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Magazine na Lanterna

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Centurião e os Guardas

Ibis ad crucem." "Irás para a cruz." Com esse decreto selou-se o destino físico do Senhor. Ele, como milhares, antes e depois dele, dirigia-se ao "lugar da caveira", escoltado por um quaterno, um grupo de quatro soldados romanos. À medida que as coisas foram acontecendo no Calvário, podiam-se ver duas outras cenas completamente opostas: os guardas lançando sorte de um lado e o centurião se confessando, do outro. Segundo a tradição, os guardas ficavam com os pertences do condenado. Esperaria-se poucos bens de alguém que dizia: As raposas têm seus covis, e as aves do céu, ninhos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça" (Lucas 9:58). Dinheiro, nenhum. Jóia nenhuma. Não fazia mal. Aqueles soldados apostarão com alegria sobre qualquer coisa de valor que esse Rei possa ter (João 19:23-24). Como Caifás, antes deles, eles eram personagens inconscientes na concretização da profecia (João 11:49-52). Como milhares após eles, eles mostravam uma visão triste e sinistra da religião.

Simplesmente, para os guardas, o Salvador era uma fonte. Seus discípulos são muitos S vendo o Salvador (e a religião em geral) como algum tipo de máquina divina movida a fichas. O cristianismo se reduziu a um caso de egoísmo e interesse pessoal. O Salão Social me alimentará. O Centro de Apoio à Família me exercitará. O Culto me entreterá. Os grupos de Apoio e Recuperação me curarão. O Serviço de Aconselhamento me dará incentivo. E ninguém me rejeitará.

"O que eu ganho com isso?" virou o lema da época. Muito do sistema religioso de nossos dias parece estar edificado sobre a crença de que somos felizes de ser cristãos porque Deus nos abençoa materialmente. Não estamos tratando o amor de Deus e o sangue de Cristo como artigos de pouco valor quando brincamos com jogos ao pé da cruz? "Se você me ama, Senhor, eu quero um carro novo. Um emprego melhor. Uma família feliz. Uma saúde perfeita. Um salário maior. Umas férias tranqüilas. Pode ser qualquer dos itens acima ou todos eles em conjunto."

E o Salvador deve chorar.

Como puderam S como podemos S esquecer daquilo que Paulo classificou como da maior importância "que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras" (1 Coríntios 15:3)? Como puderam S como podemos S estar tão próximos do sangue redentor, santificador e purificador (Efésios 1:7; Hebreus 13:12; 1 João1:7) e estar preocupados com nossos interesses pessoais?

Que nunca possa ser afirmado a nosso respeito, como um autor disse acerca desses lançadores de sorte: "Tão próximos do madeiro, mas tão distantes do sangue. Tão perto da cruz, mas tão longe de Cristo".

A Confissão do Centurião

Num dia normal, ele estaria dando ordens a cem dos mais excelentes guerreiros romanos, não supervisionando um esquadrão de morte composto de quatro homens. Mas esse dia não é como os demais. Era impossível chegar ao cargo de centurião sem ficar familiarizado com a morte. Com certeza ele tinha visto homens morrer. Tinha ouvido o desespero deles quando a dor sobrepujou a coragem. Ele tinha-os ouvido amaldiçoar os soldados que os crucificaram, o pai e mãe, o dia em que nasceram. E os tinha ouvido amaldiçoar a Deus. Mas esse dia ele ouviu o Filho de Deus.

Ele ouviu o Salvador oferecer perdão à multidão e esperança a um ladrão. Ele o ouviu tomando providências para que sua mãe não ficasse desamparada. Ele ouviu o brado de vitória e a oração de fé no Pai. E diga o que disser sobre o centurião, nada daquilo que presenciou foi perdido.

Será que o centurião tinha visto Jesus ressuscitar mortos, andar sobre as águas ou dar vista aos cegos? Não sei. Mas viu Jesus morrer. Ele ouviu o grito de vitória, sentiu o chão tremer e ficou espantado com a negridão que havia tomado o lugar do sol do meio-dia. Para o centurião, a prova era absoluta, e a conclusão óbvia: "Verdadeiramente, este homem era o Filho de Deus" (Marcos 15:39).

A promessa de Jesus já estava sendo cumprida: "E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim mesmo" (João 12:32). De todas as coisas do mundo de Deus, é a cruz que não pode ser menosprezada. É a cruz que desmascara a perversidade do pecado, a natureza hedionda de nossos crimes contra Deus. É na cruz que Deus se "fez pecado por nós" e na cruz que ele carregou "em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados" (2 Coríntios 5:21; 1 Pedro 2:24). É na cruz que vemos o grau de amor que Deus tem pela humanidade (Romanos 5:8). Até mesmo por um velho centurião encrostado. E até por você e por mim. Como podemos nos distanciar da cruz? Como podemos aproximar-nos da cruz por interesse pessoal? Como podemos deixar de confessar junto com o centurião: "Verdadeiramente, este homem é o Filho de Deus!"?

Mas talvez a verdadeira questão é: o que o centurião fez com a sua nova fé? Será que simplesmente voltou para o quartel-general e registrou os acontecimentos daquele dia em meio a uma carreira cheia de lembranças? Ou será que sete semanas depois seria encontrado em meio à multidão, ouvindo um sermão comovente que convocava ao arrependimento, mais uma vez confessando a sua fé S e agora fazendo aquela confissão anterior ao batismo para a salvação? Espero que sim. E espero que você faça o mesmo.

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