O Brasil tem três períodos políticos bastante distintos em sua história. A colônia, o império e a república. Durante o período colonial do Brasil, especialmente no século XVIII muito ouro foi extraído do solo. E cada grama desse ouro deveria passar pela revista da coroa portuguesa e pagar os seus devidos impostos.
Algumas pessoas, no entanto, davam um jeito de burlar os impostos e transportar o ouro sem deixar nada nos cofres portugueses. Uma dessas formas gerou uma frase muito usada ainda hoje no Brasil: O santo do pau oco.
Essa frase foi gerada por causa do contrabando de ouro e pedras preciosas que se fazia usando imagens de madeira de santos da igreja católica. Como o Brasil era oficialmente católico, ninguém se atrevia a revistar uma estátua de um santo. Se aproveitando disso, os contrabandistas fabricavam imagens ocas de santos, com uma abertura embaixo. Eles enchiam a imagem com ouro e pedras preciosas, fecharam o orifício e passavam tranquilamente na fiscalização.
Embora aquela imagem exteriormente parecesse um santo, na verdade era apenas uma embalagem para contrabandear ouro. Era um santo falso, ou, um santo do pau oco. Por fora havia santidade, mas por dentro havia roubo. Havia uma tremenda incoerência entre a mensagem da imagem e a sua real utilidade.
Há um texto na Bíblia que me vem à mente quando eu penso nessa história. Leia: Então, Jesus disse à multidão e aos seus discípulos: “Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem. Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam (Mateus 23:1-3).
Este ano comecei meu ano Bíblico pelo Novo Testamento. Portanto, logo passei pelo texto que acabei de citar e desde então ele não sai da minha mente. Todas as vezes que entro em contato com os membros da igreja na qual sou pastor, penso se eu não estou me comportando como aqueles fariseus dos tempos de Cristo. Penso se não estou incoerente entre o que prego e o que faço.
Quem eram os fariseus?
Hoje a imagem dos fariseus está bastante manchada. No contexto da igreja, chamar alguém de fariseu é querer ofender esta pessoa. Mas nos tempos de Jesus não era assim.
Nos tempos de Jesus Cristo os fariseus faziam parte de uma classe muito prestigiada. Seria orgulho para uma mãe ter um filho fariseu e qualquer pai gostaria que sua filha se casasse com um deles.
Eles eram líderes espirituais e tinham muita influência política na sociedade em que viviam. A própria palavra fariseu significa OS SEPARADOS, (Joachim Jeremias – Jerusalém no tempo de Jesus, 333 – Academia Cristã), eles eram uma classe muito especial e respeitada onde viviam.
Jesus mesmo reconheceu a posição social e religiosa privilegiada em que eles se encontravam. No texto bíblico que citei no início Jesus diz que: Os mestres da lei e os fariseus se assentam na cadeira de Moisés. Isso significa que eles ocupavam a posição de Moisés como expositores da lei. Eles eram profundos conhecedores dos escritos de Moisés. Porém, todo esse conhecimento não os salvou de incorrerem em um erro fatal.
O problema com os Fariseus
A frase inicial de Jesus que ressaltava a posição eclesiástica dos fariseus e seu conhecimento da letra da lei era apenas uma introdução para uma advertência e repreensão que Cristo queria fazer. Ele continuou: Obedeçam-lhes e façam tudo o que eles lhes dizem.
É lógico que o povo deveria obedece-los somente se o que eles falassem estivesse de acordo com a cadeira de Moisés. Jesus não apoiou nenhum dos acréscimos que eles fizeram às palavras do pentateuco, estas coisas só tornavam a religião cada vez mais pesada. O povo devia obedecer ao que estava de acordo com as Escrituras Sagradas.
Jesus Cristo, então, lança a advertência: Mas não façam o que eles fazem, pois não praticam o que pregam. Aqui está o centro do problema dos fariseus. Existia na vida deles uma distância considerável entre ensinar e praticar. Eles eram bons no falar, sabiam os mandamentos decorados, as normas de conduta, mas não praticavam as coisas que falavam.
Podemos resumir o problema dos fariseus em uma palavra: incoerência. O pior é que a incoerência deles estava desviando o povo dos caminhos corretos.
Certa vez ouvi uma frase que me fez pensar e resolvi memoriza-la: O que você faz é tão barulhento que não consigo ouvir o que você diz. Essa frase poderia muito bem ser dita aos fariseus, pois, as ações deles colocavam uma penumbra sobre as palavras deles. O problema é que temos a possibilidade de repetir o erro dos fariseus hoje.
Os líderes de hoje
Quem seriam os correspondentes aos fariseus e doutores da lei hoje? Esta é uma pergunta cuja resposta é importante para nossa reflexão. É lógico que não podemos fazer uma transposição perfeita das funções dos fariseus para alguma função eclesiástica atual, mas, analogamente os fariseus corresponderiam hoje à liderança da igreja: pastores, anciãos, diretores de grupos, etc.
