versículos 2, e do 7 ao 9.
Cuidado com os pactos de engano! Toda vez que um crente decide acobertar na vida de outro algo que fere a santidade da igreja, está se tornando cúmplice e se colocando debaixo do mesmo juízo de quem peca. Esse, mais cedo ou mais tarde, será desmascarado e cairá, pois Deus não se deixa escarnecer. Ele sabe o poder que a falsidade tem de minar a vida da igreja. Por isso sempre se colocará como Juiz contra tudo o que não se baseia na verdade. “Nada há encoberto que não venha a ser revelado; e oculto que não venha a ser conhecido. Porque tudo o que dissestes às escuras será ouvido em plena luz; e o que dissestes aos ouvidos no interior da casa será proclamado dos eirados” (Lc 12:2-3).
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