Ao ouvir esta frase, a maioria dos crentes tremem na base. Entendem que o termo “ungido” é uma referencia exclusiva a figura de um pastor ou pastora, e em contra-partida a maioria dos pastores também entendem assim e muitos se utilizam do termo para fazer um terrorismo psicológico, colocando os membros de “sua” igreja numa posição de submissão total, não permitindo a ninguém questionar seus atos, suas convicções, seus ensinos e muito menos seus projetos pessoais em relação a caminhada da igreja. Muitos crentes se calam, não se manifestam, pecam pela omissão, temem serem duramente castigados por Deus, caso se coloquem numa posição de oposição aos ideais do líder, muitas vezes contrários aos desejos e anseios da comunidade.
Para esses crentes o “ungido” está numa posição de destaque e privilégios diante de Deus, podendo fazer o que bem quiser pois está imune a qualquer castigo ou repreensão. Isto para mim é uma absurdo sem tamanho e a principal causa de tantos escândalos envolvendo pastores na atualidade. Muitos pastores e líderes se utilizam de versículos isolados para criarem uma imunidade espiritual, imunidade essa que os colocam acima de qualquer dúvida ou questionamento. Dando a eles o direito de agirem ou falarem qualquer coisa, como sedo representantes diretos de Deus na terra com liberdade total. Em contra partida Deus envia uma maldição ou grande castigo sobre a vida daquele que ousar questionar seus ensinos e atitudes, mesmo quando o pastor ou o líder está agindo de forma contrária ao seu chamado, aos regimentos da instituição, impondo sua vontade de forma opressora, tomando decisões baseadas apenas em sua própria convicção e projetos pessoais, não dando a igreja o direito de se posicionar. É muito comum nesses casos ouvirmos de membros da própria comunidade, que não podemos fazer nada a respeito, a não ser orar a Deus e esperar que Deus intervenha de alguma forma, se Ele assim quiser, enquanto isso a igreja se cala, se submete e nada faz.
O mais intrigante é que sempre que citam esta frase, pergunto: OK, onde está escrito isso? de onde vem este ensinamento que pastor pode tudo? que ele está acima do bem e do mal e só Deus pode tomar alguma atitude contra ele? e para surpresa quase ninguém sabe, a maioria apenas diz que na bíblia está escrito: “Ai daquele que se levantar contra o ungido de Deus”, sem citarem a referencia.
Alguns obedecem por ignorancia do assunto, outros por medo da repreensão de Deus, e ainda tem os que por estarem numa zona de conforto em suas vidas profissional e financeira, e quando confrontados a defenderem suas convicções e diante do “risco” de perderem as “bençãos”, mesmo que isso signifique se calarem e assistirem a entrada de heresias e falsos ensinos no seio da comunidade afetando a fé de pessoas simples e sinceras, mesmo assim sobem no muro e optam por preservarem as “bençãos” adquiridas.
E quanto a referencia bíblica? Então vamos lá!
-”Lembrai-vos perpetuamente da sua aliança e da palavra que prescreveu para mil gerações; Da aliança que fez com Abraão, e do seu juramento a Isaque; O qual também a Jacó confirmou por estatuto, e a Israel por aliança eterna, Dizendo: A ti te darei a terra de Canaã, quinhão da vossa herança. Quando eram poucos homens em número, sim, mui poucos, e estrangeiros nela, Quando andavam de nação em nação, e de um reino para outro povo. A ninguém permitiu que os oprimisse, e por amor deles repreendeu reis, dizendo: Não toqueis os meus ungidos, e aos meus profetas não façais mal”. 1 Crônicas 16:15-22 ( encontra-se também no Salmos 105)
Como podemos notar o texto é uma citação de Davi em um de seus cânticos, referindo-se Abraão e sua decendência, numa época distinta, num contexto histórico onde o seus “ungidos” (escolhidos) encontravam-se em posição de inferioridade em todos os sentidos, eram presa fácil nas mãos dos inimigos e corriam o risco de serem facilmente destruídos e dizimados da face da terra. Mas qual é o significado de “tocar”? Bem, a mensagem foi dada para as poderosas nações por onde o povo hebreu passava, até então um pequeno grupo de nômades, para que não os saqueassem, o matassem ou o roubassem, enquanto seguiam em suas peregrinações. “Tocar” significava, no contexto, agredir fisicamente a Abraão e a sua família. (Exatamente o que Davi não fez com Saul, não tocou e nem o matou, mesmo tendo oportunidade para isso) Para quem Deus fez a advertência de não “tocar” os ungidos e maltratar os profetas? Aos reis estrangeiros.
