As Desculpas de MoisésTentando Fugir da Responsabilidade
Moisés nasceu num momento crítico. O povo dele, os descendentes de Abraão escolhidos para receber grandes promessas, estava sofrendo terrivelmente. Os egípcios dominavam os hebreus com tirania, e até matavam os filhos recém-nascidos para controlar o crescimento da nação escrava. A mãe de Moisés escondeu o próprio filho e, depois, deixou que ele fosse adotado por uma princesa do Egito.
Moisés viu a injustiça e tentou defender seu povo. Ele matou um egípcio que espancava um dos hebreus, imaginando que o povo lhe daria apoio. Mas, o povo medroso não entendeu o que Moisés queria fazer, e ele tinha que fugir do Egito. Dos 40 aos 80 anos de idade, ele ficou longe do Egito, servindo como humilde pastor de ovelhas. Neste tempo, ele casou e teve filhos. Talvez ele conseguiu esquecer um pouco do sofrimento dos parentes no Egito. Até um dia, quando Deus apareceu no monte Sinai, numa moita que ardia; mas não se queimava. Deus mandou que Moisés descesse para o Egito para livrar o povo da escravidão.
Moisés, com 40 anos de idade e com todo o vigor físico e o desejo ardente de ajudar os parentes, não conseguiu fazer nada. Agora, com 80 anos, vai fazer o que? Vai entrar na presença do rei (faraó) do país mais poderoso do mundo e exigir a libertação de milhões de escravos? Moisés se considerava um libertador pouco provável, e começou a oferecer suas desculpas ao Senhor. Vamos examinar as cinco desculpas que ele deu, e a maneira que Deus respondeu a cada uma. O relato se encontra em Êxodo 3 e 4.
Quem sou eu? "Então, disse Moisés a Deus: Quem sou eu para ir a Faraó e tirar do Egito os filhos de Israel?" (Êxodo 3:11). Que convite para uma pregação positiva! Dá para ouvir alguns pastores, hoje em dia, fazendo belas pregações elogiando tal pobre sujeito que não reconhece sua força interior. "Você é alguém", diriam para Moisés. "Com pensamentos positivos, você pode realizar seus sonhos." Mas esses pastores não estão pregando a palavra do Deus que chamou Moisés. Deus não elogiou Moisés. Ele não fez algum grande discurso para mostrar que Moisés era alguém. Deus, implicitamente, concordou com Moisés. É verdade. Você não é ninguém. Mas eu sou o Criador do universo e "Eu serei contigo" (Êxodo 3:12).
Muitas pessoas recusam cumprir os papéis que Deus lhes tem dado, porque se julgam incapazes. Olham para outras pessoas mais talentosas e acham desculpas por não fazer a vontade de Deus. O fato é que sempre encontraremos ao nosso redor pessoas mais inteligentes, mais fortes, mais eloqüentes e mais conhecidas. Mas, Deus nunca usou tais qualidades para medir seus servos. Ele não quer pessoas auto-confiantes, mas pessoas que confiam nele. Se você tende a fugir da responsabilidade porque não é ninguém, está olhando na direção errada. Pare de olhar no espelho para ver suas limitações, e comece a olhar para Deus Todo-Poderoso.
O que direi? Deus respondeu à primeira desculpa, e Moisés já ofereceu a segunda. Tudo bem, eu vou lá para falar com o povo sobre a libertação, e eles vão perguntar para mim. Vão querer saber o nome do Deus que me enviou. O que eu direi para eles? (Êxodo 3:13).
