Análise exegética e biológica da
expectativa de vida no livro de Gênesis
Leia atentamente os
textos abaixo:
"E foram todos
os dias que Adão viveu novecentos e trinta anos; e morreu" (Gênesis 5:5).
"E foram todos
os dias de Sete novecentos e doze anos; e morreu" (Gênesis 5:8).
"E foram todos
os dias de Matusalém novecentos e sessenta e nove anos; e morreu" (Gênesis
5:7).
O sincero estudante
das Escrituras quando se depara com a quantidade de aniversários que alguns
personagens bíblicos tiveram, pode se perguntar se realmente este povo viveu
tudo isso conforme a Bíblia Sagrada afirma. As mais diversas teorias tem
surgido para racionalizar o texto bíblico. Alguns chegam a defender que
neste tempo, cada 100 anos equivalia a 1 ano para nós hoje, então, Sete não
havia vivido 912 anos, mas 91, o que parece "encaixar" com a
quantidade de anos que uma pessoa pode viver em nossos dias. Todavia, lógica
não é verdade em si. Para a verdadeira compreensão do ensinamento bíblico e do
relato histórico do livro de Gênesis precisamos partir das seguintes premissas
básicas:
- O relato aborda uma época
pré-diluviana, com condições climáticas bem diferentes das nossas;
- Dezenas de séculos separam
Adão, Sete e Matusalém de você, que está lendo este artigo;
- O registro é verdadeiro,
pois toda Escritura foi inspirada por Deus e é útil para o ensino (2Tm 3:16).
De posse destes conceitos básicos,
consideraremos duas abordagens para este assunto: uma exegética e outra
biológica. Na primeira, iremos buscar comentários sobre o assunto, pesquisar as
palavras nos originais hebraico, seus significados e contextualização. Na
segunda parte, buscaremos informações à luz da biologia molecular que possa nos
ajudar a compreender se verdadeiramente existiu a possibilidade biológica de
alguém viver tanto tempo assim.
ANÁLISE EXEGÉTICA
GRAMATICO-HISTÓRICA
O capítulo 5 do livro
de Gênesis será o foco da nossa análise neste momento, onde poderemos
considerar o tempo de vida de alguns personagens. Todavia, para que
compreendamos todo o contexto, é necessário se conhecer a estrutura do
livro. Uma parte dela, pode ser descrita da seguinte forma:
·
O início (1:1 a 2:3);
·
Adão e Eva (2:4 a 2:25);
·
A queda do homem (3:1 a 3:24);
·
Caim e Abel (4:1 a 4:26);
·
Genealogia: de Adão a Noé (5:1 a 32);
·
O dilúvio (6:1 a 8:22);
·
A aliança de Deus com Noé (9:1 a 9:17);
·
Os filhos de Noé (9:18 a 9:29);
·
O mapa das nações (10:1 a 10:32);
·
A torre de Babel (11:1 a 9);
·
Genealogia: de Sem a Abraão (11:10 a 11:32).
·
[...]
A Bíblia de Estudo Palavras-Chave Hebraico-Grego (2011, p. 10) da Casa Publicadora das
Assembleias de Deus, comenta o seguinte sobre Gênesis 5:
"Neste capítulo [Gn 5:1-32],
Moisés apresenta uma genealogia de dez pessoas da era pré-diluviana, e no
capítulo 11 há uma lista similar de dez pessoas da era pós-diluviana, a qual
termina em Tera, o pai de Abraão. Nas duas listas, a longevidade destes homens
é muito superior à dos nossos dias. Mas Moisés, que alcançou os 120 anos de
idade (Dt 34:7), desejava que estes números fossem interpretados literalmente.
Esta era uma época em que os homens eram capazes de procriar aos 180 anos de
idade (v. 28). Uma vez que é impossível avaliar adequadamente as condições
passadas, com base nas condições atuais, estas declarações devem ser
interpretadas literalmente."
Ellen G. White, no
livro Conselhos Sobre Regime Alimentar (p. 117) comenta:
"O homem surgiu das mãos do seu
Criador perfeito em estrutura e belo na forma. O fato de ter ele resistido
por seis mil anos o constante crescimento dos fardos da doença e do crime é
prova suficiente do poder de resistência com a qual foi dotado no princípio. E
embora os antediluvianos de modo geral se entregassem sem reservas ao pecado,
passaram-se mais de dois mil anos para que a violação da lei natural fosse
acentuadamente sentida. Não tivesse Adão originalmente possuído maior poder
físico do que os homens possuem agora, e a presente raça ter-se-ia tornado
extinta."