Isso é tudo o que diz a passagem, mesmo com uma análise superficial do texto, percebemos que isso não tem nada a ver com a proibição de confrontar, repreender, denunciar, questionar ou afastar-se de um líder religioso que torce os ensinamentos de Cristo.
Infelizmente este versículo é muito usado hoje, apesar de fazer referência a um povo, numa época e situação específica.
Se quisermos transportá-lo para nossa época, teremos que aplicar a qualquer cristão, da mesma forma que “ungido” se referia a nação de Israel, hoje estaria se referindo a igreja. Se um de nós se levantar contra qualquer pessoa ou pastor, perseguí-la, maltratá-la, agredir fisicamente e psicológicamente, iremos sofrer as consequências de nosso ato por não obedecermos ao Evangelho, que nos ensina a amar e perdoar, independente da posição que a pessoa ocupe. A Bíblia nos permite tanto questionar os ministros, como também confrontá-los, quando vemos que há um sério erro doutrinário ou da ética em suas vidas. Isso está de forma clara na Palavra de Deus: - “Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente para que sejam sãos na fé” (Tito 1:13).
- “Que pregues a palavra; que instes a tempo e fora de tempo; redarguas, repreende, exorta com toda paciência e doutrina” (2 Timóteo 4:2-3)
- “Como te roguei, quando parti para a Macedônia, que ficásseis em Éfeso para advertires a alguns, que não ensinassem outra doutrina” (1 Timóteo 1:3)
Temos o direito de questioná-los. E também o direito de abandoná-los e sair de baixo de sua “autoridade espiritual” caso se recusem a corrigir a sua conduta imoral ou ensinamentos torcidos.
Vejamos o que Jesus Cristo nos ensina a respeito:
- “Deixe-os; são condutores cegos; ora se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova” (Mateus 15:14).
Experimente discordar da maioria dos líderes para ver o que acontece. Se rapidamente vc não é afastado das atividades, taxado de crente problema, hostilizado e ignorado até pela comunidade que vc serviu tantos anos, que passa a te ver como um amaldiçoado e o pior dos pecadores, porque ousou se levantar contra o “ungido” de Deus?
Paulo ao relatar em sua carta que repreendeu Pedro por causa da hipocrisia, o fez para servir de exemplo (Gálatas .2).
Quando Pedro se tornou repreensível, mesmo Jesus tendo chamado-o para apascentar suas ovelhas (Jo 21:16), apesar de ser mais velho na fé, mesmo assim Paulo o repreendeu na frente de todos e mais, ele aceitou quieto.
Muitos líderes autoritários usam o argumento de “não toqueis nos meus ungidos” para não serem questionados.
O rei Davi era ungido e foi repreendido. Davi não matou Saul, mas também não se submeteu as suas loucuras, de certa forma ele questionou Saul com seu comportamento!
Quando a Bíblia Sagrada diz:
“Obedecei a vossos pastores, e sujeitai-vos a eles; porque velam por vossas almas, como aqueles que hão de dar conta delas; para que o façam com alegria e não gemendo, porque isso näo vos seria útil”. (Hebreus 13:17)
Este versículo sempre é colocado como complemento, para justificar 1 Crônicas 16 15-22 muitos entendem esta obediência e sujeição cega e incondicional a qualquer pastor, mas se voltarmos um pouco atras no texto veremos: “Lembrai-vos dos vossos pastores, que vos falaram a palavra de Deus, a fé dos quais imitai, atentando para a sua maneira de viver”.(Hebreus 13:7) Nossa obediência e sujeição está condicionada aos ensinamentos recebidos deles da Palavra de Deus, quando os pastores são exemplos de vida para nós, nos mostram com ensinamentos e atitudes o caminho certo a seguir, de maneira clara nos orientam sobre as ciladas das doutrinas, muitas vezes criadas por homens, quando não incentivam a igreja a modismos, mas pregam o evangelho simples, sempre tendo a bíblia como regra de fé, pois fazendo isso estão velando por nossas almas. Em 1 Cronicas 16:15-22, após a declaração de “não toqueis os meus ungidos”, o texto continua com outra advertencia que nunca é mecionada: “…e não maltrateis os meus profetas.”
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