Há muita semelhança entre esses grupos e os fariseus. Esses grupos são aqueles que conhecem mais a Bíblia Sagrada (ou deveriam), são aqueles que constantemente pregam coisas verdadeiras e importantes nos púlpitos das igrejas. Eu, enquanto ministro da palavra de Deus, me sinto incluído neste grupo, mais ainda, sinto a responsabilidade de não incorrer no erro dos fariseus.
Por isso, há muito tempo tenho meditado no texto bíblico que deu origem a esta reflexão. Tenho me perguntado constantemente: tenho vivido aquilo que prego? Sou um bom representante da palavra de Deus?
Vou falar para você alguns temas que têm sido geradores de sermões para mim e que estão me fazendo pensar. Eu tenho pregado sobre modéstia cristã, e, baseado no texto de Mateus, eu tenho me perguntado: tenho vivido a modéstia cristã em meu dia a dia? As roupas que minha família veste têm sido coerentes com a minha pregação? As minhas ambições por carros, relógios e outros objetos têm sido compatíveis com minha pregação?
Outro tema bíblico que tenho pregado é sobre a prioridade da família. E por isso, me pergunto: Tenho colocado minha família em segundo lugar em minha vida, somente atrás de Deus? Tenho colocado meu trabalho, sucesso, fama à frente da minha família? Tenho dado a importância real que ela merece?
Eu também prego sobre o corpo como templo do Espírito Santo. Sou ministro do evangelho de uma igreja com muitos jovens e sempre falo para eles que precisam cuidar da saúde e que isso tem tudo a ver com espiritualidade. Por isso tenho me perguntado: Tenho vivido a mensagem de saúde? Tenho comido o que Deus espera que eu coma e deixado de comer o que Deus espera que eu deixe? Tenho bebido o que Deus espera que eu beba e deixado de beber o que Deus espera que eu deixe? Tenho praticado exercícios físicos regularmente?
Tenho falado para minha igreja que ela deve participar da pregação do evangelho. Mas eu tenho pelo menos uma pessoa a quem eu, como ministro do evangelho, dou estudos bíblicos? Tenho feito a minha parte fora da igreja?
A coerência entre o que eu falo e o que eu vivo tem sido vista em minha vida? Ellen White nos adverte: Não importa quão zelosamente seja advogada a verdade, se a vida diária não testemunhar de seu poder santificador, as palavras faladas de nada aproveitarão. Uma conduta incoerente endurece o coração e estreita o espírito do obreiro, colocando também pedras de tropeço no caminho daqueles por quem ele trabalha (Obreiros Evangélicos, 144).
Um bom lugar para avaliarmos a nossa coerência é dentro de casa. Ellen White continua: É o desígnio de Deus que, em sua vida doméstica, o mestre da Bíblia Sagrada seja um exemplo das verdades que ensina. O que um homem é, exerce maior influência do que o que diz. A piedade na vida diária dará força ao testemunho público. A paciência, a coerência e o amor impressionarão os corações que os sermões não conseguem alcançar (Obreiros Evangélicos, 204). Devemos ao invés de apenas pregar sermões, devemos SER sermões ambulantes. Devemos ser vidas que pregam.
O maior exemplo de coerência é, sem dúvida, o Senhor Jesus. Ele viveu tudo o que pregou e pregou em cada passo que deu nesse planeta. Acompanhe o texto inspirado: Toda a vida do Salvador caracterizou-se pela desinteressada beneficência e a beleza da santidade. É Ele nosso modelo de bondade. Desde o princípio de Seu ministério, começaram os homens a compreender mais claramente o caráter de Deus. Ele realizava na própria vida o que ensinava. Manifestava coerência sem obstinação, benevolência sem fraqueza, ternura e compassividade sem sentimentalismo. Era altamente sociável, possuía, no entanto, uma reserva que desanimava qualquer familiaridade. Sua temperança nunca descambava para o fanatismo ou a austeridade. Não Se conformava com o mundo, e, todavia, estava atento às necessidades dos mais humildes entre os homens. (Conselhos aos Pais, Professores e Estudantes, 262).
Deus espera de todos os seus filhos coerência entre o falar e o agir, assim pregaremos em todos os momentos da nossa vida, calados ou falando, na igreja ou no trabalho e o evangelho vai avançar com muito mais força e Jesus voltará muito mais rápido. Eu buscarei coerência para minha vida, busque você também. Vivamos de tal forma que Deus possa falar de nós: faça o que ele diz e também pode fazer o que ele faz. Que Deus nos dê sua graça para alcançarmos esse ideal.
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