E continua:
"Moisés, o
primeiro historiador, dá-nos um bem definido relato da vida social e individual
nos primeiros tempos da história do mundo, mas não encontramos qualquer
registro de que uma criança tenha nascido cega, surda, paraplégica ou imbecil.
Nenhum exemplo é relatado de morte natural na infância, meninice ou
adolescência. As notas de óbitos que se encontram no livro de Gênesis, rezam
assim: [...] 'E morreu em boa velhice, velho e farto de dias' (Gn 25:8). Era
tão raro alguém morrer antes de seu pai, que tal ocorrência foi considerada
digna de registro: 'E morreu Harã, estando seu pai, Tera ainda vivo' (Gn11:28). Os patriarcas de Adão a Noé, com poucas exceções, viveram
aproximadamente mil anos. Desde então a média de longevidade tem
decrescido."
Moisés, o escritor do
livro de Gênesis (e de todo o Pentateuco) foi fiel à revelação que Deus lhe
deu. O texto de Ellen White nos ajuda a compreender as diferenças que haviam
entre o porte físico, a saúde e a consequência da boa alimentação que os
primeiros habitantes da Terra possuíam, quando comparados conosco.
Em Gênesis 5:5 onde
diz "Os dias todos da vida de Adão [...] (ARA)", a palavra hebraica
traduzida em português para "todos da vida" (ARA) ou "e foram
todos" (ARC) é châyay (חיי) e trata-se de um verbo que
significa viver. Aqui e em Gn 11:12, 14 e 25:7 este verbo é utilizado para se
referir a extensão literal da vida de uma pessoa.
Sobre este capítulo,
o Comentário
Bíblico Exegético e Expositivo Adventista do Sétimo Dia (v. 1,
2011, p. 232), sobre o capítulo 5 do livro de Gênesis afirma:
"Um período de
1500 anos é coberto na lista de gerações apresentada neste capítulo. São dados,
no entanto, só os nomes dos principais patriarcas, sua idade por ocasião do
nascimento do filho primogênito e sua idade total. Num esquema repetitivo, eles
são descritos nascendo, chegando à varonilidade, casando-se, gerando filhos
e então morrendo. Eles são lembrados pela posteridade só por seus nomes.
Somente dois, Enoque e Noé, superam os outros em excelência e piedade. Enoque
foi o primeiro pecador, salvo pela graça, a ser honrado com a trasladação; Noé
foi o único chefe de família a sobreviver ao dilúvio. Este capítulo contém um
registro familiar semelhante a outros incorporados a diferentes lugares da
narrativa do AT. A expressão "livro da genealogia de" é um termo
técnico para uma lista genealógica (ver Mt 1:11). A palavra
"livro", sefer, é usada no AT para se referir a um rolo
completo (Jr 32:2, 8) ou a uma única folha de um rolo (Dt 24:1)."
E sobre a quantidade
de anos que viveu Adão, o mesmo comentário acrescenta (p. 232-233):
"A notável
longevidade da raça antediluviana tem sido alvo de muita crítica. Alguns tem
declarado que esses números são produto de uma era mítica ou resultado de uma
transmissão falha do texto. Outros tem sugerido que eles não se referem a
indivíduos, mas a dinastias, ou que não foram anos, mas períodos mais curtos,
talvez meses. Essas considerações devem ser rejeitadas por atentarem contra
interpretação literal do texto e contra sua origem inspirada. É preciso ver
esses números como históricos. A longevidade da raça antediluviana pode ser
atribuída às seguintes causas: (1) vitalidade original com a qual a humanidade
foi dotada na criação, (2) piedade e inteligência superiores, (3) efeito
residual do fruto da árvore da vida, (4) qualidade superior dos alimentos
disponíveis, e (5) graça divina em postergar a execução da penalidade do
pecado. Adão viveu para ver oito gerações sucessivas alcançarem a maturidade.
Uma vez que sua vida abarcou mais da metade do tempo que decorreu até o dilúvio,
é claro que muitos puderam ouvir de seus próprios lábios a história da criação,
do Éden, da queda e do plano da redenção, tal como este lhe havia sido
revelado."
Sobre as condições
físicas dos seres humanos antediluvianos, vale considerar a seguinte informação:
"A raça humana,
que vivia na época [antes do dilúvio], era de grande estatura e possuía força
grandiosa. As árvores sobrepujavam em tamanho, beleza e proporção perfeita,
superando tudo que qualquer mortal já tenha visto; sua madeira era de belo veio
e dura substância, assemelhando-se em muito à pedra. Isso requeria muito mais
tempo e trabalho, mesmo daquela raça poderosa, no preparo de vigas para a
construção, do que se exige hoje" (Ellen G. White. Geologia e Ciências
Naturais, 1994, p. 109).