Os egípcios serviam muitos deuses, e os hebreus foram corrompidos pela influência deles (Josué 24:14). Para alguém chegar no meio deles e dizer que "Deus me mandou" seria uma mensagem vaga. Ao mesmo tempo, Deus já tinha se identificado para Moisés (Êxodo 3:6). Da mesma maneira que Deus usa muitas descrições de Si nos outros livros da Bíblia, ele usou várias neste capítulo. Além de ser o Deus de Abraão, Isaque, Jacó e do pai de Moisés (Êxodo 3:6), Ele se descreve como "Eu Sou o Que Eu Sou" (Êxodo 3:14). Esta descrição, a mesma usada por Jesus Cristo em João 8:24 e 58, é uma afirmação da eternidade de Deus. Ele é, e sempre existirá. Mais ainda, Deus usou o nome traduzido na maioria das Bíblias atuais com maiúsculos: SENHOR. Este nome vem do tetragrama, ou nome de quatro letras (YHWH). Sem vogais, ninguém sabe a pronuncia correta deste nome (alguns sugerem Javé). Alguns séculos depois de Moisés, os judeus acrescentaram vogais e começaram pronunciar o nome como "Jeová". A tradução grega do Antigo Testamento usa a palavra "Kyrios" que é traduzida em nossas Bíblias como "Senhor".
Algumas pessoas hoje, incluindo as Testemunhas de Jeová, têm insistido que "Jeová" ou alguma forma semelhante é o único nome de Deus, e que devemos usar este nome exclusivamente. Usam passagens como Êxodo 3:15 ("este é o meu nome eternamente"). Algumas observações na Bíblia Sagrada mostram claramente que Deus não estava dizendo que os servos Dele usassem este nome como a única maneira de falar sobre Deus. Outras passagens usam diversos nomes ou descrições de Deus, mostrando seu poder, sua eternidade, etc. Um versículo é suficiente para provar o erro da doutrina de "um único nome" para Deus. Amós 5:27 diz: "...diz o SENHOR, cujo nome é Deus dos Exércitos". Se o próprio SENHOR (YHWH) diz que seu nome é Deus (Elohim) dos Exércitos, nenhum homem tem direito de proibir o uso de descrições bíblicas de Deus. Para tirar qualquer dúvida, podemos ver o exemplo de Jesus. Ele citou, várias vezes, a tradução grega do Velho Testamento, que usa a palavra Kyrios (Senhor) no lugar de YHWH. (Por exemplo, ele cita a Septuaginta, que usa a palavra Kyrios, em Marcos 12:11). Mais uma observação nos ajudará: o nome YHWH não aplica somente a Deus Pai, como alguns falsos mestres sugerem. Mateus 3:3 fala sobre o papel de João Batista em preparar o caminho de Jesus Cristo, e cita Isaías 40:3. YHWH (Javé ou Jeová) de Isaías 40:3 é Jesus!
A resposta do Senhor a Moisés não foi dada para sugerir que haveria apenas um nome oficial de Deus. O Deus eterno e soberano queria se destacar dos falsos deuses adorados pelos egípcios e até pelos próprios hebreus.
Eles não crerão! A terceira desculpa de Moisés mostra que ele continua preocupado com sua própria credibilidade. Eles não crerão na minha palavra, ele diz (Êxodo 4:1). Deus reconheceu que esta preocupação era válida, e ofereceu três sinais para confirmar a palavra de Moisés (Êxodo 4:2-9). O bordão se transformou em serpente, a mão se tornou leprosa e a água tirada do rio se tornou em sangue. Esta é a primeira vez na Bíblia que Deus concedeu ao homem o poder para realizar milagres. O propósito dos milagres é bem explicado pelo contexto: para confirmar a palavra falada. Quando Elias e Eliseu introduziram a época de profecia do Velho Testamento, realizaram milagres. Quando Jesus e os apóstolos introduziram o evangelho, operaram vários sinais. Os milagres deles tinham o mesmo propósito: "...confirmando a palavra por meio de sinais..." (Marcos 16:20); "... a salvação, ... tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram; dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e vários milagres e por distribuições do Espírito Santo..." (Hebreus 2:3-4). Quando Deus mandou pessoas com novas revelações, ele confirmou a palavra com sinais milagrosos.
