Aborto clandestino mata 200.000 brasileiras todo ano
As religiões em geral têm todo o direito de se posicionar contra o aborto e utilizar todos os meios legítimos para impedir sua legalização, mas também não podem lavar as mãos diante do custo humano, social e econômico que essas estatísticas assustadoras apontam: 200 mil mulheres morrem todos os anos no Brasil, vítimas de abortos clandestinos realizados nas piores condições. São geralmente mulheres de estratos economicamente inferiores, já que as mais ricas raramente se expõe a esse tipo de risco, e quando o fazem podem pagar pela sua minimização. O discurso anti-aborto não pode se transformar em uma bandeira ideológica quando a igreja pode oferecer outras opções a essas mulheres. É muito cômodo dizer que a morte é o castigo que elas merecem pelo seu pecado, ignorando o impacto que esse morticínio de mulheres em idade ativa provoca na sociedade como um todo. Fingir que o problema não existe é tão omissão como tolerar que o aborto seja praticado indiscriminadamente. É preciso oferecer a elas, então, outras opções que não o aborto clandestino. Assistência social, entrega para adoção, seja lá o que for, a sociedade brasileira como um todo, e a igreja em particular, tem a obrigação de encontrar e oferecer outra saída que não a do matadouro. A ideologização da questão do aborto, como mercadoria de troca e discurso de palanque em ano eleitoral, é a pior atitude em relação ao problema. Ou se enfrenta com seriedade a realidade das clínicas clandestinas, ou - para salvar milhares de fetos - outros tantos milhares morrerão juntamente com suas mães. Não existe solução fácil, mas ela não pode ser evitada nem ignorada como se nada estivesse acontecendo no Brasil. A notícia é do Estadão:
ONU critica legislação brasileira e cobra país por mortes em abortos de risco
Entidade destacou o fato de 200 mil mulheres morrerem em cirurgias clandestinas anualmente
Jamil Chade
GENEBRA - O governo de Dilma Rousseff foi colocado nesta sexta-feira, 17, contra a parede pelos peritos da ONU, que acusam o Executivo de falta de ação sobre a morte de 200 mil mulheres por ano por conta de abortos inseguros e pedem que o País supere suas diferenças políticas e de opinião para salvar essas vítimas.
A entidade realizou seu exame sobre a situação das mulheres no Brasil e não poupou críticas ao governo. "O que é que vocês vão fazer com esse problema político enorme que tem?", cobrou durante a plenária a perita suíça Patricia Schulz.
Para os especialistas da ONU, a criminalização do aborto está ligada à alta taxa de mortes por ano.
Pressionada domesticamente pela CNBB e parte do Congresso, a ministra da Secretaria de Políticas para a Mulher, Eleonora Menicucci, em suas cinco horas de debates em Genebra, não concedeu mais de dois minutos para tratar do assunto. Um dia antes da reunião, a nova ministra disse que não abria mão de suas convicções pessoais em relação ao aborto. Mas garantiu que apresentaria à ONU as "diretrizes do governo".
Nesta sexta-feira, ao ser pressionada pelos peritos, limitou-se a dizer que o tema não era do Palácio do Planalto. "Essa é uma questão que não diz respeito ao Executivo, mas sim ao Congresso. Há um projeto de lei em tramitação e sabemos da responsabilidade de prevenir mortes femininas e maternas ", se limitou a dizer. No início de março, a entidade publicará suas recomendações ao Brasil, a partir do que escutou.
A ministra admitiu que o aborto estava entre as cinco principais causas de mortes de mulheres no Brasil, enquanto uma representante do Ministério da Saúde indicou que existem em funcionamento 60 serviços credenciados para realizar abortos dentro da lei e que essa rede será ampliada.
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