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Magazine na Lanterna

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O que realmente importa!

“Ele te declarou, ó homem, o que é bom e que é o que o Senhor pede de ti.” (Miquéias 6.8)

Uma questão de grande interesse para os estudiosos é por que os primeiros cristãos abraçaram as Escrituras Hebraicas, o Antigo Testamento, não se limitando aos livros especificamente cristãos, o Novo Testamento. As razões para isso foram várias, sendo uma delas o reconhecimento de que os ensinos de Cristo e dos apóstolos estavam em perfeita consonância com os mais profundos valores religiosos e morais da fé judaica. Isso fica evidente de modo especial na área de espiritualidade, da qual os profetas têm alguns dos exemplos mais eloqüentes. A religiosidade veterotestamentária não só se evidencia por uma profunda devoção a Deus, mas por um componente interpessoal e ético que lhe confere grande riqueza espiritual e humana.

A passagem de Miquéias 6.1-8 é uma das expressões mais significativas do que havia de melhor e mais nobre nessa espiritualidade, que ia muito além do legalismo e do formalismo religioso que pode ser sugerido por outras partes do Antigo Testamento. O versículo 8 é particularmente significativo porque sintetiza em poucas palavras aquilo que é dito ao longo de muitas páginas em outros trechos. É uma passagem-síntese que destila algumas das ênfases mais sublimes das Escrituras. Após abordar algumas das práticas e convicções mais caras à mentalidade religiosa judaica, o profeta mostra o que realmente importa aos olhos de Deus, e o faz na forma de três elementos essenciais.

Que pratiques a justiça
O conceito de justiça é um dos temas-chave de toda a Bíblia. Significa fazer o que é certo, e mais especificamente ter relacionamentos corretos, com Deus e com os seres humanos. Praticar a justiça significa honrar a Deus e observar os seus preceitos, mas também inclui respeitar e defender a vida, a integridade e os direitos dos semelhantes, quaisquer que estes sejam.

Que ames a misericórdia
Se a primeira exortação tem como alvo Deus e os seres humanos, esta segunda volta-se exclusivamente às pessoas. A implicação é que aquilo que fazemos aos que nos cercam é importante para Deus e tem profundas conseqüências para a vida espiritual. Não existe na Bíblia uma fé divorciada dos deveres de solidariedade, compaixão e simpatia para com o próximo.

Que andes humildemente com o teu Deus
Assim como o primeiro preceito se volta para Deus e o ser humano, e o segundo especificamente para o próximo, o terceiro se concentra de modo especial em Deus. Essa última exortação ensina que a principal atitude a termos diante do Ser Supremo é a humildade, o reconhecimento das nossas próprias limitações, fragilidade e mortalidade, que contrastam com a grandeza majestosa do Excelso.

Que conclusões podemos tirar acerca dessa rica espiritualidade ensinada pelo profeta Miquéias e secundada por muitas outras passagens bíblicas?

1. É uma espiritualidade pessoal, como fica evidenciado pelo vocativo “ó homem” e pelo uso da segunda pessoa do singular. Aqui, cada ser humano é conclamado a abraçar os melhores valores e comportamentos para a sua vida, espontaneamente, atraído pela beleza daquilo que é bom, daquilo que Deus requer.

2. É uma espiritualidade relacional, ou seja, embora pessoal e individual, não é individualista. Volta-se para o outro, seja ele o Supremo Outro, Deus, ou o nosso próximo. É uma religiosidade que se manifesta e se enriquece no relacionamento caloroso e altruísta com outras pessoas.

3. É uma espiritualidade ética. Religião é mais que moralidade, mas se não incluir um elemento ético, não pode ser religião verdadeira. A espiritualidade bíblica não é meramente mística ou contemplativa, mas engajada, concreta; não é relativista, mas tem noções claras de certo e errado, acredita em valores absolutos.

4. Finalmente, é uma espiritualidade teocêntrica. Deus é tanto o seu fundamento, o seu ponto de partida, quanto o seu alvo mais elevado. Dele vem a motivação, a sabedoria e as forças para os melhores atos que podemos praticar. Ele é o objeto supremo da nossa devoção. A ele temos de prestar contas das nossas ações.

Que nós possamos cultivar essa espiritualidade genuína, uma espiritualidade que dá prioridade a Deus, aos relacionamentos e aos valores que dão sentido à existência humana.

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