Eu nunca fui eloqüente! Moisés ainda não foi convencido (Êxodo 4:10). Mesmo depois de ver os sinais, ele tinha dúvida! Parece que ele não conseguiu entender que o mensageiro não é ninguém. É a mensagem que importa. Sobre esta desculpa de Moisés, podemos observar: Que não tinha base em fato. Estêvão , comentando sobre os primeiros anos da vida de Moisés, disse que ele "foi educado em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em palavras e obras" (Atos 7:22). Que não tinha importância. Mesmo se Moisés havia esquecido tudo que já aprendeu e não se achava eloqüente, foi o Senhor que fez a boca do homem (Êxodo 4:11). O mesmo Deus que concedeu dons miraculosos para Moisés, o mesmo que fez o universo, o mesmo que escolheu o povo de Israel e o mesmo que apareceu na sarça ardente fez a boca do homem. Deus controlaria a língua de Moisés para comunicar o que Ele queria.
Ainda hoje, os homens tendem a supervalorizar a eloqüência. Enfatizam a homilética ao invés de ensinar como estudar e entender as Escrituras Sagradas. Em muitos púlpitos, a embalagem se tornou mais importante do que o produto.
Ainda hoje, os homens tendem a supervalorizar a eloqüência. Enfatizam a homilética ao invés de ensinar como estudar e entender as Escrituras Sagradas. Em muitos púlpitos, a embalagem se tornou mais importante do que o produto.
Paulo recusou valorizar a eloqüência acima do conteúdo: "Eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem ou de sabedoria. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E foi em fraqueza, temor e grande tremor que eu estive entre vós. A minha palavra e a minha pregação não consistiram em linguagem persuasiva de sabedoria, mas em demonstração do Espírito e de poder, para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana, e sim no poder de Deus" (1 Coríntios 2:1-5).
Observamos a mesma coisa quando estudamos as qualificações de obreiros na igreja (presbíteros, diáconos, etc.). Deus quer homens com conhecimento que mostram obediência nas suas vidas (1 Timóteo 3:1-13; Tito 1:5-9; Atos 6:3). Os homens querem homens que têm sido formados em seminários e institutos de teologia. Vamos seguir a sabedoria de Deus ou a dos homens?
Envie aquele que hás de enviar, menos a mim! Pode ser que as primeiras "desculpas" de Moisés mostraram uma preocupação válida sobre sua própria capacidade. Assim, Deus respondeu a cada objeção que ele ofereceu. Mas, agora, ele ultrapassou o limite. Moisés não tinha mais motivo para recusar, mas ainda não queria assumir a grande responsabilidade de tirar o povo do Egito. Quando Moisés pediu que Deus enviasse outro, o Senhor se irou contra ele. Ele resumiu todas as outras respostas, dizendo que tinha o bordão, que Arão iria com ele, etc. e mandou que Moisés fosse.
É natural se sentir inadequado para as responsabilidades da vida. Muitos homens não se sentem capazes de ser bons maridos e pais. Muitas mulheres não querem assumir a grande responsabilidade de ser donas de casa e mães dedicadas. Muitos cristãos têm medo de ensinar a palavra de Deus, de corrigir um irmão ou de ajudar com os problemas dos outros. Mas, nem sempre dá para fugir! Às vezes, somos as pessoas indicadas para determinados trabalhos. O pai de família tem que protegê-la. A mãe de filhos tem que cuidar deles. Os pastores de igrejas têm que alimentar e proteger as ovelhas.
E se fugirmos da responsabilidade que Deus tem nos dado? A ira do Senhor se acendeu contra Moisés. Será que ele ficará contente conosco, se recusamos fazer a vontade Dele?
Conclusão: Moisés obedeceu! Depois de todas as desculpas, Moisés fez o que Deus pediu. Ele era um servo fiel na casa do Senhor (Hebreus 3:5), e ainda é um bom exemplo para nós. Às vezes, somos tentados a fugir de alguma responsabilidade. Daqui para frente, vamos procurar ser servos fiéis, fazendo tudo que Deus pede de nós. O poder não está em nós, porque realmente não somos ninguém. O poder está em Deus. Precisamos aprender o que o apóstolo Paulo aprendeu: "tudo posso naquele que me fortalece" (Filipenses 4:13).
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