Há dificuldades nas palavras, mas essas dificuldades se desvanecerão, se levarmos em conta as circunstâncias precisas nas quais os discípulos se encontravam, no momento em que elas foram proferidas.
Nosso Senhor tinha guardado a Páscoa com os seus discípulos; e havia instituído sua última ceia, que, sob a dispensação cristã, substituiria a Páscoa da antiga dispensação.
Ao lhes explicar a natureza e a intenção desta nova ordenança, ele tinha comparado o pão, que ele partiu, com o seu corpo, que seria quebrado na cruz; e o vinho do cálice, com o sangue que estava para ser derramado na cruz pelos pecados de todo o mundo. Mas, ao falar dessas coisas, mencionou duas vezes “o reino de Deus, que estava por vir”, e que era para ser a realização e consumação de tudo o que ele havia se comprometido a efetuar.
Os apóstolos, passando por tudo o que o seu divino Mestre falou sobre os seus próprios sofrimentos, agarraram-se à ideia de que “o reino de Deus”, que eles aguardavam seria logo estabelecido sobre a Terra, e imediatamente começaram a lutar uns com os outros para ter preeminência nesse reino. Nosso Senhor reprovou esta ambição da mesma forma que havia feito antes, Mateus 20.20-28, mas ainda assim se absteve de se debruçar sobre isto, para que pudesse confortá-los e apoiá-los sob o peso acumulado de problemas que teriam que suportar imediatamente naquela ocasião.
Ele lhes disse, que, embora muitos lhe tivessem abandonado, eles haviam permanecido com ele em todas as suas tentações; e que portanto ele agiria em relação a eles, como o próprio Pai tinha agido em relação a ele, e iria cumprir todos os seus desejos de uma forma tão extensa que não poderiam agora de nenhuma forma conceber. Eles desejavam preeminência no seu reino? Todos eles devem ser admitidos, não meramente para a mesa dos príncipes terrenos, mas para a mesa do Rei dos reis, para comerem e beberem em sua presença; sim, todos eles devem possuir reinos, e se sentarão em tronos, e, embora eles próprios devem ficar por um tempo diante do tribunal de homens ímpios, e receber uma sentença de condenação deles; eles terão todas as tribos de Israel, de pé diante deles, em seu tribunal, e receberão, em certo grau, a sentença deles, que, como assessores de Cristo, devem aprovar e aplaudir a condenação imposta sobre eles.
Mas devemos considerar ainda estas palavras, como dirigidas a todos os fiéis seguidores de Cristo, em todos as épocas, pois há entre eles e os apóstolos, uma grande semelhança: eles respondem ao mesmo caráter. Apesar de o próprio Cristo estar fora do alcance dos homens, sua palavra, sua causa, o seu povo, são tratados exatamente como eles foram nos dias da sua carne. “Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens?”; então também é o seu Evangelho, onde quer que seja proclamado. Ele é uma pedra de tropeço para alguns e para outros, escândalo, mais do que nunca.
Também não há, em todo o universo, um servo fiel que não tenha uma cruz para carregar por causa dele. Mas todos eles estão firmes na causa de seu Mestre; eles não permitem que nada lhes desvie de segui-lo; sim, e mais que isso, em vez de serem intimidados por sofrimentos, eles se regozijam em serem achados dignos de sofrer vergonha, ou até mesmo a morte, por causa dele.
Para eles, também, estão reservadas as mesmas honras na mesa do Senhor, nas alturas, ao lado de Abraão e Lázaro. E cada verdadeiro discípulo festejará com o seu divino Mestre para sempre.
A eles também serão atribuídos “tronos e reinos”, como também Deus o Pai os atribuiu ao seu Filho Amado. É por uma expressa aliança que isto foi dado a Cristo, e é também por um pacto que Cristo o confere ao seu povo. Eles “herdarão o reino preparado para eles desde a fundação do do mundo.” E, também, devem ser assessores de Cristo no Juízo. Quanto a isto não pode haver dúvida. Paulo disse à Igreja em Corinto: “não sabeis que os santos hão de julgar o mundo? sim, não sabeis vós que havemos de julgar anjos?”, 1 Corintios 6.2,3. O que deve então nos influenciar, ou com o que devemos comparar estas coisas? Vamos nos contentar então com nossas provações agora, uma vez que iremos festejar depois; e se somos chamados a desprezar tronos e reinos aqui embaixo, e a oferecermos nossas vidas como mártires, vamos, de bom grado fazer o sacrifício, sabendo como nós seremos abundantemente recompensados pelos séculos eternos.
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