A supracitada autora, no mesmo livro
(p. 108) ainda acrescenta:
"Logo após o dilúvio, o gênero
humano começou a decrescer rapidamente em tamanho, e na extensão dos anos.
Havia uma classe de animais muito grandes [dinossauros?] que pereceram no
dilúvio. Deus sabia que a força do homem diminuiria, e esses enormes animais
não poderiam ser controlados por homens frágeis."
A vegetação, o relevo
e o clima da Terra antes do dilúvio eram, com certeza, bem diferentes do que
observamos atualmente, isso certamente deve ter exercido influência sobre a
altura e o tempo em que os seres humanos desta época viviam, o que pode nos
auxiliar a compreender, por exemplo, os literais 930 anos que Adão tinha quando
morreu.
Evidência que o
ambiente pré-diluviano influenciava a quantidade de anos que os seres humanos
viviam, está na segunda genealogia do livro de Gênesis, agora incluindo somente
seres humanos que viveram depois do dilúvio. Sem, filho de Noé (de onde vem o
termo "semita"), viveu 600 anos (Gn 11:10-11). O gráfico abaixo permite
visualizar os personagens bíblicos antes e depois do dilúvio (flood of Noah),
onde se observa claramente a diminuição gradual do tempo de vida.
Moisés, além de
escrever o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio),
escreveu os Salmo 90. Neste salmo, Moisés nos traz a informação de qual era a
expectativa de vida já na sua época (o Êxodo bíblico ocorreu em algum período
anterior a 1447 a.C.):
"A duração
[média] da nossa vida é de setenta anos é de setenta anos, e se alguns, pela
sua robustez, chegam a oitenta anos, o melhor deles é canseira e enfado
[...]" (Salmos 90:10).
ANÁLISE
BIOLÓGICA
Biblicamente, parece
não haver dúvidas que o relato deve ser considerado literal e que uma
catástrofe universal tenha alterado todo o complexo de interações entre o meio
biótico e abiótico, resultando na diminuição da expectativa de vida entre os
seres humanos que viveram antes e depois do dilúvio, chegando até nós, hoje.
Mas, pode a biologia oferecer algum esclarecimento a este respeito? Ao que tudo
indica, parece que a resposta a este importante questionamento é
"sim". Talvez o segredo esteja nos telômeros.
Telômero em vermelho
|
De acordo com
Henrique A. Parsons, médico residente do Hospital Sírio Libanês de São Paulo:
"Telômeros são
estruturas de DNA situadas nos terminais dos cromossomos. São compostas por
sequencias extremamente simples - repetições [de nucleotídeos] TTAGGG, que são
caracteristicamente regiões de heterocromatina. Suas funções incluem a manutenção
da integridade cromossômica, a garantia da replicação completa das extremidades
dos cromossomos e o estabelecimento da estrutura tridimensional do núcleo
celular" (Telômeros,
telomerase e câncer. Revista da Faculdade de Ciências Médicas de
Sorocaba, v. 5, n. 1, p. 54-59, 2003)
Os telômeros estão em
posição estratégica no cromossomo. Ali, eles podem garantir que o cromossomo
continue íntegro pelo tempo necessário, trazendo assim uma importante
estabilidade. Sabe-se que extremidades cromossomais que não possuam telômeros
estão mais susceptíveis a eventos recombinatórios não esperados e também à
degradação do mesmo.
Um detalhe que chama
atenção ao telômero é que, em células somáticas (ou seja, todas as células do
corpo - exceto o espermatozoide e o óvulo - ex: pele, cabelo, unha, etc.), ele
reduz seu tamanho durante o ciclo de vida, numa taxa de 30 a 120 pares de base
por replicação e, por isso, está diretamente relacionado ao envelhecimento.
Gerald Karp, no livro Biologia
Celular e Molecular: Conceitos e Experimentos (2005, p. 512)
afirma:
"A cada divisão
celular, os telômeros tornam-se mais curtos. Supõe-se que o encurtamento do
telômero continue até um ponto crítico, chamado "crise", quando as
células exibem muitas anormalidades cromossômicas e param de se dividir. A
importância do encurtamento do telômero no envelhecimento foi confirmada em um
estudo de 1998 no qual células geneticamente modificadas foram forçadas a expressar
uma enzima telomerase [complexo enzimático que tem como função adicionar
sequências de DNA repetitivas à extremidade do cromossomo, onde se encontra o
telômero] ativa. Nesse estudo, células do controle deficientes em
telomerase proliferaram por um período e então sofreram envelhecimento e
morreram, como esperado. Ao contrário, as células que expressaram a telomerase
continuaram proliferar por centenas de divisões extras. As células expressando
telomerase não somente continuaram a se dividir como também o fizeram sem
sinais do processo de envelhecimento visto em culturas de controle [sem a
expressão ativa e manipulada de telomerase]. Esse estudo levou alguns
pesquisadores a sugerir que o envelhecimento celular - assim como o
envelhecimento humano - pode ser prevenido induzindo as células a expressarem
essa enzima normalmente inativa. Mas conferir às células esta propriedade pode
ter sérias consequências."
Veja como isso é
interessante! A telomerase é uma enzima. Toda enzima é uma proteína, mas nem toda
proteína é uma enzima. Logo, a telomerase é uma proteína também. Todas as
proteínas são codificadas nos ribossomos através de informações do código
genético que são trazidas pelos RNAs mensageiros que levam ao citoplasma uma
parte codificável do DNA presente nos cromossomos, que estão no núcleo. O
que os pesquisadores fizeram no estudo referido acima foi manipular a
codificação da telomerase acima da rotina celular, pois primeiro é necessário
ter a enzima elaborada para se estudar o seu efeito. E o efeito foi o
retardamento do envelhecimento celular.
Estudo recente
conduzido por Bruno Bernardes de Jesus e colaboradores, avaliaram a ação da
terapia gênica com telomerase no envelhecimento de ratos, trouxe resultados
interessantes, de acordo com o site da revista científica EMBO Molecular
Medicine (Maio de 2012). A terapia gênica com telomerase permitiu
que os ratos vivessem por mais tempo, mas aumentou não somente a quantidade do
tempo, mas a qualidade do mesmo, pois os ratos estavam drasticamente mais
saudáveis. De acordo com os pesquisadores, os ratos, além de viver mais tempo,
apresentaram ossos mais fortes, melhorias nas funções metabólicas, uma melhor coordenação
motora e um desempenho cognitivo maior. Os ratos utilizados neste estudo vivem
até 150 semanas (um ano tem 52 semanas) Em ratos de até um ano de idade, se
observou aumento de 24% no tempo de vida.
CONCLUSÃO
Este artigo não
pretendeu ser exaustivo, todavia, diante das informações obtidas podemos
naturalmente chegar a algumas importantes conclusões:
·
As Escrituras Sagradas nos ensinam que todo o registro
do livro de Gênesis deve ser tomado como literal e histórico. O próprio Jesus
aceitava o livro de Gênesis como literal e histórico (Mt 19:4);
·
A análise gramática de Gênesis 5:5 não permite
qualquer outra interpretação do que a que Adão viveu literalmente 930 anos;
·
Após a queda do homem com a entrada do pecado
na Terra, a natureza começou a sentir a degeneração gradual. Com isso, a
expectativa de vida do ser humano diminuiu, bem como sua altura, força e isso
também afetou a natureza. Paulo confirma isso quando diz que "toda a
criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora" (Rm 8:22);
·
Deus pode ter permitido que a expressão gênica
da telomerase diminuísse drasticamente, chegando aos níveis atuais, por causa
da consequência da ação do pecado na vida do ser humano e o seu afastamento da
árvore da vida;
Jeová disse que se
Adão e Eva fossem rebeldes haveriam de morrer e eles morreram, demonstrando o
terrível efeito do mal e a tragédia que o pecado traz na vida dos filhos de
Deus, pois os separaram da fonte da vida. Adão viveu no Reino de Glória. Hoje,
os cristãos que receberam a Cristo vivem no Reino da Graça, mais um pouco e o
Reino da Glória será estabelecido novamente e ali não haverá mais mortes.
Haverá um dia em que
os telômeros não mais serão diminuídos junto com a minha vida humana. Mesmo com
a rebelião do homem contra Deus, o SENHOR que é amor em essência, deixou sinais
de sua vontade de nunca mais separar de nós. Como você leu, os telômeros das
células somáticas diminuem e isso determina o envelhecimento, mas os telômeros
das células gaméticas (espermatozoide e óvulo) não diminuem nunca, por isso, um
bebê tem em seus cromossomos telômeros completos. Eu vejo nisso o amor de Deus
revelado na natureza. Um sinal de como era sempre para ser, mas que foi deturpado.
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